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Linguagista

Tradução: «fabric»

A Syriza em cima do bolo

 

 

      «Numa reportagem publicada na sexta-feira no jornal Guardian, a freira [Teresa Forcades i Vila] disse admirar o o [sic] partido de esquerda radical grego Syriza. “A crise económica em Espanha chegou a um ponto que ameaça o fabrico da sociedade. Isso também aconteceu na Grécia”, disse ao diário britânico» («A freira catalã que quer nacionalizar a banca», Albano Matos, Diário de Notícias, 19.05.2013, p. 24).

      A freira falou sempre em inglês, e, quanto ao que nos interessa, disse: «The economic crisis in Spain has got to a point where it threatens the fabric of society.» Pena que, assim traduzido, nada signifique em português. Fabric traduz-se, no contexto, por «estrutura». Mais: tanto quanto vejo, nenhuma das acepções do termo inglês se traduz por «fabrico». Estes é que são erros graves, porque comprometem irremediavelmente a compreensão da frase.

 

 

 [Texto 2861]

«Combustível naval»

Agrícola, florestal, naval...

 

 

      «A Ecoslops Portugal, empresa com sede em França, está a construir no porto de Sines uma fábrica para produzir combustível naval a partir dos óleos residuais recolhidos nos navios de carga, aproveitando material que atualmente é incinerado» («Resíduos dos navios transformados em combustível naval», Diário de Notícias, 19.05.2013, p. 33).

      Não sabia que havia combustível naval. Enfim, acho sempre curioso o uso de adjectivos nestes casos. Só conhecia o «gasóleo agrícola», que, na verdade, se destina a maquinaria usada na agricultura, na floresta e nas embarcações, ou pelo menos em algumas, e só difere do outro na cor e por ter um aditivo. Mas este «combustível naval» é diferente.

 

[Texto 2860]

«Statu quo»

É melhor não

 

 

      «José Alberto Carvalho e Judite Sousa empreenderam nos últimos anos uma tal remodelação na abordagem de Queluz de Baixo à atualidade que se torna quase heroico só agora terem dado razões de queixa ao status quo cessante» («Queluz de Baixo», Joel Neto, Diário de Notícias, 19.05.2013, p. 52).

      Já tive oportunidade de o dizer mais de uma vez, mas cá vai de novo: está errado, mesmo que haja dicionários a dizerem que está correcto. Como é que o ablativo da expressão latina completa, in statu quo ante, passava a nominativo na expressão reduzida, não querem explicar-me? Não sabem, não inventem.

 

[Texto 2859] 

«Grande Maçã»

Vá, agora agradeçam-lhe

 

 

      «Foi na Grande Maçã que [Madalena da Suécia] conheceu o corretor de bolsa, tendo o romance começado no início de 2011» («O príncipe plebeu que salvou a princesa sueca», Raquel Costa, Diário de Notícias, 19.05.2013, p. 53).

      Grande Maçã, muito bem. Mas agora reparem como já não se pode ser somente «corretor», mas «corretor de bolsa». Tudo graças ao Acordo Ortográfico de 1990.

 

[Texto 2858]

«Malvisto»

Nem sempre mal, só 99 %

 

 

      «Em Portugal [os hambúrgueres] foram malvistos e renasceram, cada vez mais especializados mas baratos» («A nova vida do hambúrguer», Ricardo J. Rodrigues, Notícias Magazine, 19.05.2013, p. 36).

      É raro ver-se bem escrito. Normalmente, a coisa é mal vista — e fica «mal visto».

     «[...] a frouxidão do Governo animando os inimigos do rei e os desafectos ao systema, involveram quasi duas provincias: e mais teria progredido se a decisão de alguns generaes, que por isso mesmo foram malvistos e quasi perseguidos pelo governo, lhes não pozesse limites, e os não desfizesse completamente» (Obras Completas: Prosas, Almeida Garrett. Lisboa: Empresa da História de Portugal, 1904, p. 566).

 

[Texto 2857]