Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Léxico: «efundula»

E «muchique»?

 

 

      Tenho de voltar à Feira do Livro para comprar um exemplar do Dicionário de Etnologia Angolana, de Eduardo Parreira, publicado pela Plural Editores/Porto Editora. Ainda na semana passada revi um texto em que foi usada a palavra «efundula», que vem do cuanhama e está registada no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Pois, mas «muchique» onde está e o que significa? (Ah, sim: efundula é o nome que se dá à cerimónia, que durava quatro dias, anunciadora da chegada da puberdade das raparigas cuanhamas.)

     O desconto que fazem no preço do dicionário vai dar para comprar um churro... mas esperem: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora assegura que a etimologia de «churro» é sordĭdu-, «sujo». Fantasias. O étimo é castelhano, e nesta língua considera-se que provém de voz onomatopeica.

 

[Texto 2881]

Rima exótica

Não confere

 

 

      Ontem, um conhecido desembargador subia a Alameda Edgar Cardoso e parou junto de um banco. Cansado, de olhar desconfiado e abdómen proeminente. Despiu o casaco, arregaçou as mangas da camisa, voltou a vestir o casaco e foi-se embora. Foi a única pessoa conhecida (Rui Lagartinho já se tinha ido embora) que vi a caminho da Feira do Livro, onde comprei, entre outros, o Rimário d’«Os Lusíadas», de Fernanda Carrilho, de onde respigo: «Limitando-se a uma única ocorrência em todo o poema, surge a rima exótica, quando rima com palavras estrangeiras, mais precisamente como [sic] o soneto de Petrarca: tra la spica a la man, qual muro he messo (IX, 78, 8» (Lisboa: INCM, 2012, p. 26). No original, porém, está: «Tra la ſpica & la man, qual muro he meſſo.»

 

[Texto 2880]

Chancela, selo, marca...

Dicionário de sinónimos

 

 

      No Bom Dia Portugal de ontem, o repórter Rui Lagartinho (agora com um penteado um pouco excêntrico, puxado para cima) esteve a acompanhar os últimos preparativos para a Feira do Livro. «Uma pequena precisão. Quando se fala aqui em 480 editoras, não são na realidade 480 editoras, são os selos que cada editora tem, porque tem sido uma tendência cada editora ter várias colecções e vários selos próprios.»

      É a criatividade a impor-se. A receita parece-me bem simples: pega-se nos sinónimos e lá vai: selo, rubrica, marca, sinete, cunho, estampilha...

 

[Texto 2879]

Pronúncia: «cutelo»

Na pronúncia como no demais

 

 

      Jornalista João Botas, no Telejornal de ontem: «No local do crime, a polícia procura pistas que possam ajudar a explicar o assassinato com golpes de cutelo de um soldado britânico em plena luz do dia num bairro do Sul de Londres.» Se há mais de uma forma, escolhem sempre a pior. Mas vamos antes falar da pronúncia do vocábulo «cutelo». É aberto aquele e, mas o jornalista pronunciou-o bem fechado: /cutêlo/. Em dicionários antigos, até aparece com acento agudo sobre o e. Merecia ir para o Prontuário Sonoro, mas mais urgente eram limparem os erros que lá estão, como aquela grande estupidez do «uxorcida». Há 26 semanas que os avisei, e nada. Muito diligentes.

 

[Texto 2878]

O desgraçado verbo «haver»

Ao que isto chegou

 

 

      Nuno Carvalhinho, presidente da Associação Nacional de Pequenas e Médias Empresas (ANPME), considera as medidas positivas: «[...] e eu creio que vão haver empresas que vão aproveitar estes incentivos [...] e não deverão haver muitas empresas [...] eu acredito que sim, que vão haver empresas que vão fazer este tipo de investimentos.»

 

[Texto 2877]