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Linguagista

«O facto de»

Então, se é assim...

 

 

      «Por Charlie Sheen ter delapidado com escândalos o seu patronímico de duas gerações e por os nomes “latinos” serem hoje mais aceites nos EUA, assistimos a este regresso ao passado, oportunista como deve ser para quem está no mercado da fama» («O artista antes conhecido como Sheen», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 28.05.2013, p. 56).

      Estão a ver como Ferreira Fernandes não precisou de usar a muleta «o facto de»? Pois é. Por outro lado, porque há quase sempre outro lado, as aspas em «latinos» eram escusadas. Carlos Estévez não é um nome latino, ou seja, usado num país cuja língua deriva do latim e que foi influenciado pela civilização mediterrânica?

 

[Texto 2896]

«Verdade verdadinha»

Os nossos queridos diminutivos

 

 

      «Verdade, verdadinha, a Noruega teve de fazer 32 poços para conseguir descobrir as suas reservas [de petróleo]», disse Ferreira de Oliveira, vice-presidente da Galp. («Só falta encontrar crude em Portugal», Diário de Notícias, 28.05.2013, p. 33).

      Expressão curiosa, não é? Como curiosas são as expressões «franqueza franquezinha» e «certeza certezinha». Nem sempre aparecem separadas por vírgulas.

  1. «E, verdade verdadinha, antes obedecer aos astros do que a outros. A nossa obediência aos astros é a um tempo involuntária e heróica. Involuntária, porque a vontade é a deles, e heróica, porque não há-de ser vencida pela dos humanos» (Nome de Guerra, José Almada Negreiros. Lisboa: INCM, 1986, p. 199).
  2. «– A sério, a sério, que não és capaz? Tens a certeza, Abel? A certeza certezinha?» (Contos da Montanha, Miguel Torga. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2011, 2.ª ed., p. 110).
  3. «E formulei-me a proposição debaixo de tais palavras, visto que sou animal de ar livre, de claridade, dos primeiros impulsos, da franqueza franquezinha, e dado o meio em que vivemos porque me sinto deslocado e fora do tempo» (Estrada de Santiago, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Bertrand Editora, 1985, p. 57).

 

[Texto 2895]

Léxico: «pasteleira»

É preciso ter força

 

 

      «Antigamente usavam-se as pasteleiras, o que requeria bastante mais esforço físico [diz a carteira Paula Pereira]» («“Os carteiros aproveitam e fazem manutenção ao corpo”», Joana Capucho, Diário de Notícias, 28.05.2013, p. 56).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, encontramo-lo no verbete de «bicicleta»: «bicicleta pasteleira: bicicleta pesada e robusta, com características que em geral já não são comuns em bicicletas actuais, como é o caso de sistemas de três velocidades, travões de alavanca e faróis alimentados com dínamo». Na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, ocorre explicitamente como substantivo: «Certa forma antiquada de bicicletas com o guiador alto, talvez por ter sido o seu uso comum entre os pasteleiros que faziam entregas aos domicílios» (Vol. XX, p. 571).

      E uma verdadeira pasteleira, daquelas pesadonas, uma Yé-Yé ou uma Vilar, não terá antes carreto simples?

 

[Texto 2894]

«Precursor/percussor»

Só faltou percursor

 

 

      «“Em 1991, o Curso de Chinês na Missão de Macau era quase o único existente em Portugal, mas hoje em dia, os cursos de chinês encontram-se por todas as partes de [sic] país. Recebo constantemente pedidos para ensino de mandarim, por parte de instituições ou particulares”, conta a docente universitária Wang Suoying, que em conjunto com o marido[,] Lu Suoying, foram percussores do ensino da língua chinesa em território nacional a partir do início da década de 90» («Mandarim, uma língua do futuro», Liliana Duarte, Público, 25.05.2013).

      Não temos de memorizar os milhares de caracteres do mandarim, mas alguma coisa temos de memorizar. Percussor é o que percute, o que bate, e precursor é o que vai adiante, o que anuncia ou faz algo com antecipação. Os Suoyings foram precursores do ensino do mandarim, porque foram os primeiros a ensinar, em Portugal, esta língua.

 

[Texto 2893]

Sobre «colégio»

Menos formal

 

 

      Ora vejamos: «Apesar de ter reunido um colégio de especialistas, que fez a despistagem das pinturas, a PJ não sabe ainda se o conjunto das pinturas foi feito por apenas um ou vários falsificadores» («Mais de 300 pinturas falsas de Palolo e Paula Rego apreendidas pela PJ», Vanessa Rato, Público, 25.05.2013, p. 28).

      «Colégio» remete sempre para uma ideia de corporação, de algo que permanece no tempo. O que a Polícia Judiciária fez foi contratar vários especialistas, e, até talvez de forma individual, ouvir a sua opinião sobre as pinturas.

 

 [Texto 2892]

«Falsos Palolo»?

Não pode ser

 

 

      Há diversos tipos de falta de concordância, de desconcordância. «De qualquer forma, a quantidade de falsos Palolo encontrados aponta para um inundar do mercado onde muitas das falsificações podem ter entrada [sic] há já bastante tempo» («Mais de 300 pinturas falsas de Palolo e Paula Rego apreendidas pela PJ», Vanessa Rato, Público, 25.05.2013, p. 28).

 

[Texto 2891]