Como se escreve nos jornais
Aos dois e aos três, e não chegam
«Regressado a Inglaterra, [Tom Sharpe] deu aulas durante uma década no Cambridge College of Arts and Technology, experiência que lhe seria de grande utilidade para a futura série de romances protagonizados por Henry Wilt, um académico frustrado com os alunos e com os colegas, desejoso de se livrar de uma mulher deveras vinculativa, e com uma propensão quase sobrenatural para se envolver em graves sarilhos com as autoridades, geralmente baseados em divertidos equívocos» («O romancista britânico Tom Sharpe, criador de Wilt, morreu ontem em Espanha», Luís Miguel Queirós, Público, 7.06.2013. p. 36).
«Mulher vinculativa»? Que é isto? Não li, e por isso não sei. Lembrei-me logo, eu sei lá, de má tradução, péssima aliás, de vindictive, «vindicativo» ou «vingativo». Mas não há-de ser isto, mas maneira pseudoliterária de dizer que a mulher era agarradiça.
Confrontar a mesma notícia em mais do que um jornal é sempre útil. Não, não é útil, é uma perda de tempo, mas serve para nos lembrarmos que nunca nos podemos fiar. Assim, se o Diário de Notícias nos afiança que Tom Sharpe vivia em Llafranc «há mais de uma década», o Público garante-nos que «habitava há mais de duas décadas» naquela localidade catalã.
[Texto 2938]