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Linguagista

«Manbo jambo»?

Mais ou menos isso

 

 

      «Em 1984, os cidadãos de uma ditadura ultravigiada são bombardeados com palavras de duplo sentido, o doubletalk, um obscuro manbo jambo semântico» («O abruptamontes social-democrata», Rui Cardoso Martins, «2»/Público, 9.06.2013, p. 41).

      Ou será mambo jambo? Ou mumbo jumbo? É semântico, mas não nos interessa. Doubletalk pode ser o nosso falar trocado, de que Gil Vicente era especialista.

 

 [Texto 2950]

«A partir do Brasil»!

Partir-se a rir

 

 

      «Há, pelas canções, também amores inconscientes, atracções que ninguém consegue explicar de maneira óbvia. A jovem cantora brasileira Thaís Gulin, que por cá cantou em Maio (em Lisboa, Porto e Coimbra), integrou no seu reportório uma canção americana: Little boxes. A explicação para tal escolha, dada pelo telefone a partir do Brasil, antes do espectáculo, foi esta» («Músicas dentro do nosso sono», Nuno Pacheco, «2»/Público, 9.06.2013, p. 40).

      Os cc e os pp estão todos no sítio certo, mas, apesar de se tratar de música, há nítida falta de ouvido. «A partir do Brasil»? É só uma variação jornalística — a outra é «desde», «desde o Brasil» — de uma língua outrora conhecida como português.

 

 [Texto 2949]

Sobre «fura-vidas»

Tara, exagero

 

 

      «A atracção que [Tara] Brach gera em Washington tem razão de ser: ela é uma fura-vidas de Tipo A» («A voz tranquila da guru da meditação», Michelle Boorstein, «2»/Público, 9.06.2013, p. 37).

      Na definição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, fura-vidas é a «pessoa empreendedora e activa que não olha a meios para conseguir o que quer». Não me parece. Acho mais acertada a definição, à primeira vista igual, do Dicionário Houaiss, que diz que é a «pessoa activa que por todos os meios procura obter vantagens e servir os seus interesses».

 

 [Texto 2948]

«Malícia» e «melícia»

Também camoniano

 

 

      «A alteração das palavras é “malícia” por “melícia”, “mas ambas podem fazer sentido, porque se fala de um deus guerreiro que curava e que era chefe de guerra, ora era perito em melícia como militar e em malícia no sentido de curar o mal”, explicou o historiador [João Alves Dias]» («Inédito de Camões na exposição que celebra os 450 anos da sua obra», Público, 9.06.2013, p. 36).

      Não será demasiado forçada esta interpretação? De um mero lapsus calami do pobre copista erige-se uma tese. E esta dissimilação está atestada? É que actualmente, «melícia» é apenas uma espécie de morcela doce (mel + ícia) feita com amêndoas doces, banha de porco, canela, mel, etc.

 

[Texto 2947]

«Canópia» ou «canópio»?

Também do inglês

 

 

      «Mas as grandes transformações e as menos visíveis, diz [Celso] Matias, têm a ver com os elevadores de palco e restante maquinaria de cena, com o ar condicionado (que passa a vir do chão e não do tecto, como hoje) e com a nova canópia acústica e de iluminação —­ a grande estrutura de madeira suspensa sobre o palco, de 15 toneladas, que vai ser substituída por uma nova, dividida em seis módulos e com um terço do peso» («Não é fácil fazer obras num edifício tão inteligente como o da Gulbenkian», Lucinda Canelas, Público, 9.06.2013, p. 34).

      Em nenhum dicionário vejo a palavra «canópia». Curiosamente, sobre a Fundação Gulbenkian, lê-se na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira: «O Grande Auditório[,] com uma lotação de cerca de 1300 lugares, possui um palco equipado com oito elevadores, dispondo de um reflector acústico móvel (canópio).» Há-de ser tradução do termo inglês «canopy».

 

[Texto 2946]

«Evidências», de novo

É evidente

 

 

      O Ministério da Saúde agora quer que haja reaproveitamento de material médico, material de uso único, descartável. Agora é que é poupar. Manuel Valente, vice-presidente da AESOP (Associação de Enfermeiros de Sala de Operações Portugueses), disse ontem no Telejornal: «Contra todas as evidências, contra todas as recomendações da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu e do Conselho da Europa, contra toda a evidência científica, está-se a tomar uma decisão que aparentemente pode ser insegura para os doentes.» Parece uma frase mal traduzida do inglês: evidences, apparently...

 

[Texto 2945]