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Linguagista

Falta de memória

Ötzi e Lucy ou Ötzi e Lucy

 

 

      «No ano passado, em fevereiro, um estudo genético do Otzi, que foi encontrado conservado no gelo dos Alpes italianos, mais de cinco mil anos depois da sua morte, revelou muitos dos seus segredos» («Homem do Gelo morreu com uma hemorragia cerebral», Diário de Notícias, 11.06.2013, p. 31).

     Quando escrevem sobre a «nossa avó africana comum», grafam o nome em itálico. De certeza que não é discriminação, apenas falta de memória.

      «Lucy, a nossa avó africana comum, era uma bípede muito competente. Foi esse o veredicto dos estudos de fósseis dos quadris e dos membros inferiores deste hominídeo, o Australopithecus afarensis. Mas uma pergunta persistia há décadas: será que esta antepassada, que viveu entre há 3,9 e 2,9 milhões de anos, também fazia parte da sua vida lá em cima, nas copas das árvores?» («Avó ‘Lucy’ também trepava às árvores», Filomena Naves, Diário de Notícias, 26.10.2012, p. 27).

 

[Texto 2961] 

Outro «contato»!

Não é um caso isolado

 

 

      «Dentro da loja [Fnac do CascaiShopping], nos escritórios e armazéns a iluminação foi toda substituída por luzes LED, com sensores de movimento fora do espaço de contato com o público» («Fnac reduz custos e ganha prémio com ambiente», Ana Rita Guerra, Diário de Notícias, 11.06.2013, p. 33).

      Cara Ana Rita Guerra, acha mesmo que a palavra, segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990, se escreve sem c? Está enganada.

 

[Texto 2960]

«Resiliente», uma palavra na moda

Da psicologia para o dia-a-dia

 

 

      Uma palavra que está na moda — e, por isso, é usada a torto e a direito, aqui e ali, a propósito e a despropósito ­— é «resiliente». «“Achamos que é altura de atacar outros mercados e temos vindo a realizar viagens anuais a cada um destes países. Mas esta é uma área que exige, sempre, um longo namoro antes do casamento. Basta ter em conta que, no caso dos caminhos de ferro dinamarqueses, andamos dez anos a namorá-los. Mas nós somos resilientes”, frisa Ernesto Morgado, fundador e sócio gerente ao DN/Dinheiro Vivo» («Siscog quer vender o seu ‘software’ às ferroviárias de China e EUA», Ilídia Pinto, Diário de Notícias, 11.06.2013, p. 33). E quem não se lembra logo de seis sinónimos mais expressivos para dizer o mesmo?

 

[Texto 2959]

Abuso de «devido a»

Devidos indevidos e outras coisinhas

 

 

      «A conclusão, que foi publicada na revista científica Ecology Letters por um grupo de investigadores liderado por Jonathan Bennie, da Universidade de Exeter, surge numa altura em que a espécie está a passar por apuros, devido justamente às temperaturas baixas para esta época do ano. A borboleta Hesperia comma, que já foi comum em Inglaterra, passou por um período difícil há algumas décadas devido a uma perda acentuada de habitat, mas recuperou devido a medidas de conservação implementadas no país. Só que, nos últimos anos, os invernos têm-se prolongado pela primavera dentro, afetando a atividade da espécie, que precisa de 25 graus Célsius para se sentir confortável» («Borboleta sensível em apuros com o frio em Inglaterra», Diário de Notícias, 11.06.2013, p. 31).

 

[Texto 2958]

Léxico: «dropar»

É melhor duas

 

 

      «“Este fato foi idealizado pela SURFaddict e a Janga fê-lo. É o primeiro fato adaptado do mundo, tem velcros em baixo para permitir vesti-lo como um calção”, explica à Lusa Nuno Vitorino, acrescentando: “Tem também um velcro que permite segurar as pernas, para que quando vamos a dropar a onda as pernas não abram e não criem um foco de desequilíbrio”» («Primeiro fato de ‘surf’ adaptado é português», Diário de Notícias, 11.06.2013, p. 15).

      Está no Aulete e no Houaiss. Deste lado do Atlântico, ainda não chegou aos dicionários. E aquele «calção» está mesmo a pedir outro, gémeo, para se poderem vestir — calções. É o que em latim se chamava pluralia tantum e os Brasileiros adaptaram para «pluralício», termos que só ocorrem no plural. Na página na Internet da SURFaddict, Associação Portuguesa de Surf Adaptado, lá está, para os interessados, o «contato».

 

[Texto 2957]