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Linguagista

Outrora português

Agora fala-se e escreve-se assim

 

      «O facto de haver sistematicamente promoções alterou o padrão de consumo. Temos que equacionar dois dados: por um lado, esta oferta, por outro lado, o facto de as pessoas estarem cada vez mais focadas no preço. As opções do consumidor têm a ver com a variável preço» (Mafalda Ferreira, investigadora do IPAM, Instituto Português de Administração de Marketing, no Telejornal, 22.06.2013).


[Texto 3010]

«Statu quo»

O mesmo e o outro

 

      «Seara garante não estar a afrontar o poder judicial, mas anunciou o recurso para o Tribunal Constitucional. Diz que não tem dúvidas, como jurista e como professor de Direito, de que tem legitimidade para ser candidato» («Fernando Seara confirmou candidatura à Câmara de Lisboa», Pedro Benevides, Telejornal, 22.06.2013).

    Entre muitos gestos teatrais, foi perorando o candidato: «Quem pretender manter o status quo da ineficiência, do partidarismo, da instrumentalização do município para outros fins, designadamente para a construção de pequenos e grandes percursos políticos, aplaudem [sic] este acórdão e desejam [sic] que o mesmo seja mantido pelo Tribunal Constitucional.»

      Deve ser também como jurista e como professor de Direito que erra na expressão latina. E claro que não podia faltar o grande esteio do discurso actual, «o mesmo». Só costuma variar em género e número.


[Texto 3009] 

«Por arrasto»

Acho eu

 

      «Na altura, falou-se da necessidade de não aceitar um “estado de chantagem assumida” e temeu-se que a Rússia se aproveitasse da inércia dos EUA e, por arrastamento, dos seus aliados. Foi neste contexto que Kennedy, a 26 de Junho de 1963, disse em alemão que também ele era um cidadão de Berlim. Porque, quando a liberdade é ameaçada nalgum lugar do globo, é-o também em todo o mundo e, por isso, ninguém está salvo» («“Ich bin ein berliner”», Gonçalo Portocarrero de Almada, Público, 22.06.2013, p. 54).

      Só conheço e apenas vejo dicionarizada a expressão «por arrasto», que, aliás, não deve ser muito antiga. E não seria melhor escrever-se «ninguém está a salvo»?

      «Carlota estava a salvo da perseguição; sozinha com o seu amor, que ninguém lhe impugnava; nutrindo-o com saudades na solidão do claustro» (Carlota Ângela, Camilo Castelo Branco, 1858).

 

[Texto 3008]

«À vista desarmada»

À l’oeil nu

 

      «E há um melhor momento para olhar para a Lua? “O mais interessante vai ser observar [a olho nu], logo que a Lua aparece acima do horizonte [ou seja, logo ao pôr do Sol]”, diz, fazendo referência a um conhecido efeito psicológico que faz com que a Lua nos pareça (ainda) maior quando está mais próxima do horizonte» («Céu oferece uma super-lua cheia em noite de festa de São João», Andrea Cunha Freitas, Público, 22.06.2013, p. 31).

      Será mesmo um efeito psicológico, têm a certeza? Não será antes um efeito óptico? No sítio do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), diz-se mesmo que é um «efeito cerebral». Está bem.


[Texto 3006]

«Quando muito»

Posso continuar a repetir-me

 

      «Para melhor observar o fenómeno, basta abrir os olhos, não há nenhuma dica especial. “Aliás, nem é recomendável observar a lua cheia com telescópio, porque fica demasiado brilhante e encandeia quem observa. Como esta até será mais brilhante do que o normal, é recomendável não observar com telescópio. Quanto muito, podem observar com binóculos”, avisa Ricardo Reis [do CAUP, Centro de Astrofísica da Universidade do Porto]» («Céu oferece uma super-lua cheia em noite de festa de São João», Andrea Cunha Freitas, Público, 22.06.2013, p. 31).

      Já vimos mais de uma vez que está errado, só pode ser confusão. É uma expressão quantitativa e escreve-se quando muito, ou seja, «no máximo». 


[Texto 3005]

Ortografia: «superlua»

Não chama nada

 

      «O fenómeno não é raro, mas não é por isso que deixa de ser especial. A cada 413 dias (praticamente um ano e dois meses), a lua cheia coincide com o ponto de maior aproximação da Terra (o perigeu), e o resultado é o que se chama uma super-lua cheia» («Céu oferece uma super-lua cheia em noite de festa de São João», Andrea Cunha Freitas, Público, 22.06.2013, p. 31).

      Já tínhamos visto aqui — e basta pensar — que a ortografia só pode ser superlua, e é a que ficou agora registada, por sugestão minha, é verdade, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

[Texto 3004]

«Nobody’s perfect»

Nunca se enganava, hein?

 

      «A iniciativa começou logo a fugir ao guião quando Cavaco Silva ouviu Braga de Macedo a listá-lo como o 19.º Presidente da República. “Décimo nono?”, questionou o professor logo em modo de prova oral. “Parece-me que é 18.º...”, acrescentou. “Ó Jorge, nobody’s perfect”, rematou de braços abertos perante o seu ex-ministro das Finanças. O problema é que o aluno é que tinha razão» («“Ó Jorge, nobody’s perfect”», N. S. L., Público, 22.06.2013, p. 6).

      Bem, parece-me mais grave do que alguém não se lembrar do próprio número de telefone. O aluno ter razão, caro N. S. L., não é, a todas as luzes, nenhum problema.

[Texto 3003]

«Enquanto/quando»

São gostos, talvez

 

      «Pouco depois, o presidente da Câmara de Sintra era fotografado pelos jornalistas enquanto abandonava o local. O aparato atraiu a atenção de turistas que por ali passavam» («Seara mantém-se candidato a Lisboa e pressiona Tribunal Constitucional», Sofia Rodrigues, Público, 22.06.2013, p. 6).

      Embora as conjunções enquanto e quando sejam em parte sinónimas, para exprimir este sentido (no tempo em que; durante o tempo em que), eu optaria, neste contexto, pela conjunção «quando».

[Texto 3002]