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Linguagista

«Pirete», novamente

Um dia será

 

 

      «Primeiro, [Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República] declarou: “Há uma forma de manifestação gestual nas galerias que não pode ser admitida.” O conceito de “manifestação gestual” já é, só por si, uma novidade epistemológica, no sentido em que aqueles senhores não estavam a fazer piretes, nem manguitos, nem a mostrar os seus vetustos traseiros, actividade em tempos praticada por jovens da geração rasca na parte exterior do hemiciclo» («E a contrição, Assunção?», João Miguel Tavares, Público, 5.07.2013, p. 52).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora ainda não regista o vocábulo «pirete», de que estou aqui a falar pela terceira vez.

 

[Texto 3055]

Acordo ortográfico

Raptado por extraterrestres

 

 

      «Desta vez, o ex-secretário de Estado da Cultura vem dizer que “o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa está cheio de normas ridículas que deveriam ser corrigidas ou simplesmente rasuradas” e que ele “não deveria ter entrado em vigor sem que estivesse encerrado o Vocabulário Ortográfico”. Nesta matéria — como na outra, escatológica — o ex- é muito mais claro e afirmativo do que o secretário de Estado e até podemos pensar que está a querer demiti-lo retroactivamente. Haverá uma hipótese salvífica para o seu passado recente?» («Francisco José Viegas nunca foi secretário de Estado», António Guerreiro, «Ípsilon»/Público, 5.07.2013, p. 34).

 

[Texto 3054]

«Júri/jurado»

Periódico e obrigatório

 

 

      Quase toda a gente já sabe a diferença entre «júri» e «jurado». Entre os que não sabem, para nosso infortúnio, estão muitos jornalistas. Esperem lá, eu já escrevi isto em Dezembro do ano passado! Não interessa, aplica-se de novo. «A entrevista de Nadine Gordimer [a John Freeman] foi feita numa época em que a autora estava a reler algumas obras pelas suas funções como júri do Man Booker International Prize» («“Não vejo a entrevista como um dueto”», Isabel Coutinho, «Ípsilon»/Público, 5.07.2013, p. 19).

 

[Texto 3053]

«Hiperlexia» e «hiperléxico»

Ora, nem por isso

 

 

      Outras duas que faltam nos dicionários gerais da língua: hiperlexia e hiperléxico. Porque são técnicas? Ora essa, e dislexia e disléxico o que são? E, já que estão relacionadas com a leitura, aprendi outra: sacádico. «Movimentos sacádicos», lia-se no texto. Sabem o que são? São os movimentos rápidos dos olhos que permitem saltar de um ponto para outro. Veio do inglês, mas esta língua recebeu-o no século XVII do francês saccade, «sacudidela; arranco; sacão; puxão». Não, não é assim tão estranho à língua portuguesa, pois temos sacada, «sacudidela dada a um cavalo, apertando-lhe a rédea; salto; sacão; galão».

 

[Texto 3052]

Ortografia: «taleigo»

Sem nenhum cuidado

 

 

      A repórter Teresa Marques, no Jornal da Tarde de ontem, esteve em Montemor-o-Novo para nos revelar mais um exagero em que somos pródigos: «O talego desceu e voltou a subir para se estudar a melhor forma de o apresentar ao mundo. [...] Gertrudes e Rosinda dedicaram mais de trezentas horas a este talego. [...] É provavelmente o maior talego do mundo e vai ser apresentado oficialmente a todos os que o quiserem ver no próximo sábado à noite no Largo de São Cristóvão.» No sítio da RTP, lá estava o título da notícia: «Montemor-o-Novo faz o maior talego do mundo.»

      A obrigação da jornalista era consultar um dicionário — e então ia ver que se escreve e diz «taleigo». A involuntária homenagem à pronúncia alentejana — a monotongação do ditongo ei em ê — ninguém lha agradece.

 

[Texto 3051]