Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Prova de avaliação de conhecimentos

E cá, será melhor?

 

 

      «O caracol “é um crustáceo”. E “escrúpulo” significa “pôr-do-sol”. Estes foram alguns dos erros cometidos por candidatos a professores primários, em Madrid, num exame realizado em Março, no âmbito de um concurso de professores. No total, 86% dos candidatos chumbaram num teste com perguntas a que é suposto um aluno de 12 anos saber responder» («“Será esta a melhor maneira de seleccionar professores?”», Andreia Sanches, Público, 27.07.2013, p. 8).

      Ah, está bem, agora os dicionários já registam o verbo «chumbar» como intransitivo... Quanto a é suposto + infinitivo, macaqueado do inglês, já se vê menos, felizmente.

 

  [Texto 3117]

Léxico: «desorçamentação»

E está na moda

 

 

      «Para a especialista em PPP [Mariana Abrantes de Sousa], um dos principais erros cometidos foi a desorçamentação destes projectos, que levou ao actual endividamento do Estado. Depois, diz, houve “estupidez” e “aproveitamento político”» («“Portugal ainda não aprendeu com as parceiras público-privadas”», Luís Villalobos e Ana Gomes Ferreira, Público, 29.07.2013, p. 14).

      Já está registado, por exemplo, no Vocabulário Ortográfico Português, mas ainda falta em quase todos os dicionários.

 

  [Texto 3116]

Uma acepção de «redundância»

Nada supérfluo

 

 

      «Mais, quatro quilómetros antes da mudança nos carris, o mecanismo informático dos comboios de alta velocidade informa o condutor de que deve reduzir a velocidade. E como acontece nos aviões, este tipo de comboios tem um sistema de redundâncias, ou seja, se um sinal falhar, há outro. Também há redundâncias no sistema de travões» («Condutor do comboio descarrilado preso por homicídios por negligência», Ana Gomes Ferreira, Público, 28.07.2013, p. 32).

      Trata-se de um anglicismo semântico. No Merriam-Webster, redundant é o que «serving as a duplicate for preventing failure of an entire system (as a spacecraft) upon failure of a single component».

 

  [Texto 3115]

Léxico: «apoliticismo»

Está-se mesmo a ver

 

 

      «Segundo Óscar Lopes e António José Saraiva, “a presença corresponde a um certo ambiente de apoliticismo forçado, depois do colapso da I República em 1926, e, por isso, os presencistas aspiram, em geral, a uma literatura e arte desvinculadas, senão mesmo alheadas, de qualquer posição de carácter político ou religioso”» («José Régio. Memórias de um coleccionador», Raquel Ribeiro, Público, 28.07.2013, p. 17).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista somente «apolitismo» — «carácter de apolítico; atitude do que não apoia nenhuma ideologia política ou que tem aversão a questões políticas» —, mas é claro que correcto é «apoliticismo».

 

  [Texto 3114]

«Para além»

Não interessa a explicação

 

 

      Ana Daniela Soares, no programa As Vozes Que Nos Escrevem, entrevistou hoje a escritora Patrícia Reis. Aqui fica um excerto: «E escrevo várias coisas em vários registos, o que quer dizer que sou capaz de escrever um texto para um presidente de uma grande empresa, para incorporar um relatório e contas, como sou capaz de escrever um livro em ghost writing, que é uma coisa que me dá imenso prazer, porque não sou eu, posso escrever à vontade, sem qualquer espécie de problema, escrever os disparates todos, com os erros todos, aqueles que me arrepiam, tipo os advérbios de modo em excesso, o “para além”, sabendo eu que “para além” é metafísica, que se uma coisa que está além não precisa de estar para além...» 

      Quando regressar das férias, Montexto vai, tenho a certeza, apreciar muito esta explicação para lá da gramática.

 

  [Texto 3113]