Léxico: «acusmático»
E não é doença
«O termo acusmático», lê-se num cartaz da Casa da Música que o leitor R. A. acabou de me mandar, «genericamente usado para definir sons cuja proveniência se desconhece, remonta ao filósofo e matemático grego Pitágoras, que enquanto dava aulas se escondia atrás de uma cortina negra para evitar que os seus gestos e movimentos distraíssem os alunos. Séculos mais tarde, a palavra “acusmático” passaria também a designar concertos onde se ouve música mas não há músicos.»
Pitágoras falava atrás de uma cortina para que os seus discípulos não se distraíssem e se concentrassem somente no seu discurso. Era a estes discípulos que apenas o ouviam que se dava o nome de acusmáticos. Actualmente, diz também respeito a toda a música que se ouve, mas cuja fonte se desconhece — no fundo, a esmagadora maioria do que se ouve, pois ouve-se constantemente música e não temos músicos nem instrumentos à nossa frente. Ficava bem dizer agora alguma coisa sobre Pierre Schaeffer, mas tenho de deixar algum trabalho ao leitor, não é?
O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista o termo, mas afirma que é o «que diz respeito a acusma» ou o «que padece de acusma». Acusma é, para este dicionário, a «alucinação auditiva em que se ouve[m] sons de vozes ou de instrumentos».
[Texto 3130]