De além-tumba
«É um facto que a mitologia rural da Morgadinha — com a sua natureza bondosa, o seu ciclo agrário constante, os animais cordatos, os bois puxando os carros, a harmoniosa hierarquia das classes sociais, a ventura da pobreza — não era se não isso: uma mitologia que consagrava o campo como prolongamento do paraíso, onde a vida saudável se combinava com as virtudes humanas» («O campo», António Pinto Ribeiro, «Ípsilon»/Público, 2.08.2013, p. 27).
Já vimos (à exaustão, julgava eu) que é senão que se escreve nestes casos. Graciliano Ramos diz, de além-tumba, como é. «Em seguida modifiquei e venci a reacção molesta e acusei-me de precipitação: Nunes Leite devia estar doente, devia ser doente. Não era senão isso. O lençol de água a correr como fonte e o brado lamentoso indicavam desequilíbrio, pois não havia razão para tais excessos» (Memórias do Cárcere, Vol. 1, Graciliano Ramos. Lisboa: Editorial Caminho, 1993, p. 93).
[Texto 3136]