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Linguagista

«Implantação/implementação»

Francamente...

 

 

      A propósito da China e de disparates, este de alto coturno. Jornalista Carlos Daniel, no Jornal da Tarde de ontem: «A China está a ser atingida por uma de onda de calor como não se sentia no país há 140 anos. As temperaturas estão acima dos 40 graus em várias províncias das zonas leste e sul do país. Há 35 dias que não chove. A economia local já está a sofrer as consequências. Numa zona de forte implementação agrícola, muitas colheitas estão já condenadas.»

      «Implementação agrícola»... Isto é que é conhecer bem a língua. O jornalista devia deitar uma olhadela ao Boletim Colonial. E se fosse apenas isto, mas não: o texto da notícia, que continua, não tem articuladores. São frases a seguir a frases, nada mais.

 

  [Texto 3146] 

Plural de nome de povos

Ora, tão simples

 

 

      «Consolidado o irreversível processo que, em 1965, criou a Região Autônoma do Tibete e concluídas a reforma agrária e outras reformas democráticas radicais, sepultou-se de vez a ordem servil tibetana. O princípio de autodeterminação das minorias étnicas é garantido pela Constituição Chinesa no Artigo 14, aos mongóis, huis, tibetanos, miaos, lis e korais» (Relações Internacionais: Visões do Brasil e da América Latina, Estêvão Chaves de Rezende Martins. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2003, p. 461).

      E também os sanyis, os yis, os hans, os naxis, os mosuos, os uigures, os manchus, os yaos, os dongs, os zhuangs... É assim, pois claro, mas parece que é preciso atravessar o Atlântico para se saber. Cá é tudo no singular — porque a ciência manda.

 

  [Texto 3145]

Relidos, não ficavam assim

Era só mudar

 

 

      «A em»? Era só mudar «em 1994» para outra parte da frase. «Há mesmo quem avente que não foi Pissarreira a, em 1994, na primeira fuga da prisão, matar uma septuagenária, o filho desta e uma criança de nove anos que chegava da escola e assistiu aos crimes» («“Tem uma falha na cabeça e anda por aí cheio de fome”», Fernanda Câncio, Diário de Notícias, 3.08.2013, p. 19).

      O advogado, russo, de Snowden não sabe falar russo? Era só mudar «apesar de não falar russo» para outra parte da frase. «Apesar de não falar russo, o advogado garante que Snowden se irá “adaptar facilmente” ao país que lhe deu asilo temporário, desafiando o pedido de extradição dos Estados Unidos» («Snowden em casa de amigos e à espera do pai e da namorada», Helena Tecedeiro, Diário de Notícias, 3.08.2013, p. 21).

 

  [Texto 3144] 

Tradução: «spinoff»

Em inglês, mas explicado

 

 

      «Na Sonae, esta fusão também fecha um ciclo de sete anos para Paulo Azevedo, que em 2006 tentou expandir o universo da Sonae lançando uma OPA sobre a Portugal Telecom. A oferta foi chumbada pelos acionistas, mas desse processo acabaria por nascer a Zon (ex-PT Multimedia), fruto do spinoff (separação) de operações que a Autoridade da Concorrência impôs à PT» («Zon e Sonae só esperam pela AdC para atacar mercado», Miguel Pacheco, «Dinheiro Vivo»/Diário de Notícias, 3.08.2013, p. 11).

 

  [Texto 3143]

Tradução: «buy-back»

Ah, mas em inglês...

 

 

      «Refira-se a propósito que as empresas de rent a car compram os carros em dois sistemas principais: ou ficam com eles como ativos (normalmente três anos), ou fazem os chamados contratos buy-back, em que o vendedor volta a receber a viatura passado um determinado prazo que, explicou Robalo de Almeida[,] “varia entre sete meses e dois anos e meio”» («Rent a car salva vendas de carros, mas enfrenta custo do investimento», Armando Fonseca Júnior, «Dinheiro Vivo»/Diário de Notícias, 3.08.2013, p. 13).

     E não podemos dizer isto em português? Porque não contrato de retrovenda, se retrovender é vender com a condição de desfazer o contrato de venda?

 

  [Texto 3142]

Como comunicam os governos

O que é dizer muito

 

 

      «A primeira comunicação [sobre o desastre ferroviário na Galiza] do governo de Madrid foi a mais tardia (já se tinham pronunciado o governo regional, a oposição, as autoridades ferroviárias do Estado e a polícia) e constou na difusão de um comunicado mal escrito, frio e impessoal. Era tão rotineiro que continha o erro grosseiro de se perceber (porque parte do texto não foi apagado) que fora redigido em cima de outro comunicado sobre um outro acidente (na China)» («O marketing de Passos para lá dos briefings», Luís Paixão Martins, «Dinheiro Vivo»/Diário de Notícias, 3.08.2013, pp. 20-21).

      Não sei, ainda parecem mais ineptos do que Pedro Lomba nestas questões de comunicação.

 

  [Texto 3141]