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Linguagista

Ortografia: «antiestalinista»

Por antonomásia

 

 

      «Isso custou-lhe inimizades internas. “Sempre fui profundamente anti-estalinista e tive alguns problemas com o partido por causa disso. Estive nitidamente a favor da insurreição de Praga e escrevi contra a invasão dos tanques soviéticos, das barbaridades que se fizeram. Eu era a favor da Primavera, do chamado socialismo de rosto humano”, disse, afirmando-se seguidor do panteísmo e depois de assegurar que, enquanto dirigente do PCP, sempre separou a escrita da militância» («O homem que via os deuses ao lado», Isabel Lucas, Público, 10.08.2013, p. 3).

      Cara Isabel Lucas: anti-Estaline, mas antiestalinista. Parabéns, porém, pelo «partido» minúsculo e não, como se vê demasiadas vezes, maiúsculo, «Partido».

 

  [Texto 3168]

«Haveria de»

Mais e sempre avarias

 

 

      «E [o escritor Mário de Carvalho] salienta a “fábrica da escrita”, ou seja, o processo criativo torrencial de um escritor que leu muito cedo. Uma Pedrada no Charco (novela de 1957), Os Bastardos do Sol (1959) ou de haveria de ler Histórias Alentejanas (1977). [...] A sua referência moral e política haveria de ser Álvaro Cunhal, mas o militante do Partido Comunista fazia questão de vincar a sua oposição ao regime de Estaline» («O homem que via os deuses ao lado», Isabel Lucas, Público, 10.08.2013, pp. 2-3).

 

  [Texto 3167]

Sobre «réstia»

Sempre a piorar

 

 

      O nosso sistema tributário, afirma o autor e com verdade, «não tem réstia de racionalidade». Ora cá está mais uma falha de todos os dicionários actuais. Réstia, neste sentido, é o mesmo que resto ou resquício. Mas já esteve nos dicionários antigos. Será que do feixe de luz que passa através de orifício ou abertura estreita os falantes chegam lá?

      «Vasco hesitou, mas os anos e as traições sucessivas tinham-lhe retirado aos poucos qualquer réstia de pudor. Por isso, levou consigo a paulista embaraçada mas muito direita, a provar que há sempre um recomeço» (Rio da Glória, Possidónio Cachapa. Lisboa: Oficina do Livro, 2006, p. 264).

 

  [Texto 3166]

«Amor a...»

Sintaxe histórica

 

 

      «Ainda naquele dia [Urbano Tavares Rodrigues] falou também do amor por Ana Maria, a actual mulher. E de um ou outro amuo com Cunhal, da desilusão com o actual estado do país, do desprezo aos políticos, da noção de que esta esquerda pode pouco. Cruzou o presente com o passado» («O homem que via os deuses ao lado», Isabel Lucas, Público, 10.08.2013, p. 3).

      Bom e mau em duas curtíssimas frases, e tudo, estranhamente, sobre a mesma questão: regências, e a mesma regência, aliás, sobre disposições de ânimo. O § 206 (p. 158, ou 157 na 2.ª ed.) da Sintaxe Histórica Portuguesa, de Epifânio da Silva Dias, aqui ao lado, diz tudo.

 

  [Texto 3165]

Outro Chagas

Também para ler

 

 

      «O Diário de João Chagas, publicado postumamente depois do “28 de Maio”, é um dos melhores livros de memórias políticas de uma literatura que não se distingue no género. Chagas tinha sido um dos participantes na tentativa de revolução em 1891, degredado para África, exilado e revolucionário do “5 de Outubro”, além de ser também, e até ao fim, um admirável escritor (que hoje, evidentemente, ninguém lê)» («A desilusão», Vasco Pulido Valente, Público, 9.08.2013, p. 52).

      Ainda no dia 5 eu aqui escrevia que ninguém se lembrava de Pinheiro Chagas, mas afinal há uma ou duas pessoas que lêem a sua obra. Agora vem outro membro da família, também, é dos genes, um admirável escritor. Difícil é encontrar os quatro volumes do Diário.


  [Texto 3164]