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Linguagista

Ortografia: «entorse»

Imperdoável, Meritíssimo

 

 

      «O tribunal considerou que a “limitação de mandatos apenas tem aplicação territorial e não funcional”, abrindo caminho para que Menezes, presidente da Câmara de Gaia desde 1997, possa ser candidato no Porto. “Entender que a referida limitação é de cariz funcional aplicando-se a todo e qualquer município envolve, a meu ver, um entorce injustificado e de duvidosa constitucionalidade no livre acesso aos cargos políticos”, refere o juiz no despacho» («Tribunal alega que lei deixa dúvidas e recusa travar candidatura de Menezes», Pedro Sales Dias e Abel Coentrão, Público, 17.08.2013, p. 4).

      Esperemos que o magistrado conheça melhor a lei do que a ortografia. Deslizes quanto ao género, já aqui os vimos. Vasco Graça Moura, por exemplo, também se esqueceu de ir comprovar num dicionário — antes do Acordo Ortográfico ou depois do Acordo Ortográfico. Mas neste caso é pior: o s transmuta-se, por ignorância da ortografia, em c. Como a origem das entorses é quase sempre uma torcedura, eis que o s desaparece.

 

  [Texto 3190]

Léxico: «olinguito»

Por esse vasto mundo

 

 

      O mundo está longe de estar todo descoberto. Pela primeira vez em 35 anos, a comunidade científica anunciou a descoberta de uma nova espécie de mamífero — o olinguito (Bassaricyon neblina). Este pequeno carnívoro já andava aí pelos jardins zoológicos, mas pensava-se que se tratava do olingo, aparentado. Ora, nem o olingo está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, quanto mais o olinguito.

 

  [Texto 3189]

Léxico: «laça»

A atracção do ouro

 

 

      Ontem, no Telejornal, passou uma reportagem sobre o desfile das mordomas nas Festas da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo. Uma das peças de ouro tradicionais é a laça, que é constituída por uma laçada dupla, actualmente em forma de coração invertido. Ao que parece, o nome provém, não desta dupla laçada, mas da argola que tem por trás para poder ser usada com uma fita de seda. Laça vem de laço, decerto, mas nesta acepção não a vejo em nenhum dicionário. Aparece no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas apenas as acepções «laçada; aselha [pequena asa; laçada; presilha]».

 

  [Texto 3188]

Como o indígena ignorante

A atracção das aspas

 

 

      Já por duas ou três vezes critiquei o uso excessivo das aspas nos textos de Vasco Pulido Valente. Com algumas intermitências, nada melhorou. A intenção, a ideia (tratando-se de Vasco Pulido Valente, tinha de haver uma ideia) é dar a entender que o indígena é que se exprime daquela maneira — que ele usa apenas para se fazer compreender, porque afinal está a escrever para o indígena ignorante. Por vezes, porém, como na crónica publicada hoje, a intenção não é essa, simplesmente escreve como o indígena ignorante. «O jornal Expresso, em homenagem ao seu proprietário, resolveu este mês publicar uma sequela de Os Maias, que, como o nome indica, é uma continuação da história de Carlos da Maia e de João da Ega, a partir do momento que eles correm atrás do “americano” para não chegarem tarde a um jantar de amigos» («A atracção da asneira», Público, 17.08.2013, p. 44).

 

  [Texto 3187]