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Linguagista

Léxico: «tríscele»

Só por acaso é que não

 

 

      «Com pouca paciência para charadas, mas intrigado com mensagem semelhante, aventando que pudesse ela conter uma espécie de alegoria às inquietações em que por essa altura eu abundava, fui verificar no dicionário o significado verdadeiro de “tríscele”, vocábulo que só difusamente conhecia, e deparei com este esclarecimento, “variante da suástica, que consta de três linhas curvas, que, divergentes de um centro comum, se enroscam em espiral, formando roseta”» (Tiago Veiga — Uma Biografia, Mário Cláudio. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2011, p. 512).

      Num dicionário, hein? No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não foi, nem em nenhum que eu conheça. Ficções.

 

  [Texto 3222]

Sobre «caldo»

Esta é diferente

 

 

      «Quando um dia, já calmeirão, se queixou ao pai que os saltos de cavalo lhe causavam dores insuportáveis na nuca, levou um caldo que o fez estar durante duas horas a ver estrelas de todas as cores» (Os Pássaros de Seda, Rosa Lobato de Faria. Porto: Edições ASA, 1996, p. 51).

      Agora imagine-se um estrangeiro só com umas tinturas da nossa língua. Até pode ser tradutor. Se, por azar ou opção, só tiver o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora à mão, fica a ver navios. Caldo, só os das nossas cozinhas ou os dos laboratórios.

 

  [Texto 3221]

Léxico: «romanticista»

Duas seguidas

 

 

      Ontem, tantrista; hoje, romanticista. Não está nos dicionários. É o relativo ou pertencente ao romantismo ou a pessoa adepta do romanticismo (que está nos dicionários).

      «Mas, admitido o seu propósito de esculpir, Eça insurgindo-se contra o romantismo, não tinha a menor autoridade, se não compreendia que a moralidade, só com a exibição de radiosas plásticas, nunca poderia vencer o veneno romanticista, que os realistas increpavam» (Eça de Queiroz, José Agostinho. Porto: Casa Editora de A. Figueirinhas, 1925, p. 148).

 

  [Texto 3220]

«Fardo de lenha»?

É a segunda vez

 

 

      Aqui o autor fala de um «fardo de lenha». Já tinha lido, é verdade, mas, ao que julgo, apenas uma vez na vida. Molho de lenha, feixe de lenha, braçada, gavela, paveia...

      «Mas alguém com um fardo de lenha à cabeça a empurrou: — Ó tiazinha, isto são perigos de mais para a sua idade! Recolha-se à sua morada, que o povo desta cidade tem uma missão a cumprir e não pode encontrar estorvos à sua frente!» (Este Rei Que Eu Escolhi, Alice Vieira. Lisboa: Editorial Caminho, 13.ª ed., 2008, p. 21).

 

  [Texto 3219]

«Alvéolo», «gavetão»...

São necrofóbicos

 

 

      A avó ficou «dans l’alvéole» n.º X no cemitério de ***. Alvéolo, pois claro. Nos dicionários, como o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, esta acepção não aparece. Há alvéolos dentários, há alvéolos pulmonares, mas os alvéolos dos cemitérios foram esquecidos. Como se esqueceram dos gavetões dos cemitérios. Mesmo o columbário é, para aquele dicionário, o «sepulcro subterrâneo, entre os Romanos». E entre os Portugueses? Creio — e não tenho à mão um coveiro que mo confirme — que aos alvéolos também se dá o nome de «nicho». De qualquer maneira, a acepção também não está dicionarizada. Têm muito por onde melhorar, os nossos dicionários.

 

  [Texto 3218]

Tradução: «chinetoque»

Olha quem fala

 

 

      Povos racistas como os Franceses e os Portugueses (ah, nós não o somos? Pronto, fica assim) tinham de ter nas suas línguas termos para designar de forma ofensiva outros povos. Assim, o termo injurioso e racista francês para designar um chinês é chinetoque. Está no Larousse, caramba. E está registado no Dicionário Francês-Português da Porto Editora? Não está. Mas no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora encontramos «chinoca».

 

  [Texto 3217]

Léxico: «suputação»

Quase só eles

 

 

      «Ignoramos — e não vale a pena tentar a suputação provável — o que seria uma civilização hispânica caldeada com a líbio-fenícia. Seria tão absurdo julgar que todas as coisas vêm por bem, como julgar que todas vêm por mal» (Os Avós dos Nossos Avós, Aquilino Ribeiro. Lisboa: Livraria Bertrand, 1942, p. 205).

      Tirando Heitor Pinto e Aquilino, quem é que usa os termos «suputação» e «suputar», quem? Só os vejo, em abundância, em traduções de obras francesas. Eles é que gostam muito. Suputar é avaliar por meio de cálculo, computar; suputação é o acto ou efeito de suputar; cálculo.

 

  [Texto 3216]

Tradução: «baisable»

Novas e velhas

 

 

      Esta quarentona é baisable — «fodível», verte o tradutor. «Desejável; sexualmente muito atraente», regista o Dicionário Francês-Português da Porto Editora. Mas désirables são aquelas adolescentes — françaises, beurettes, asiatiques — que ali estão junto da máquina de distribuição de preservativos.

 

  [Texto 3215]

Vulgarismos

Vulgar, mas desconhecido

 

 

      Não será porque gostem ou deixem de gostar, mas os Franceses também têm branlettes espagnoles. O tradutor verteu para «punhetas espanholas». Pode ser, mas, mais habitualmente, entre nós são conhecidas por espanholadas. Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, contudo, «espanholada» é o «dito, frase, música, etc., próprio de espanhóis; fanfarronada; hipérbole». Está mal, os vulgarismos (ah!) também têm de estar nos dicionários. E o Dicionário Francês-Português da Porto Editora, se regista branlette, quanto à espagnole, nada.

 

  [Texto 3214]