«Altruísta/generoso»
Dar a outra face
«E, não obstante o reduzido mérito científico do trabalho [tese de licenciatura de Álvaro Cunhal], o seu autor, por decisão, entre outros, do último chefe de Governo do anterior regime, obtém, como classificação global da licenciatura, a muito generosa nota de 16 valores!» («Obrigado, dr. Cunhal!», Gonçalo Portocarrero de Almada, Público, 23.08.2013, p. 49).
Vejamos: o P.e Portocarrero de Almada afirma que a tese, que conhece porque leu (como eu li), tem «reduzido mérito científico», mas refere explicitamente a «classificação global da licenciatura», quando decerto não conhece (como eu não conheço) todo o decurso, nos seus vários incidentes, da licenciatura de Cunhal. Logo, jamais poderia concluir, como fez, que a nota, que era a classificação global da licenciatura, foi «muito generosa». Se o raciocínio fosse escorreito, estaria em causa a consabida definição de generosidade: dar a outrem mais do que ele precisa ou espera. No caso, Cunhal não precisava da nota, porque estava preso, e não a esperava, dado o «reduzido mérito científico do trabalho». E será que alguma vez um professor ou um júri foi, em semelhantes circunstâncias, altruísta, isto é, ajudou outrem, no caso um aluno, com custo para si mesmo?
[Texto 3226]