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Linguagista

Sobre «legista»

Metade de certo

 

 

      «Da mesma forma, foram lançadas dúvidas sobre o relatório médico-legal inicial assinado pelos três legistas, incluindo Thomas Noguchi. O legista das estrelas (que autopsiou entre outros os cadáveres de Marilyn Monroe, Robert Kennedy, Janis Joplin e John Belushi) e os seus colegas terão sido negligentes na autópsia?» («Natalie Wood. Um “caso arquivado” em águas agitadas», Sandrine Cabut, Público, 2.09.2013, p. 28).

      Legista, para nós, é somente o especialista em leis; jurisconsulto; jurisperito. O tradutor devia ter escrito médico-legista.

 

  [Texto 3266]

«Tratar-se de»

Nem daqui a trezentos anos

 

 

      «As lesões têm entre 1,25 a 5 centímetros de diâmetro. São retiradas amostras de algumas delas para observação ao microscópio, que revela tratarem-se de “hemorragias subcutâneas recentes”, compatíveis, segundo o relatório, com equimoses recentes e superficiais» («Natalie Wood. Um “caso arquivado” em águas agitadas», Sandrine Cabut, Público, 2.09.2013, p. 28).

      Não, nem pensar: «entre 1,25 e 5 centímetros». Perturbado, o tradutor esqueceu-se que a construção tratar-se de é impessoal, pelo que apenas se conjuga na terceira pessoa do singular. Digam-lhe, ele talvez agradeça.

 

  [Texto 3265]

Sobre «revelim»

Nebulosa

 

 

      «A fortaleza militar de Almeida, rodeada por um fosso, foi construída nos séculos XVII e XVIII. Tem forma hexagonal e é constituída por seis baluartes (São Francisco, São Pedro, Santo António, ou de Santa Bárbara e de São João de Deus) e igual número de revelins (da Cruz, dos Amores ou Hospital de Sangue)» («Câmara de Almeida candidata antiga praça-forte a Património Mundial», Público, 2.09.2013, p. 17).

      Constituída por seis baluartes — e depois nomeiam quatro... Mas isso agora não interessa. Revelim (ou rebelim, que os dicionários já esqueceram) é, diz o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, a «construção externa de duas faces, que formam um ângulo saliente, para cobertura ou defesa de uma obra de arte». No mínimo equívoca, esta definição.

 

  [Texto 3264]

«Cacatua/catatua»

Aos pares

 

 

      «Os ovos apreendidos [no Aeroporto das Portela] agora em Maio não são de arara-jacinta (Anodorhynchus hyacinthinus), mas sim de outra espécie de Psittaciformes, a ordem de aves que inclui papagaios, araras, periquitos, cacatuas e afins» («Ovos de papagaio são o negócio de ouro dos traficantes de animais», Ricardo Garcia, Público, 2.09.2013, p. 12).

      Pode dizer-se de ambas as formas: cacatua ou catatua. Esta provém daquela, com assimilação. Mas é claro que se escreve Psitaciformes. Já que não usam — como deviam — itálico, que escrevam em português.

 

  [Texto 3263]

«Personæ non gratæ»

Não se meta nisso

 

 

      Milhares de professores contratados não colocados irão hoje inscrever-se nos centros de emprego. Vai daí, Mário Nogueira, da FENPROF, põe-se a falar em latim. Mal: «Vem confirmar que o Ministério da Educação tem os professores contratados como personas non gratas. E o que ainda é mais estranho e curioso é o próprio Ministério da Educação vir dizer que até tem mais de seis mil horários ainda para preencher.»

      O plural da expressão é personæ non gratæ. É difícil? Bem, ninguém o manda pôr-se a falar em latim, acho eu. Ou isso também conta para o regime de ponderação curricular?

 

 

  [Texto 3262]