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Linguagista

Tradução: «enjeu»

Impressionante

 

 

      Quem é que não ouviu já falar nas implicações filosóficas (ou outras) disto ou daquilo? É por isso com estranheza que se vê, num tradutor experiente, enjeux philosophiques duas vezes vertido por «paradas filosóficas». Tudo originado por aquela pecha, mais vista nos novatos e nos medíocres, de se ficarem pela primeira acepção dos dicionários. No Dicionário Francês-Português da Porto Editora, por exemplo, enjeu é «(jogo) parada»; (competição) o que está em jogo; figurado: implicação».

      «Não pretendendo focar as implicações filosóficas ou estritamente linguísticas do problema, tentarei apenas colocar-me, através da dúvida essencial e eficaz do fantástico, na complexa convergência da literariedade» (Metamorfoses do Fantástico na Obra de José Régio, Duarte Faria. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1977, p. 21).

 

  [Texto 3288] 

«Tampa/tampo»

A ser assim, indiferente

 

 

      «Caetano Alves bateu com a cara em cheio na tampa do caixão cintado de ferro» (A Filha do Doutor Negro, Camilo Castelo Branco. Lisboa: Livrarias de Campos, Júnior, 2.ª ed., s/d, p. 203). É assim que sempre ouvi e li, mas o tradutor verteu couvercle du cercueil por «tampo do caixão». No entanto, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, tampa é a «peça móvel com que se tapa ou cobre um recipiente ou caixa», e tampo a «cobertura de recipientes grandes (arca, mala, etc.)». Ora, a ser assim, facilmente podíamos incluir neste etc. «caixão».

 

  [Texto 3287]

Tradução: «globetrotter»

Com destino e sem destino

 

 

      «João Paulo II foi um papa globetrotter», dizia o texto. Bem, não é mentira, mas é triste ter de usar um termo inglês para dizer coisa tão comezinha. Na língua castelhana ficou bem resolvido: trotamundos: «persona aficionada a viajar y recorrer países». Perfeito. Consultamos o Dicionário Inglês-Português da Porto Editora e que vemos? «viajante incansável». E «vagamundo», serve? Bem, quase: «que ou o que corre o mundo sem finalidade determinada». Enfim, vagabundo. Mas o papa, pelo menos ele, corre o mundo com uma finalidade determinada. Não é muito raro ver a palavra «trota-mundo(s)» em autores brasileiros. «“Sou um trota-mundo” — disse. “Calhou de ser a Irlanda, então, Irlanda! Você vai comigo, Aninha? Antes, quero acabar o seu retrato.” Falava muito nesse retrato, que já tinha começado. E nas viagens que faríamos montados na sua moto» (Os Filhos Pródigos, Lygia Fagundes Telles. São Paulo: Livraria Cultura Editora, 1978, p. 56). Contudo, consultamos o Dicionário Aulete, que regista «trota-mundos», e a definição não é diferente da de «vagamundo»: «indivíduo que anda sem destino, vagueando; andarilho; vagabundo».

 

  [Texto 3286]