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Linguagista

«Comissão fabriqueira»

Se fosse

 

 

      «Era, no entanto, o cidadão mais conhecido e importante, tanto na sua terra, como em Garden City, a sede do condado vizinho onde fora chefe da Comissão Construtora da Primeira Igreja Metodista, edifício que custara oitocentos mil dólares» (A Sangue Frio, Truman Capote. Tradução de Maria Isabel Braga. Lisboa: Livros do Brasil,  s/d (1978?), p. 16).

      No original, lê-se o seguinte: «He was, however, the community’s most widely known citizen, prominent both there and in Garden City, the close-by county seat, where he hardheaded the building committee for the newly completed First Methodist Church, an eight-hundred-thousand-dollar edifice.» Não há aqui, ao que me parece, nenhum erro de tradução, queria apenas lembrar que se fosse cá e se dissesse respeito a uma igreja católica, lhe daríamos o nome de comissão fabriqueira, curiosa designação legal usada desde 1926.

 

  [Texto 3373]

Extremo Oeste e Médio Oeste

De Middle West não escaparíamos

 

 

      Já que andamos um pouco engalfinhados por causa da maviosa Lípsia, aqui fica: «Perto de setenta milhas a leste da fronteira do Colorado, com um céu azul intense e um ar transparente, de deserto, possui uma atmosfera que lembra mais o Extremo Oeste do que o Médio Oeste» (A Sangue Frio, Truman Capote. Tradução de Maria Isabel Braga. Lisboa: Livros do Brasil, s/d (1978?), p. 13).

      No original lê-se, lembro, o seguinte: «Some seventy miles east of the Colorado border, the countryside, with its hard blue skies and desert-clear air, has an atmosphere that is rather more Far West than Middle West.» Palpita-me que hoje em dia não se traduziria da mesma maneira.

   [Texto 3372] 

Ortografia: «auto-emprego»

Não pode ser

 

 

      «A associação “Dar Vida à Vida” é uma organização filantrópica, cujo objectivo principal é combater o desemprego da juventude e promover o auto emprego, mediante a concessão de microcrédito» («Jovens e ex-militares recebem microcrédito», Valentim Cavindi, Jornal de Angola, 10.10.2013, p. 38).

      Caro Valentim Cavindi, deixa assim à solta, sem mais, um elemento de formação de palavras? Veja lá ele não caia ou desapareça. Auto-emprego como «auto-educação» ou «auto-escada». E claro que o nome da associação não precisa das aspas para nada.

 

  [Texto 3370]

Ortografia: «Cuíto»

Está quase

 

 

      «No quadro do programa do Governo de construção de mais infra-estruturas escolares, oito salas estão a ser acrescidas na Escola de Formação de Professores (Marista São José) no Cuito, província do Bié» («Cidade do Cuito com mais salas», Jornal de Angola, 10.10.2013, p. 39).

      Ah, mas até nos jornais angolanos escrevem este topónimo com c, e não com k. (Vejam aqui.) Só falta o acento.

 

  [Texto 3369]

«Situação», uma acepção

As aspas mesmo são uma doença

 

 

   «A segunda fase (1945-1961), que se caracteriza por um táctico abrandamento do regime e pela admissão de algum pluralismo limitado, em que a Assembleia Nacional passa a ser presidida por um dos mais “liberais” líderes políticos da situação, que na tradição republicana de que era oriundo mantinha uma postura de franco apoio e empenho, mas sem subserviência» (Os Deputados da Assembleia Nacional 1935-1974, J. M. Tavares Castilho. Lisboa: Texto Editores, 2009, p. 141).

      O autor — não este, outro — quer forçosamente aspas em «situação», na mesma acepção. Porque o pobre leitor pode julgar que é literalmente o acto ou efeito de situar. Isto é que é confiança na inteligência do leitor.

 

  [Texto 3368]

«Salto», uma acepção

As aspas são uma doença

 

 

      «Naquela época, dar o salto para França era uma empreitada dura, arriscada. Construíra casa na aldeia, mais para mostrar aos vizinhos que fizera fortuna, já não era um jornaleiro pobretão» (O Rei do Volfrâmio, Miguel Miranda. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2008, pp. 18-19).

      O autor — não este, outro — quer forçosamente aspas em «salto», na mesma acepção. Porque o pobre leitor pode julgar que é literalmente o acto ou efeito de saltar. Isto é que é confiança na inteligência do leitor.

 

  [Texto 3367]

Léxico: «imunoprevenível»

Avancemos para Angola

 

 

      Tenho de ler mais vezes o Jornal de Angola. Ao menos diversifico os erros e os acertos que leio, e o segredo da vida é esse mesmo, a diversidade. E quero ter leitores em Angola, naturalmente. «A febre tifóide, que consta das doenças consideradas epidémicas e imunopreveníveis, causou um óbito, de um total de 2.147 casos registados» («Sarampo provoca mortes», Delfina Victorino, Jornal de Angola, 9.10.2013, p. 38).

      Imunoprevenível significa que é doença que pode ser prevenida com a vacinação. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora nunca se avistou com ela. Nem eu, até agora.

 

  [Texto 3366]

Léxico: «matamba»

Resolvido

 

 

      «A esposa, a dona de casa é, regra geral, a cozinheira da família. O fungi, preparado à base de farinha de bombó ou milho, constitui a principal dieta alimentar, que é normalmente acompanhado de carne, peixe, matamba (quizaca), mulembwe (quiabo), temperado com ginguba, semente moída de abóbora ou de girassol» («Lumege Cameia transformada em vila moderna», Adão Diogo, Jornal de Angola, 9.10.2013, p. 39).

      Não sei, pareceu-me mal que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora registasse «quizaca» e não acolhesse «matamba». Às 9h16 sugeri a inclusão do vocábulo e agora já lá está, para alegria dos Angolanos.

 

  [Texto 3365]

Léxico: «chana»

Isso não é cá

 

 

      «O município [de Cameia], tido no passado por celeiro da província, devido às elevadas cifras de produção de arroz, possui chanas em abundância, 25 rios e quatro lagoas, que impulsionam a agricultura e a pesca artesanal» («Lumege Cameia transformada em vila moderna», Adão Diogo, Jornal de Angola, 9.10.2013, p. 39).

      É o nome que se dá em Angola às grandes planícies desprovidas de arvoredo e alagadas na época das chuvas.

 

  [Texto 3364]

«Uma carta adonde»!

Exigem pluralismo

 

 

      Armindo Miranda, da Comissão Política do PCP, entrevistado à porta dos Estúdios da Valentim de Carvalho, em Paço de Arcos, enquanto o primeiro-ministro respondia «ao País»: «Vamos entregar uma carta adonde damos a opinião do Partido Comunista Português que não compete ao director de Informação da RTP decidir quem devem ser os próprios governantes do nosso país, os próximos governantes.»

 

  [Texto 3363]