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Linguagista

«Lateranense/latranense»

Quem manda...

 

 

      «Mas eu não quero “Concílio Lateranense”», mandou o autor dizer. «Como é que de “Latrão” o leitor vai deduzir lateranense? Tem de ser “latranense”.» Está bem, mas — e o latim? Tardio, decerto, mas latim. Desta língua é que nos chegou directamente «lateranense» para nos referirmos à Igreja de S. João de Latrão ou a qualquer dos cinco concílios ecuménicos que se realizaram nesta basílica (ou catedral? No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora lê-se que é catedral). Bem sei que não prova quase nada, mas não conheço nenhum dicionário que registe essa forma nascida na língua portuguesa.

      Entretanto, caros leitores espanhóis, acabei de mandar uma mensagem de correio electrónico para a vossa Real Academia, pois na entrada «lateranense» do dicionário da RAE aparece isto: «Perteneciente o relativo a la basílica de San Juan de Letrán, en Roma, o al concilio allí celebrado. Concilio lateranense. Padres lateranenses.»

 

  [Texto 3542] 

Mal traduzido

Isto é que é insólito

 

 

      «Na fotografia oficial da visita dos príncipes das Astúrias às instalações da filial da farmacêutica espanhola Grifols, em Los Angles [sic], nos Estados Unidos, a princesa Letizia e uma das funcionárias da empresa (que está à esquerda) concidiram com o mesmo vestido» («Princesa Letizia e empregada de farmacêutica usam vestidos iguais», F. A., Diário de Notícias, 18.11.2013, p. 53).

    Cá estamos de novo, cara Filomena Araújo. «Coincidiram com o mesmo vestido» parece português, mas é castelhano. Nesta língua, uma das acepções do verbo «coincidir» é, em relação a duas ou mais pessoas, «concurrir simultáneamente en un mismo lugar». É o que aconteceu: estiveram no mesmo sítio com vestidos iguais. «La princesa Letizia y una empleada de Grifols coinciden con el mismo vestido.»

 

  [Texto 3541] 

O que se escreve nos jornais

Não me diga

 

 

    «Cristiano Ronaldo surpreendeu sexta-feira à noite ao falar aos jornalistas, no final do Portugal-Suécia, com o filho pela mão. Cristiano Ronaldo Júnior, que a família trata carinhosamente por Cristianinho, fez 3 anos a 17 de junho último, mas tem cada vez mais protagonismo e está a tornar-se uma das crianças mais influentes do mundo, como de resto acontece com os filhos de outros futebolistas, como David Beckham» («Filho de Ronaldo ganha mais protagonismo e fãs nas redes sociais», Filomena Araújo, Diário de Notícias, 18.11.2013, p. 53).

     E que influência é essa, cara Filomena Araújo, que Cristiano Ronaldo Júnior exerce no mundo? Não deteve o tufão Hayan, por exemplo, pois não? Protagonismo tem, graças aos jornalistas acéfalos deste mundo.

 

  [Texto 3540] 

«Bloguer/blogueres»?

E «bloguista», não chega?

 

 

      «A pátria, a que retorno, não se escandalizou tanto assim e os poucos que se indignaram remeteram a coisa para uma generalização: jornalistas e blogueres a mesma choldra! Estaria certa a reação se a estes se juntassem estucadores e agentes imobiliários, e a todos se desse a indicação necessária: patifes. Porque é isso que é Fernando Moreira de (o tal entrevistado da Visão). Não foi a sua condição de bloguer que o levou a ser um dos “blogueres da corda” (como ele próprio se autodefiniu na entrevista), foi a de ser patife» («A pátria continua ela própria», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 18.11.2013, p. 56).

      E também gostava de saber como é que Ferreira Fernandes pronuncia a palavra no singular e no plural.

 

  [Texto 3539]

Léxico: «sufi»

Também falta

 

 

      «No final dos anos 1960, a autora [Doris Lessing] conhece um mestre sufi, e os seus livros ganham uma dimensão mística que virá a explorar enfaticamente nos seus romances de ficção científica» («Nobel da Literatura Doris Lessing morreu aos 94 anos», Joana Emídio Marques, Diário de Notícias, 18.11.2013, p. 46).

    Esta também não a encontramos na maioria dos nossos dicionários, apenas «sufista».

 

  [Texto 3538]

Tradução: «valet parking»

Um criado

 

 

      «O projeto resulta de um investimento avultado e disponibiliza serviços exclusivos para clientes VIP: área privada com camarotes individuais, entrada exclusiva e um valet parking são benefícios esperados pelos frequentadores “de luxo”» («O Olympia volta a abrir portas na Baixa do Porto como clube de luxo», Joana de Belém, Diário de Notícias, 18.11.2013, p. 21).

      E agora, como vamos traduzir a expressão? Aos que desempenham esta tarefa, no Brasil chamam-lhes manobristas. Cá, porém, os manobristas apenas executam manobras nas embarcações ou nos bastidores da política.

 

  [Texto 3537]

Sobre «superiorizar»

Não me parece

 

 

      «Segundo Paulo Pisco, o fecho do posto consular de Ajjacio torna-se ainda mais “estranho” quando se sabe que, tirando as despesas com vencimentos, esta era uma instalação diplomática em que as receitas se superiorizavam às receitas» («Emigrantes desesperam sem posto consular», João Pedro Henriques, Diário de Notícias, 18.11.2013, p. 10).

      Hum... Só conhecia no sentido de passar além de; ultrapassar em valor, em mérito. «Não de todo inesperadamente, mas bastante ridiculamente, voltou a pôr-se a questão sobre se o Romantismo se superioriza ou não ao Realismo. E o voto vai para o Romantismo através de Camilo, julgado de novo o maior romancista português» (Conta-Corrente (1980-1981), Vergílio Ferreira. Lisboa: Bertrand Editora, 1980, p. 448).

 

  [Texto 3536] 

Léxico: «chancelar»

Autenticar com chancela

 

 

   «Os emigrantes [portugueses na Córsega] precisam de um posto consular para tratar de questões como o cartão do [sic] cidadão, passaportes e procurações e muitas vezes, segundo [o deputado do PS] Paulo Pisco, “ficam presos na ilha” porque não conseguem em tempo chancelar oficialmente as declarações que lhes permitem sair da ilha com os filhos» («Emigrantes desesperam sem posto consular», João Pedro Henriques, Diário de Notícias, 18.11.2013, p. 10).

 

  [Texto 3535]