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Linguagista

«Decisão sobre a sorte»

Cá está

 

 

      O Presidente da República sobre a demissão do director nacional da PSP: «Já hoje de manhã tive ocasião de falar sobre esse assunto. É uma competência exclusiva do Governo a decisão sobre a sorte do Sr. director nacional da PSP.» Cá está um claro sinal dos tempos de pré-ditadura denunciada ontem. É como se pertencesse ao Governo o poder discricionário de degredar o director nacional da PSP para as Berlengas (coitadas das lagartixas-de-bocage) ou pendurá-lo pelos pés do Arco da Rua Augusta.

 

  [Texto 3572]

Auto-retrato de Chateaubriand

Ainda para lá dos Pirenéus

 

 

      «Propre à tout pour les autres; bon à rien pour moi: me voilà.» Não é um enigma, é antes o auto-retrato de Chateaubriand. Parece uma frase muito simples, compreensível. Será igualmente fácil de traduzir? É o desafio que lanço aos bons leitores do Linguagista.

 

  [Texto 3571]

Sobre «vernissage»

Mais francês

 

 

      Este caso faz lembrar o que aconteceu com a expressão «a partir de». Trata-se da inauguração de uma livraria. No original, é a vernissage, extensão de sentido de um sentido figurado. O tradutor optou por não encontrar uma equivalência em português. Se formos consultar o Dicionário de Francês-Português da Porto Editora, não regista esta extensão de sentido, limitando-se ao sentido figurado: «dia de abertura de uma exposição; inaguração de uma exposição».

 

  [Texto 3570]

Tradução: «plat à emporter»

Pois é

 

 

      Estava tudo emporcalhado, com «les boîtes de plats à emporter» a juncar o chão. E agora, como traduzir? Para muitos tradutores, o melhor é traduzir para inglês, até porque quase ninguém reclama nem acha inconcebível. «Comida comprada no takeaway»! No entanto, vou até à Estrada de Benfica e encontro meia dúzia (fecharam muitos, ultimamente) de restaurantezinhos com um letreiro na montra em que se lê «Comida para fora». E os donos serão, tenho a certeza, semianalfabetos.

 

  [Texto 3569]

«Massachusetts», só com um esse

Miudezas

 

 

      «“Kennedy foi o primeiro a usar, de uma forma brilhante e inédita, os meios de comunicação social e de propaganda para criar uma imagem que não correspondia à verdade”, diz o historiador Tiago Moreira de Sá, professor na Universidade Nova de Lisboa e investigador do Instituto Português de Relações Internacionais. Kennedy mostrava-se como homem novo, bonito e dinâmico, que ficava bem de fato escuro e gravata, mas também de pólo e caquis a jogar futebol com os irmãos ou a velejar nas águas do Massachussetts» («JFK, o príncipe imperfeito», Ana Gomes Ferreira, Público, 22.11.2013, p. 24).

      Porquê o plural «caquis» e o itálico? Já muita gente errou a ortografia do nome do Estado norte-americano. São muitos ss. É Massachusetts, só com um s.

 

  [Texto 3567]

Léxico: «tocaia»

Mais uma do Brasil

 

 

      «Foi assim que os dois jovens se viram envolvidos numa perseguição pelas ruas de Paris em Outubro de 1994, em que acabaram por matar quatro pessoas, entre as quais três agentes da polícia, explica o Le Monde. Maupin acabou por morrer de ferimentos sofridos na perseguição. Rey foi condenada a 20 anos de prisão, dos quais cumpriu 15. Só anos depois revelou Dekhar como cúmplice, a pessoa que comprou armas e ficou de tocaia na noite do assalto. Por isso ele só foi julgado em 1998 — e negou conhecer Rey ou Maupin» («Atirador de Paris denunciou em cartas “manipulação das massas pelos media”», Clara Barata, Público, 22.11.2013, p. 21).

      Não aparece muitas vezes na escrita, talvez mais na oralidade. Veio, creio que os dicionários são unânimes, do Brasil. Tocaia é a emboscada para matar alguém ou caçar, como se lê no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

  [Texto 3566]

Tensão no Parlamento

E na gramática

 

 

      José Rodrigues dos Santos no Telejornal de ontem: «Lígia, notas, Lígia, não se se me estás a ouvir, notas alguma relutância por parte da autoridade que está a fazer a segurança do Parlamento e também da polícia de choque em actuar por se tratarem de colegas de profissão?» Por quem é, José Rodrigues dos Santos, reveja-me lá esses conhecimentos de gramática.

 

 

  [Texto 3565]

Ortografia: «pobre diabo»

Sim, mas no Brasil

 

 

      «Ainda por cima, as trapalhadas da investigação do assassinato — a direcção e a quantidade de tiros (dois, três, quatro, oito), a prisão de Oswald, um pobre-diabo a roçar o louco obsessivo, e a expeditiva liquidação de Oswald por um dono de um cabaré com ligações à Máfia — permitiam especulações sem fim e ajudavam a refulgir a nossa virtude democrática» («Símbolos», Vasco Pulido Valente, Público, 22.11.2013, p. 60).

      «Pobre-diabo», «pobres-diabos» é como se escreve no Brasil. O nosso pobre diabo, o indivíduo sem importância, tolo, não tem hífen.

 

  [Texto 3564]