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Linguagista

«Genograma»?

E «árvore genealógica»?

 

 

      Vejam o que pedem às criancinhas de 5 e 6 anos: «Desenha o rosto dos teus familiares no genograma, de acordo com as legendas, ou então cola fotografias» (Estudo do Meio – Alfa, 1.º ano, Eva Lima et al. Porto: Porto Editora, 2013).

      Em 2005, Tavares Louro, no Ciberdúvidas, dizia sobre esta palavra: «Consultados vários dicionários da língua portuguesa, da língua francesa e da língua inglesa, não encontrámos registo da palavra “genograma” nem equivalente nas línguas estrangeiras referidas.» Pois agora, passados estes anos, todos os caminhos vão dar à língua inglesa. Esta acepção está em poucos dicionários. O Merriam Webster regista: «a diagram outlining the history of the behavior patterns (as of divorce, abortion, or suicide) of a family over several generations; also:  a similar diagram detailing the medical history of a family in order to assess a family member’s risk of developing disease».

 

  [Texto 3591]

Léxico: «estrafega»

«Acto de estrafegar»...

 

 

      «“Acho que há muito tempo que não me enervava tanto”, diz ao PÚBLICO o Nuno Markl, que conseguiu bilhetes para dois dias do espectáculo: o primeiro e o último. “Às tantas éramos três pessoas em três computadores, em três sítios diferentes, todos na mesma demanda: o Bruno Nogueira, o Rui Lourenço (responsável pela gestão das redes sociais da Rádio Comercial) e eu, numa estrafega a ver quem conseguia primeiro”, continua o humorista, que vê nos britânicos uma grande influência, ou como diz: “São parte do cocktail que me fez amar a comédia para a vida”. “Nunca fui tão fã de ninguém como deles. Devo-lhes a devoção de os ir ver, nem que viessem os cinco acamados ou com próteses nas ancas.”» («E em 43,5 segundos esgotaram-se os bilhetes para os Monty Python», Cláudia Carvalho, Público, 26.11.2013, p. 36).

      Está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira é muito mais claro: «luta, braço a braço».

 

  [Texto 3590] 

Sobre «rectius»

Mais correctamente

 

 

      «Este relatório foi aprovado por uma maioria esmagadora de cerca de 73% dos votos dos deputados. Quase três quartos dos representantes legítimos dos povos europeus entendem que o órgão de que fazem parte deve ter (rectius, tem) o direito de se “auto-organizar”. Apesar do silêncio mediático sobre a matéria, trata-se de uma decisão histórica. É muito importante — é mesmo fundamental — que os eleitorados e as opiniões públicas nacionais percebam e interiorizem o alcance e o sentido desta votação. A grande maioria dos deputados europeus, representando os cidadãos dos respectivos Estados, exprimiu a vontade de que o PE possa assumir-se como um parlamento livre da tutela “paternal” de outras instituições europeias e, em particular, do Conselho Europeu» («Estrasburgo e/ou Bruxelas: nem simbolismo nem pragmatismo (II)», Paulo Rangel, Público, 26.11.2013, p. 52).

      É termo usado em textos jurídicos, e Paulo Rangel, como jurista que é, trouxe-o para este texto. Não tenho é a certeza de que o usasse com propriedade. Habitualmente, é empregado para significar que há uma forma mais correcta (em latim também está no grau comparativo) de exprimir o que foi dito — por terceiros. Não parece ser o caso.

 

  [Texto 3589]

«Checks and balances»

Era escusado

 

 

      «E não existe uma forma de o parar na sua desfilada. O sistema incipiente de checks and balances [sic] que temos em Portugal não funciona. O Governo ignora oposição, parceiros sociais, manifestações, tribunais e a academia e o PR assobia para o lado. O cocktail é explosivo e, como diz Soares, a violência está à porta. E a violência é uma arma política legítima quando não existe outra arma possível» («A violência, a procura de justiça e o regresso à democracia», José Vítor Malheiros, Público, 26.11.2013, p. 53).

       Se até nas faculdades de Direito e em obras jurídicas se usa, quando seria de esperar o contrário, a expressão equivalente em português — freios e contrapesos —, não vejo a necessidade de se usar na imprensa a expressão inglesa.

 

  [Texto 3588]

«Quando mais não seja»

Já disse: Torga sabia

 

 

      «Não tenho a mínima dúvida de que Soares receia uma explosão de violência — quanto mais não seja porque, uma vez iniciada, ninguém pode prever a sua evolução. E não tenho notícia de que o PS, ou mesmo os “radicais” do BE ou do PCP, se preparem para enquadrar, controlar e liderar essa explosão de violência de forma que sirva os seus objectivos políticos» («A violência, a procura de justiça e o regresso à democracia», José Vítor Malheiros, Público, 26.11.2013, p. 53).

      «Enfim, eu estou e estarei sempre com eles, quando mais não seja porque tenho de estar com os meus. Mas já ouço sem convicção o “venha com Deus” habitual. Há também nestas humanidades uma faca debaixo de cada sorriso, e a bênção de amor com que o mundo precisa de ser regado necessita de alargar os braços e chegar até aqui» (Diário, Vols. I a IV, Miguel Torga. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999, p. 244).

 

  [Texto 3587]

Léxico: «engraçadismo»

É mais uma

 

 

      «Só que, diante disto, confesso que os meus sentimentos se misturam. Por um lado, acho comovente que o Pacheco Pereira que leio há mais de 20 anos, o homem cerebral, racional, antidemagógico, opositor do engraçadismo, combatente de todas as simplificações, se transforme subitamente num vulcão de emoções, de indignação e de acusações simplistas. Por outro, faz-me confusão a falta de critério desta sua análise e a forma como ela legitima o silêncio sobre a mais urgente pergunta dos nossos dias: o que fazer a seguir?» («Carta a Pacheco Pereira ­– parte I», João Miguel Tavares, Público, 26.11.2013, p. 56).

      Não sabia que esta palavra — e «engraçadista», que li numa crónica de Ferreira Fernandes — circulava por aí.

 

  [Texto 3586]