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Linguagista

«Em talheres de prata»?

Outra preposição

 

 

      «As carruagens-restaurante destes comboios internacionais eram as únicas que ainda circulavam em carris portugueses, desaparecendo assim uma tradição que remonta aos primórdios do caminho-de-ferro. Quando o Sud Expresso foi inaugurado, em 1887, as refeições eram servidas em talheres de prata e os passageiros — uma aristocracia endinheirada que viajava em luxuosas carruagens-cama — elogiavam a qualidade dos vinhos e da comida» («Sud Expresso e Lusitânia perdem hoje as suas carruagem-restaurante», Carlos Cipriano, Público, 1.12.2013, p. 18).

   Refeições servidas «em talheres de prata»? «A casa de bonecas tem as portadas abertas, mesinhas, cadeiras e camas rigorosamente arrumadas, o jantar servido com talheres e pratas que desaparecem entre dedos de adulto, ninguém à mesa» (Casas Pardas, Maria Velho da Costa. Lisboa: Moraes Editora, 1977, p. 179).

 

  [Texto 3612] 

Como escrevem os professores

Às vezes acertam

 

 

      Cerca de mil professores manifestaram-se ontem, no Porto, contra a prova de avaliação a que o Governo quer sujeitar os docentes contratados. A RTP estava lá: «Os professores querem o fim da prova de avaliação e apelaram para todas as instituições e lamentam a intransigência do Governo» («Docentes manifestaram-se contra prova de avaliação “indigna”», Paulo Moreira, Telejornal, 30.11.2013).

      Nos cartazes empunhados pelos professores, não se liam as parvoíces que toda a gente pôde ler nos cartazes dos professores que se manifestaram em Lisboa. Do que vi na televisão, no Porto, não se aventuraram, e fizeram muito bem, a mais do que isto: «Esta prova é uma cratinice.» Em Lisboa, armados em engraçados, alguns professores empunhavam cartazes cheios de erros. Todos intencionais? Não me parece. «Nn Krt “não vales nada”.»

 

  [Texto 3611] 

Sobre «marcelismo»

A gente pasma

 

 

      «Um dia, em 1984 ou 
85, no meio de uma daquelas zaragatas em que os portugueses são especialistas, escrevi que o fim do “marcelismo” tinha sido a época mais feliz da minha vida. A indignação dos jornalistas foi grande: só um monstro podia gostar de viver sob uma ditadura» («Quem nos toma a sério?», Vasco Pulido Valente, Público, 1.12.2013, p. 56).

      É curioso, e sintomático?, que o vocábulo «marcelismo» — que já ouvi e li vezes sem conta, até em títulos de livros — não esteja no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Digamos que não é exactamente o mesmo que não registar «guterrismo».

 

  [Texto 3610]

Esse itálico

Não fui a tempo

 

 

      Ontem, eu devia ter escrito que o nome da loja Harrods — de qualquer loja, de qualquer instituição — não é grafado em itálico, como Rúben A. fez. Não o disse e, na crónica de hoje, Vasco Pulido Valente escreveu isto: «Em 1973, com o doutoramento acabado de fazer, alguns tostões para gastar no Gambrinus e a certeza mais maciça que o regime não durava muito, o mundo não me parecia mal. Nesse tempo bárbaro ainda era permitido fumar no átrio da Biblioteca Nacional e nos restaurantes, quase ninguém era multado pela polícia de trânsito e as praias do Algarve estavam quase vazias. O começo de uma vida livre, numa democracia à europeia, sem guerra e sem colónias, parecia iminente. E, mais do que iminente, irresistível» («Quem nos toma a sério?», Vasco Pulido Valente, Público, 1.12.2013, p. 56).

 

  [Texto 3609]