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Linguagista

Léxico: «percentílico»

Como «logarítmico»

 

 

      «A escala de resposta», leio aqui num texto, «é percentílica, com intervalos de 5 pontos (e. g., 5 %, 10 %, 15 %).» Nunca me tinha avistado com este adjectivo, que só pode ser relativo a percentil. Não me parece mal, e até acredito que faça falta.

 

  [Texto 3619]

«Webinar»!

Seminário virtual

 

 

    Acabo de receber um convite para ver «este webinar», no qual os oradores falarão «sobre a importância de reformular a conceção do ensino através de uma reflexão alargada sobre a Educação, salientando as estratégias utilizadas na sala de aula». E não é que a palavra já está — já está! — no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora?! Webinar: «seminário realizado através da internet; seminário virtual».

 

  [Texto 3618]

Sobre «frecha»

Flecha, frecha, fecha...

 

 

      Gostei de ver a reportagem no Jornal da Tarde de ontem. A história do morto que matou o vivo, as pedras parideiras, etc. O mais importante, aqui para nós: «Outra das atracções deste santuário da Natureza, como é conhecido, é a queda-d’água da Frecha da Misarela. Com 60 metros de altura, é um dos locais mais procurados da serra» («Três serras portuguesas com estatuto único em carta europeia de turismo», Paulo Jerónimo e Jorge C. Vieira, Jornal da Tarde, 2.12.2013).

      «Frecha» por «flecha» é fenómeno bem conhecido de todos. O que não encontramos nos dicionários é a acepção de «cascata», decerto por analogia, porque a água, naquele ponto, há-de cair rápida como uma flecha. Podia ser, tanto mais que na Portela de Leonte, na serra do Gerês, há uma cascata, também conhecida entre os serranos por frecha. Contudo, parece que a da serra da Freita era também (mais?) conhecida por Fecha da Mijarela. Alguém quis, parece, corrigir e agora só se diz «frecha». Quanto à etimologia, só especulações.

 

  [Texto 3617]

Palavra do Ano

Critérios de frequência? Hum...

 

 

      «Depois da “austeridade” em 2011 e do que é viver “entroikado” em 2012, a situação política e económica do país volta a dominar a lista das candidatas à Palavra do Ano 2013. Do “irrevogável” acto demissionário do ministro Paulo Portas neste Verão à polémica que envolve os contratos swap e a ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque até à esperança dos governantes no “pós-troika”, mas também às iniciativas legislativas sobre o “piropo” e a “co-adopção” e o potencial “inconstitucional” de outras tantas, tudo pode acabar com uma “grandolada” aos ministros que antecedeu a manifestação de 2 de Março» («“Grandolada”, “irrevogável” ou “pós-troika” candidatas a Palavra do Ano», Joana Amaral Cardoso e Maria Lopes, Público, 3.12.2013, p. 10).

      Enfim, um pouco mais normal do que no ano passado, excepto aquela — bem formada, decerto, e análoga a muitas outras — «grandolada», tanto mais que «a lista de palavras candidatas resultará do trabalho permanente de acompanhamento e análise da realidade da língua portuguesa, com base em critérios de frequência de uso e de relevância assumida quer através dos meios de comunicação social e das redes sociais, quer da utilização dos dicionários da Porto Editora nas suas versões online e mobile”».


  [Texto 3616]

«Onda de frio»

Qual média?

 

 

      «Apesar dos valores baixos, o país não está a enfrentar uma onda de frio, no sentido técnico do termo — ou seja, termómetros cinco graus abaixo da média, durante pelo menos seis dias consecutivos. O que torna a situação actual singular é o tempo que ela está a durar. “Não é por os valores serem muito baixos. O mais significativo é a sua persistência”, explica a meteorologista Ângela Lourenço, do IPMA» («Frio vai manter-se por mais uma semana e a culpa é de um anticiclone», Ricardo Garcia, Público, 3.12.2013, p. 6).

      Qual média? «Inferior em 5 ºC ao valor médio diário, no período de referência», lê-se no sítio do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). «No período de referência entre 1961 e 1990», completam Filomena Naves e Teresa Firmino na obra Portugal a quente e frio (Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2009, p. 106).

 

  [Texto 3615]

«Elogio em causa própria»

É vitupério

 

 

      «O PÚBLICO quis saber se, à distância de quase 45 anos, não lhe parecia hoje estranho que aos 30 pudesse ter escrito um primeiro romance tão consistente e tão inovador como Maina Mendes, mas o elogio em causa própria não é o género de Maria Velho da Costa, que replicou logo que “a Agustina começou mais cedo” e que o que recorda da época em que escreveu o romance é que se sentia “muitíssimo insegura”. E adianta que muitos escritores a influenciaram, mas exclui Camões desse rol, porque “esse não é uma influência, é um culto”.» («Prémio da APE a Maria Velho da Costa consagra uma obra que revolucionou a ficção portuguesa», Luís Miguel Queirós, Público, 3.12.2013, p. 30).

      Talvez seja mais comum a expressão «elogio em boca própria». Quanto ao mais, ainda não li o romance Maina Mendes, elevado aos píncaros: «Após o livro de contos O Lugar Comum, publicou em 1969 o seu romance de estreia, Maina Mendes, cujo experimentalismo narrativo e linguístico revolucionou a ficção portuguesa nesses anos que antecederam a queda do regime» (idem, ibidem).

 

  [Texto 3614]