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Linguagista

O estado da nação

Dobrado contra singelo

 

 

      «Da língua, estamos falados. Não me refiro apenas ao desconhecimento da sua história. Sucessivas gerações ligadas ao ensino têm dado cabo dela e contribuído para o seu abastardamento. Práticas diárias na comunicação social coadjuvam essa torpeza. É estropiada por toda a gente em todas as áreas do quotidiano e do saber. Da Literatura, depois de décadas em que o ensino andou divorciado dela ou se dedicou a exercícios metodológicos que corresponderam ao seu assassínio progressivo, vivemos numa ignorância deprimente. Basta ler os jovens escritores que se candidatam a concursos literários (e tenho feito essa experiência por pertencer a vários júris). Eu apostaria, dobrado contra singelo, que, salvo muito raras, mas mesmo muito raras excepções, não têm qualquer experiência, por muito elementar que seja, da grande tradição literária da nossa língua e do património que a integra. Dá-me ideia de que é gente que leu algum autor dos últimos vinte anos, e pouco mais. Não aprenderam absolutamente nada com mais ninguém. Para trás do mínimo que leram, é como se a literatura portuguesa não existisse nem tivesse um cânone, não fosse lida por inútil ou desnecessária, e se encontrasse relegada para o baú das inutilidades no sótão das insignificâncias pátrias» («O remorso», Vasco Graça Moura, Diário de Notícias, 11.12.2013, p. 54).

 

  [Texto 3656]

Como se escreve nos jornais

Avarias, muitas

 

 

      «Eleanor Parker nasceu no Ohio, a 26 de Junho de 1922. Ainda estudante do liceu, começou a fazer teatro e, segundo a agência Efe, haveria mesmo de preferir os palcos a um convite, aos 15 anos, para assinar contrato com a 20th Century Fox. Mas Hollywood haveria de convencê-la quando aos 18 aceita ligar-se à Warner Brothers – segundo o site InternetMovieDatabase, a sua primeira experiência no cinema, não creditada e também excluída da montagem final, aconteceu no clássico Todos Morreram Calçados (1941), de Raoul Walsh» («Morreu a baronesa de Música no Coração», Sérgio C. Andrade, Público, 11.12.2013, p. 31).

 

  [Texto 3655]

Tradução: «intoxicating»

A trouxe-mouxe

 

 

      «O jornal [The Sunday Times] exalta a colaboração entre a fadista e o produtor Larry Klein, destacando a forma como uniram o fado à pop. “Alguns puristas não quiseram saber da tentativa da estrela do fado de alargar os horizontes misturando tradição com Joni Mitchell, mas a forma como canta é intoxicante”, lê-se no top que coloca Ana Moura à frente de nomes como Leyla Mccalla [sic] e Kobo Town» («Ana Moura tem o melhor disco de 2013 para o Sunday Times», Público, 11.12.2013, p. 31).

      Não sei o que está no original, mas imagino que seja intoxicating, que não se traduz, em especial neste contexto, por «intoxicante», mas por «inebriante», «embriagador», por exemplo.

 

  [Texto 3654]

Ortografia: «laurissilva»

Tudo pequeno

 

 

      «“A recente amálgama pela UICN das Platantheras dos Açores numa suposta espécie única na sua Lista Vermelha precisa de ser anulada, porque a Platanthera azorica é indiscutivelmente a orquídea mais rara da Europa e a quase igualmente rara Platanthera micrantha é um dos melhores indicadores dos habitats seminaturais de laurissilva que restam nos Açores”, defendem os cientistas no seu artigo. “Ambas as espécies estão ameaçadas pela destruição do habitat e plantas exóticas invasoras.”» («A orquídea mais rara da Europa é açoriana», Teresa Firmino, Público, 11.12.2013, p. 29).

      Já esta semana, li um texto em que o termo «laurissilva» («floresta húmida e endémica da Macaronésia, região formada pelos arquipélagos da Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde, constituída principalmente por árvores da família das Lauráceas», lê-se no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora) aparecia repetidamente com maiúscula inicial. Manias.

 

  [Texto 3653]

Tubinga/Tübingen

Assim é que é

 

 

      «Face aos novos desenvolvimentos, Richard Bateman, especialista em orquídeas e em particular as do género Platanthera, pediu emprestados os exemplares que tinham sido utilizados no século XIX como referência para descrever duas novas espécies endémicas dos Açores e que actualmente se encontravam preservados no herbário de Tubinga, na Alemanha. Esse material tinha sido apanhado em 1838, pelo botânico alemão Karl Hochstetter, durante uma viagem a seis das nove ilhas açorianas. E foi utilizado por Moritz August Seubert, também um botânico alemão, para descrever as duas espécies de orquídeas no primeiro livro dedicado às plantas dos Açores, a Flora Azorica, de 1844» («A orquídea mais rara da Europa é açoriana», Teresa Firmino, Público, 11.12.2013, p. 28).

 

  [Texto 3652]

Como se escreve nos jornais

«Classificado»?

 

 

      «O segundo classificado na corrida para bastonário dos advogados, Guilherme Figueiredo, anunciou ter entregue no Tribunal Administrativo de Lisboa, na segunda-feira, um pedido de impugnação das eleições que deram a vitória a Elina Fraga no final do mês passado. Motivo: o facto de não ter existido uma segunda volta na votação» («Impugnação da eleição da bastonária em tribunal», Ana Henriques, Público, 11.12.2013, p. 12).

 

  [Texto 3651]

Léxico: «geoturismo»

Semelhantes

 

 

      «“Dinossauros passeavam-se nestas margens de um mar jurássico tropical a subtropical, como aqueles que têm sido encontrados no concelho de Porto de Mós e até aquele que foi identificado na Batalha, o que vem provar que a Europa ainda se encontrava ligada ao continente norte-americano”, afirma o arqueólogo, que apresentou no final de Novembro uma recomendação na Assembleia Municipal, aprovada por unanimidade, com vista à classificação do local. “O presidente da câmara quer criar um geoparque no concelho e este local é a cereja no topo do bolo, a alavanca potenciadora do geoturismo na região”, considera [o arqueólogo e geólogo António José Teixeira]» («Encontrados vestígios de praia do jurássico», Marisa Soares, Público, 11.12.2013, p. 16).

      O mais próximo que os dicionários registam é «geotermismo». Bem, pode fazer-lhe companhia.

 

  [Texto 3650]

Léxico: «azobé»

Preferível

 

 

      «Por esta razão, foi agora substituída por um passadiço de madeira de azobé — uma madeira africana densa e resistente — que, segundo a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), é “adequada às condições atmosféricas e do mar”, assim como ao “eventual ataque de xilófagos marinhos”, organismos que perfuram e deterioram a madeira» («Acesso à Torre de Belém melhorado com novo passadiço de madeira», André Vidal, Público, 11.12.2013, p. 17).

    Ora, de certeza que tem um nome comum mais português. Não é o carvalho-de-áfrica? Botânicos, acudi. De qualquer maneira, antes azobé que red ironwood.

 

  [Texto 3649] 

«Costa sul»

Pois, mas não

 

 

      «A forte ondulação provocou ontem danos consideráveis na costa Sul da Madeira. As condições atmosféricas adversas afectaram as ligações áreas, com o cancelamento de nove escalas de aviões no aeroporto madeirense que foram desviados para o Porto Santo, Lisboa e Lanzarote» («Temporal fez estragos na costa Sul da Madeira», Tolentino de Nóbrega, Público, 11.12.2013, p. 17).

      Está errado: é costa sul. «No dia 28, nova referência, agora relativa à ilha de São Lourenço (Madagáscar): estou da cabeça da ilha de S. Lourenço 200 léguas. Supomos, como é evidente, tratar-se aqui da costa sul da ilha por ser a que se encontra mais próxima da posição da nau. Por outro lado, parece-nos que a designação pitoresca de cabeça se deve a uma deficiente representação topográfica dessa ilha nas cartas antigas, como a que reproduzimos por decalque na Fig. 13 (149)» (A Viagem de Regresso da Índia da Nau «São Pantaleão» no Ano de 1596, J. R. Vaz Monteiro. Coimbra: Separata da Revista da Universidade de Coimbra, Vol. XXV, 1974, p. 51).

 

  [Texto 3648]