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Linguagista

«Trintenário/trintanário»

Fora da almofada da carruagem

 

 

     «Não é a primeira cara que os hóspedes vêm quando chegam ao Sheraton Hotel & Spa do Porto, mas quase. Não é a primeira cara, mas até já foi. Na verdade, Firmino Alves, 52 anos, começou a trabalhar neste hotel pouco antes da abertura oficial (2004), como trintenário. “De cartola, sobretudo, luva branca”, descreve — iguais aos que ainda hoje recebem os clientes à porta do hotel —, e com regras rígidas — “Não abrir a porta enquanto pagam o táxi, as senhoras primeiro...”» («Quem são as pessoas que fazem os hotéis?», Andreia Marques Pereira e Carla B. Ribeiro, «Fugas»/Público, 14.12.2013, p. 4).

      É muito simples: ouviram mal, o que pode acontecer a qualquer de nós; e não foram verificar num dicionário, o que só os descuidados fazem. Trintenário é o indivíduo com idade na casa dos trinta anos; trintanário é o empregado de hotel com a função descrita. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora desconhece a acepção; para este dicionário, mas não é o único, «trintanário» é apenas o «lacaio que se senta ao lado do cocheiro, na almofada da carruagem».

 

 

  [Texto 3667]

Como se escreve nos jornais

Deixem-se disso

 

 

      «Michael Lapsey nasceu na Nova Zelândia, mas instalou-se na África do Sul, onde se juntou
à luta anti-apartheid. Em 1976, tornou-se líder religioso do Congresso Nacional Africano (ANC)» («“A reconciliação é uma viagem” que ainda não terminou na África do Sul», Ana Dias Cordeiro, Público, 14.12.2013, p. 24).

      Metade em itálico, metade em redondo é o cúmulo do ridículo, mas eles ainda não pensaram nisso. Devem pensar que em inglês não existe o elemento «anti-». Já esta semana, li no Diário de Notícias «antiapartheid», grafado em itálico, o que também está errado.

 

  [Texto 3666]

O politicamente correcto

Grande recomendação

 

 

  «Em Portugal, o politicamente correcto vai fazendo o seu caminho. Com resoluções
 da Assembleia da República que recomendam, por exemplo, nos documentos oficiais que “seja substituída a expressão direitos do homem pela expressão direitos humanos”. O problema são os portugueses. Ou, neste caso, uma portuguesa em particular. Assunção Esteves, a primeira “presidenta” da história da AR, cometeu o pecado de usar a arcaica expressão “direitos do homem”. Pelo que aconteceu na entrega dos prémios dos Direitos Humanos, o politicamente correcto ainda tem de penar umas décadas para passar a doutrina dogmática» («O deslize de Assunção Esteves», Público, 14.12.2013, p. 8).

 

  [Texto 3665]

Não é só em Setúbal

É o xarroco

 

 

      «Na rua desde 2009, o PÚBLICO encontrou-o a arrumar o colchão e a preparar-se para dormir. Carrega nos R quando fala, mas o pior que lhe podem fazer é duvidar da sua origem. “Sempre a perguntar se sou de Lisboa! Claro que sou de Lisboa. Não é só em Setúbal que se fala assim.”» («Oitocentas pessoas para contar, um por um, os sem-abrigo de Lisboa», João Ruela Ribeiro, Público, 14.12.2013, p. 10).

  Xarroco é o nome que se dá ao falar sadino, acepção que falta no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Mais estranho ainda: xarroco é também o nome que se dava no Alentejo, e isto sei-o há muito, à dedeira que os ceifeiros usavam para se proteger dos golpes da foice, mas este dicionário diz que o termo é do Paraguai. Do Paraguai! E no plural, «xarrocos», lê-se também neste dicionário, siginifica «sapatos velhos» e é termo do Paraguai. Estão a referir-se ao país da América do Sul? Não se enganaram de dicionário?

    Agora com o jornalista. Caro João Ruela Ribeiro, «carrega nos R»? Não: carrega nos rr.

 

  [Texto 3664]