Ficamos à espera
«Os textos são naturalmente desiguais, e decerto que a autora não os teria publicado exactamente assim, mas em quase todos eles aparece uma dessas tiradas aforísticas que só Agustina poderia ter escrito. Podemos, por exemplo, torcer o nariz à aparente banalidade da sua crítica a Os Lusíadas, nos quais vê uma narrativa “pomposa e, no geral, fria” – Camões, sugere, ter-se-ia preocupado mais em agradar ao rei do que em ser fiel à verdade histórica –, mas depois atordoa-nos com a inesperada tirada final: “Não se deve exagerar em ser verdadeiro, excepto se nisso houver algo de inimitável.”» («Os pensamentos que Agustina esquecia pelas gavetas da casa», Luís Miguel Queirós, Público, 29.12.2013, p. 34).
Montexto tem razão, isto é uma tolice. Não me fica mal dizer que Montexto tem quase sempre razão, pelo menos enquanto não se conseguir provar que eu sou Montexto, tarefa que Fernando Venâncio me garantiu conseguir levar a bom termo. Assim ele queira. Entretanto, deixo dois exemplos, um do lado de cá, outro do lado de lá do Atlântico.
«Poupei muitas horas de sofrimento inútil e dediquei-as aos Lusíadas. De volta a casa, ao fim da tarde, mergulhava gostosamente nas páginas daquele livro grosso, de capa encarnada, e deliciava-me a ler, a interpretar, a dividir as orações, esse sim, um desafio e tanto, que afligia imensa gente e que eu adorava» (Tudo Tem o Seu Tempo, Ana Maria Magalhães. Lisboa: Editorial Caminho, 2012, p. 258). «Mas, deixemos a lírica camoniana e regressemos aos Lusíadas» (Utopia, Utopias, Beatriz Berrini. São Paulo: Educ, 1997, p. 99).
[Texto 3732]