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Linguagista

Vocabulário de mudança

Fica para a próxima

 

 

      «Entretanto, [Saturnino Monteiro] já tinha passado pela Escola Naval como professor de História e Organização Militar. E dedicado bastante tempo a outra das suas paixões, o ensino programado. Em 1980, com o posto de capitão-de-mar-e-guerra, deixou o serviço ativo» («O senhor dos mares», Ricardo Marques, «Atual»/Expresso, 28.12.2013, p. 31).

      Se deixou o serviço «ativo», então era «capitão de mar e guerra», não acha, caro Ricardo Marques? Está bem, fica para a próxima.

 

  [Texto 3757]

«Trabalho alimentar»

Há-de ser inglesa

 

 

   «Um funcionário anónimo da Warner recomendou a peça [de Murray Burnett] ao produtor Hal B. Wallis, dizendo que continha material aproveitável. Wallis achou que era apenas um trabalho alimentar mas com coisas boas em termos de cinema e comprou-a por 20 mil dólares, soma considerável para um texto que nem sequer fora estreado» («E o tempo não passa por “Casablanca”», Jorge Leitão Ramos, «Atual»/Expresso, 21.12.2013, pp. 14-15).

    Acho que já tinha lido ou ouvido por aí uma vez, mas não deixa de ser estranhíssima. E há-de vir, é o nosso fado, forçosamente do inglês.

 

  [Texto 3756]

«Helicóptero medicalizado»

Vá lá

 

 

    «O ex-piloto [Michael Schumacher] foi transportado num helicóptero medicalizado para o hospital de Moûtiers antes de ser transferido para o CHU [Centro Hospitalar Universitário] de Grenoble[,] que é uma unidade especializada em traumatismos resultantes de acidentes de esqui» («Schumacher está em coma e estado crítico após queda», Madalena Esteves, Diário de Notícias, 30.12.2013, p. 30).

    Hélicoptère médicalisé, em francês. Só surpreende ainda não estar em todos os dicionários da língua portuguesa.

 

  [Texto 3755]

«Fazer aterrar»

Preferências

 

 

      «O coronel Villalobos Filipe, vice-presidente da Associação 25 de Abril e o primeiro piloto-aviador [sic] da Força Aérea a aterrar um helicóptero num navio de guerra da Armada [na fragata Nuno Tristão], faleceu no sábado» («O primeiro piloto de helicóptero a aterrar num navio da Armada», Manuel Carlos Freire, Diário de Notícias, 30.12.2013, p. 9).

      Está bem, mas, como já sabem, prefiro assim: «Nos princípios dos anos sessenta, o lendário capitão piloto aviador Orlando Amaral, como não havia ainda pista de aviação, vendo aquela estrada de lodo provocada pela maré baixa, fez aterrar aí com perícia o Dornier» (Deixei o Meu Coração em África, Manuel Arouca. Lisboa: Oficina do Livro, 2005, p. 297).

 

  [Texto 3754]

«Octanônima»!

Francamente

 

 

      «E ainda teve tempo para um único protesto na 89ª [sic] edição (ou “octanônima”, como dizia o locutor) da prova: o de um torcedor, com camisa da Portuguesa, contra o rebaixamento de seu time para a Série B» («Na Paulista, o papa é pop, e o protesto, luso», Marcel Merguizo, Folha de São Paulo, 1.01.2014, p. B7).

      Caro Marcel Merguizo, dito assim até parece dar a entender que é outra forma, e correcta, de dizer o numeral, e não é, está errado. Alguém corrigiu o locutor, e ele depois já dizia que era a octogésima nona edição.

 

  [Texto 3753]

«Havia muitos anos»

Neste caso

 

 

      «Havia muitos anos que este estado de coisas provisório durava, a vida tinha aumentado em proporções desmedidas e o ordenado de Grand, a despeito de alguns aumentos gerais, era ainda irrisório» (A Peste, Albert Camus. Tradução de Ersílio Cardoso. Lisboa: Edições Livros do Brasil, s/d, p. 57). Como no original: «Il y avait de longues années que cet état de choses provisoire durait, la vie avait augmenté dans des proportions démesurées, et le salaire de Grand, malgré quelques augmentations générales, était encore dérisoire.»

 

  [Texto 3752]

«Saia-casaco/saia e casaco»

Essa é que é essa

 

 

      «Quando o médico entrou em casa, a enfermeira já lá estava. Rieux viu a mulher de pé, com um saia-e-casaco, já pintada» (A Peste, Albert Camus. Tradução de Ersílio Cardoso. Lisboa: Edições Livros do Brasil, s/d, p. 20).

    Talvez se use mais do que «saia-casaco» e, no entanto, não está na maioria dos dicionários; não está, por exemplo, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Regista-o, sem hífenes, saia e casaco, a 50.ª edição do Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, de Magnus Bergström e Neves Reis.

 

  [Texto 3751]

«À medida que», de novo

À mesure que

 

 

      «Era do tempo, sem dúvida. Tudo ficava pegajoso nas mãos à medida que o dia avançava e Rieux sentia crescer a sua apreensão a cada visita» (A Peste, Albert Camus. Tradução de Ersílio Cardoso. Lisboa: Edições Livros do Brasil, s/d, p. 46).

      Já vimos e analisámos este «à medida que», por vezes repetido em frases seguidas, e, pior ainda, sem nenhum sentido. Importado directamente do francês. Ersílio Cardoso não quis ou não lhe soube fugir. «C’était le temps, sans doute. Tout poissait aux mains à mesure que la journée avançait et Rieux sentait son appréhension croître à chaque visite.»

 

  [Texto 3750]