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Linguagista

Léxico: «aberta»

À cautela, aspas

 

 

    Escreve-me o leitor R. A.: «Ouvi agora na SIC que estão hoje a trabalhar na lagoa de Óbidos para manter a aberta... aberta.» Nas últimas semanas, também eu já tinha ouvido e lido que querem manter aberta a aberta da lagoa de Óbidos. Não é neologismo nem nada que se pareça. Está nos dicionários: é uma abertura, uma passagem. No seguinte excerto de um artigo do Público, lá está a aberta, mas o jornalista Carlos Cipriano – nas palavras de Fernando Venâncio, «o melhor jornalista “ferroviário” português» – tremeu quatro vezes (no que ganhou ao mostrengo que está no fim do mar) e pespegou-lhe, à cautela, com aspas: «O canal de comunicação entre a lagoa de Óbidos e o mar deverá fechar-se a qualquer momento, devido a um acentuado assoreamento provocado pelas últimas marés. [...] O previsível fecho da “aberta” acontece um ano e meio depois de terem sido realizadas dragagens de emergência – no valor de 1,5 milhões – que fixaram a comunicação com o mar a meio do areal, na expectativa de que esta se mantivesse. Só que bastaram menos de 18 meses para a “aberta” se deslocar progressivamente para sul, aumentando a extensão da praia da Foz do Arelho, a norte (concelho das Caldas da Rainha), e diminuindo a do Bom Sucesso, a sul (concelho de Óbidos). Os humores das marés, porém, não só moveram a “aberta” do local onde era suposto ter sido fixada, como também a estão agora a fechar. [...] Conhecedor da lagoa, Paulo Lemos pôs em causa um estudo já existente que previa a construção de um muro-guia no meio do areal para fixar a “aberta”» («Lagoa de Óbidos corre o risco de perder a sua ligação ao mar», Carlos Cipriano, Público, 15.12.2013, p. 25).

 

  [Texto 3764]

«Volvogrado»?

Inventada no Público

 

 

      «O atentado foi de imediato associado aos Jogos Olímpicos de Inverno, que arrancam a 7 de Fevereiro em Sochi, estância balnear 690 quilómetros a noroeste de Volvogrado, e que Putin quer que sejam uma mostra do ressurgimento da Rússia após o colapso da URSS, em 1991. Um alvo mais do que apetecível para os extremistas islâmicos: em Julho, Doku Umarov, o autoproclamado emir do Cáucaso, divulgou um vídeo em que instruía os radicais a usarem “a máxima força” para impedir a realização dos Jogos» («Atentado em Volgogrado mata 16 pessoas e faz soar alarmes no Kremlin», Ana Fonseca Pereira, Público, 30.12.2013, p. 24).

   De vez em quando (podem confirmar agora), é isto que se lê no Público. Cara Ana Fonseca Pereira, esta não tem origem no nome do Volga, mas na Volvo, a marca de automóveis. Há-de situar-se na Suécia. Como é mais fácil de pronunciar, lá vai disto.

 

  [Texto 3763] 

Léxico: «liquénico»

E agora o adjectivo

 

 

   «A missão de Joana Marques consistiu em estudar a diversidade liquénica do parque, analisar de que forma as espécies são afectadas pelas variáveis ambientais e que tipo de erosão produzem na rocha» («As gravuras ou os líquenes? Felizmente não é preciso escolher», Kathleen Gomes, Público, 2.01.2014, p. 27).

 

  [Texto 3762]

Influência na toponímia

Mais quente e seco do que o Algarve

 

 

      «O Côa, que é descrito como “um santuário de arte rupestre”, nota Joana Marques, revelou-se também “um santuário para os líquenes”. “Já desconfiávamos que isso acontecesse, pelas características ambientais deste lugar: um vale quente e seco no Nordeste do país.” Mais quente e seco do que o Algarve — quando chove no Verão, a água evapora-se antes de atingir o chão, garante Joana. A toponímia local contém alusões ao calor: Canada do Inferno, Vale do Forno» («As gravuras ou os líquenes? Felizmente não é preciso escolher», Kathleen Gomes, Público, 2.01.2014, p. 27).

 

  [Texto 3761]

Léxico: «liquenólogo»

Vamos entesourá-lo

 

 

      «É uma área de estudo tão específica que os conservadores do Parque Arqueológico do Côa decidiram lançar mão a uma liquenóloga (um termo que não se encontra na maior parte dos dicionários de língua portuguesa)» («As gravuras ou os líquenes? Felizmente não é preciso escolher», Kathleen Gomes, Público, 2.01.2014, p. 26). Na maior parte? Só o encontrei no Aulete.

 

  [Texto 3760]

Ortografia: «tartelete»

Não desta vez

 

 

   «No caso de Joana Marques, as analogias vão sempre parar à doçaria.“As estruturas parecem tartelettes porque têm um rebordo crocante que parece massa de tarte folhada com um interior gelatinoso. Eu digo que são bolachinhas. E as pessoas concordam. Há umas bolas ocas com pintinhas brancas — parecem mesmo aquelas arrufadinhas com o açúcar em pó... É um micromundo. Havia quem lhes chamasse florestas em miniatura. Aliás, os arquitectos paisagistas usam líquenes nas maquetas quanto querem representar árvores. O que significa que algumas espécies de líquenes têm forma de árvore em miniatura.”» («As gravuras ou os líquenes? Felizmente não é preciso escolher», Kathleen Gomes, Público, 2.01.2014, p. 26).

   Cara Kathleen Gomes, não se esforce em vão: a palavra já está aportuguesada, tartelete.

 

  [Texto 3759]

O que são os líquenes

A confirmação

 

 

      «Apesar da ubiquidade das suas manchas esverdeadas ou amarelas em troncos de árvores e à superfície das rochas, os líquenes — que não são fungos nem algas, mas uma curiosa combinação dos dois — passam despercebidos a quase toda a gente. Mas isso é só porque a maior parte das pessoas não anda com uma lupa de bolso que aumenta dez vezes aquilo que se está a ver» («As gravuras ou os líquenes? Felizmente não é preciso escolher», Kathleen Gomes, Público, 2.01.2014, p. 26).

   Já sabíamos, e está nos dicionários. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «associação simbiótica de fungos com algas clorofíceas ou esquizófitas, que forma um grupo apêndice dos fungos, também designado talófitas».

 

  [Texto 3758]