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Linguagista

Tradução: «unbeknownst»

É só uma suspeita

 

 

      «Acusado pela oposição de envolvimento no caso, com o objectivo de punir o mayor de Fort Lee, o democrata Mark Sokolich, por este não ter apoiado a sua recandidatura a governador de Nova Jérsia, Chris Christie chegou a ridicularizar a situação, em resposta a uma pergunta de um jornalista numa conferência de imprensa, em Dezembro: “Fui eu que pus lá os cones. Estava disfarçado, mas estava lá, vestido com um macacão e um boné, a pôr os cones. Não estás mesmo a falar a sério, pois não?”» («A corrida de Chris Christie 
à Casa Branca pode ter parado num engarrafamento», Alexandre Martins, Público, 10.01.2014, p. 23).

      Será que é mesmo por «disfarçado» que se traduz a palavra que Chris Christie usou? Hum... «“I worked the cones, actually,” Christie said, when asked about the issue at a Statehouse news conference today. “Unbeknownst to everybody I was actually the guy out there, in overalls and a hat.”» O palpite do Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora é que «unbeknownst» — que raio de palavra — é um advérbio arcaico que significa «sem o conhecimento». Sendo assim, não é o mesmo. «Ridicularizar» não é para gagos.

 

  [Texto 3832]

«De modo que»

Parece-me a mim

 

 

  «As garantias políticas destes factores primários parece-me a mim que devem ter a sua consagração na Constituição Portuguesa, de modo que influam directa ou indirectamente na formação dos corpos supremos do Estado» (Discursos, volume primeiro, 1928-1934, Oliveira Salazar. Coimbra: Coimbra Editora, 1961, 5.ª ed., p. 37).

    E não — como leio quase todos os dias, e da lavra tanto de autores, como de tradutores ou jornalistas — «de modo a» ou, ainda pior, «de modo a que», muito usado pelos troca-tintas enfatuados.

 

  [Texto 3831]

«Que falta?»

Mais elegante

 

 

    «Que falta? Que se alarguem e intensifiquem a sua acção e influência em todos os domínios da vida social, e que possa formar-se, sob a sua inspiração, um novo espírito e uma mentalidade nova» (Discursos, volume primeiro, 1928-1934, Oliveira Salazar. Coimbra: Coimbra Editora, 1961, 5.ª ed., p. 38).

      «Que falta?» e não «O que falta?», mas apenas, e já é suficiente, porque é mais elegante, não por qualquer outra razão.

 

  [Texto 3830]

Regência de «amor»

E assim deve continuar a ser

 

 

    «Impõe-se aos governos uma política nacional; e em face dela aos governados impõe-se também uma atitude, um sentimento nacional ­— com a disposição de trabalhar pela Nação, o apreço, o amor do que é português» (Discursos, volume primeiro, 1928-1934, Oliveira Salazar. Coimbra: Coimbra Editora, 1961, 5.ª ed., p. 35).

      A propósito da regência de «ódio», comentou Montexto: «Não só ódio, mas qualquer sentimento. A substituição das regências lidimamente portuguesas em tais conjunturas – de, a, com, para com – veio do lugar do costume. Que de vezes aqui citei o § 206 da Sintaxe! Nem há-de ser esta a última.» Com todos os sentimentos, naturalmente que sim. Hoje apenas quero exemplificar com outro sentimento.   

 

  [Texto 3829] 

«Câmaras municipais»

Ainda podem aprender com ele

 

 

  «Meus Senhores: — Vão para V. Ex.ª, Sr. Ministro [da Justiça, Dr. Lopes da Fonseca], e para o Governo os meus primeiros agradecimentos pela bondade das suas palavras e pela comparticipação na homenagem que resolveram prestar-me as câmaras municipais» (Discursos, volume primeiro, 1928-1934, Oliveira Salazar. Coimbra: Coimbra Editora, 1961, 5.ª ed., p. 21).

   Neste caso, serve para os jornalistas, mas não apenas eles, aprenderem que, se está no plural, então é de certeza com minúscula inicial que se escreve: câmaras municipais.

 

  [Texto 3828]

«Em equação com»

Para variar, pelo menos

 

 

      «Mas, mais importante que a actividade legislativa é a radicada atitude de espírito de que em todo o conjunto da administração os actos, as decisões, os organismos hão-de estar em equação com a realidade que aparentam» (Discursos, volume primeiro, 1928-1934, Oliveira Salazar. Coimbra: Coimbra Editora, 1961, 5.ª ed., p. 29)

    Muito melhor, francamente, do que uma forma agora muito em voga, e com que embirro solenemente: «em linha com».

 

  [Texto 3827]

Interrogativas seguidas com minúscula

Claro que se pode escrever assim

 

 

  «Têm os trabalhadores direito a uma melhoria na sua vida, na sua condição? a melhor casa? a mais e melhor instrução? Sem dúvida alguma» (Discursos, volume primeiro, 1928-1934, Oliveira Salazar. Coimbra: Coimbra Editora, 1961, 5.ª ed., p. 15).

 

  [Texto 3826]

«Porquê/porque/por que»

Aprender com o Botas

 

 

  «Porquê este milagre? Porque muito boas almas de Portugal oram, anseiam por que continue neste lugar» (Discursos, volume primeiro, 1928-1934, Oliveira Salazar. Coimbra: Coimbra Editora, 1961, 5.ª ed., p. 10). «O meu pensamento vou expô-lo, indicando a razão por que os coloco por aquela ordem e não por outra» (idem, ibidem, p. 12).

 

  [Texto 3825]