Se é isso que pensam
«Só que o sr. Hollande é Presidente e, como
tal, precisa de exibir uma certa gravitas e, no dia seguinte, quando se resolveu a revelar uma nova política económica, nenhum dos presentes deixou com certeza de ver por baixo da figura pomposa do chefe do Estado o “estafeta de pizza”, com a sua scooter e o seu capacete, saindo furtivamente do Eliseu a caminho da sra. Gayet
e dos croissants dos Serviços Secretos» («Falta de imaginação», Vasco Pulido Valente, Público, 18.01.2014, p. 48).
Agora imaginem que alguém corrigia o que o nosso cronista escreveu: Mademoiselle Gayet e não Sra. Gayet (aqui sou eu que o corrijo). Apesar de muito rodada, Julie Gayet ainda é, presumo, solteira, daí o mademoiselle. Se os Brasileiros têm uma forma própria de tratamento para as mulheres novas não casadas, senhorita, nós não temos. Quer dizer, não temos, mas de quando em quando usamos esta. A personagem Fräulein Krömeier, do romance alemão Er Ist Wieder Da, de Timur Vernes, é a senhorita Krömeier na tradução para português, publicada pela Lua de Papel. Contudo, poucos são os tradutores portugueses (ou, por vezes, autores, se as personagens são inglesas) que prescindem de Mr., Mrs. e Miss. E, por causa disto, também mandam recados: «Sra. *** (em português) só indica que ela já não é nova: não indica que é casada, como ocorre na língua inglesa.» Para eles, esta que nos calhou é uma língua de merda, falha dos melhores meios de expressão. Uma tristeza.
[Texto 3873]