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Linguagista

«Americanos/americanos»

Esta é uma causa perdida

 

 

      «Agora, ouvira dizer que nas mesquitas e nos bazares só se ouvia falar de uma guerra santa contra os Americanos, a começar na Ashura. Faltavam cinco dias, mas os americanos em Teerão mostravam-se surpreendentemente calmos» (O Voo das Águias, Ken Follett. Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2013, 3.ª ed., p. 22).

    É o critério certo. Seria excelente se se mantivesse até ao fim da tradução, mas já comprovei que, infelizmente, não.

 

  [Texto 3930]

Tradução: «clip»

Afinal, não compensa

 

 

      «Um dos soldados ainda estava a carregar a arma. Tentava enfiar o clipe ao contrário, e a peça não entrava» (O Voo das Águias, Ken Follett. Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2013, 3.ª ed., p. 33).

      Claro que não entrava, isso de tentar carregar as armas com material de escritório é de doidos. Senhoras tradutoras, em inglês, clip é polissémico, mas em português nem por isso. Não significa, por exemplo, «carregador». «He was trying to put the clip in backwads, and it would not fit.» Imperdoável, é o que é.

 

  [Texto 3929]

Os Coburns

Isto já compensa

 

 

      «À semelhança da maioria dos americanos em Teerão, Coburn alugava metade de uma casa familiar de dois andares: ele e a mulher habitavam no primeiro andar, e a família do senhoria no rés do chão. Quando os Coburns tinham chegado, em março daquele ano, o senhorio tomara-os sob a sua proteção» (O Voo das Águias, Ken Follett. Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2013, 3.ª ed., p. 21).

 

  [Texto 3928]

Tradução: «intelligence»

Nem só condenar

 

 

      «Coburn também conhecia alguns funcionários da secreta dos militares americanos e telefonou-lhes» (O Voo das Águias, Ken Follett. Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2013, 3.ª ed., p. 20).

      Alguns desses comentadores que vão à televisão até se arrepiariam, mas por mim está perfeito. No original, está, como é óbvio, «intelligence officers in the US military».

 

  [Texto 3927]

Tradução: «corporation»

Não precisamos dela

 

 

      «A maior corporação americana da cidade era a Bell Helicopter, que, no Irão, era dirigida por um major-general na reserva, Robert N. Mackinnon» (O Voo das Águias, Ken Follett. Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2013, 3.ª ed., p. 20).

    Empresa, firma, companhia, por exemplo, traduzem muito melhor o termo «corporation». Sugiro a leitura da entrada na página 196 do Guia Prático de Tradução Inglesa, de Agenor Soares dos Santos (Rio de Janeiro: Elsevier, 2007).

 

  [Texto 3926]

Preposição de matéria

Tudo de madeira

 

 

      «Tinha soalho de madeira, uma elegante secretária de executivo em madeira, e uma fotografia do Xá na parede» (O Voo das Águias, Ken Follett. Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2013, 3.ª ed., p. 19).

      O soalho é «de madeira», mas a secretária já é «em madeira». Não sei o que defende a doutrina usmaia, mas o emprego erróneo desta partícula, por influência do francês, não deve merecer tanta complacência.

 

  [Texto 3925]

Tradução: «uptown»

E periferia?

 

 

      «Jay Coburn, diretor de pessoal da EDS Corporation no Irão, estava sentado no seu gabinete, na zona norte de Teerão, com muito em que pensar» (O Voo das Águias, Ken Follett. Tradução de Isabel Nunes e Helena Sobral. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2013, 3.ª ed., p. 19).

      Na tradução brasileira, de A. B. Pinheiro de Lemos, lê-se «na parte alta de Teerã». É o mesmo? No original, está «in uptown Tehran». Sabe-se o que é em inglês: a área residencial de uma cidade. Podemos, por isso, traduzir por Alta (parte residencial de uma cidade) por oposição a Baixa, centro administrativo e comercial de uma cidade. Curiosamente, no Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, só está registado como adjectivo e como advérbio. Lá se fica a norte ou a sul, isso já é outra coisa. Mais sugestões?

 

  [Texto 3924]

«Collection day»

Ao que nos reduziram

 

 

   «Nos dias 16, 17 e 18 de Outubro, os portugueses que guardam memórias de parentes que combateram na I Guerra Mundial serão convidados a ir à Assembleia da República mostrar essas relíquias familiares — postais, cartas, fotografias, medalhas, mapas, diários, fardas, objectos do quotidiano — e contar as histórias que lhe estão associadas. Com organização do Instituto de História Contemporânea (IHC) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova em conjunto com o Parlamento, este collection day, no qual irão ainda colaborar outras instituições, promete ser um dos acontecimentos mais mediáticos deste primeiro ano de evocação da guerra de 1914-1918» («Vá ao Parlamento mostrar as recordações do avô que combateu na primeira guerra», Luís Miguel Queirós, Público, 26.01.2014, p. 8).

   Tinha de ter, compreende-se, um nome inglês, ou a maioria dos interessados não ia perceber.

 

  [Texto 3923]

Da investida à praxe

Assim se chamava

 

 

      «Os castigos sobre os mais novos, como os “canelões” (os mais velhos davam pontapés nas canelas dos recém-chegados a Coimbra), eram praticados já no século XVII. Não se fala, então, de “praxe”, antes de “investida”. E esta podia incluir “insultos”, “troças”, ou castigos, como obrigar o jovem aluno a prestar serviços aos mais velhos (limpando-lhes os sapatos, por exemplo). [...] Por meados do século XIX, o termo “praxe” substitui “investidas”, “caçoadas” e “troças”» («Praxe, polémica e violência, uma história com séculos», Andreia Sanches, Público, 26.01.2014, p. 16).

 

  [Texto 3922]