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Linguagista

Tradução: «bat»

O que interessa é a verdade

 

      «Depois do jogo, o Billy ficava sempre mais um pouco para ajudar a arrumar os bastões e as bolas» (As Maçãs do Sr. Peabody, Madonna. Tradução de Miguel e Susana Serras Pereira. Lisboa: Dom Quixote, 2007, 2.ª ed., p. 9). Mas no sábado seguinte: «O Billy arrumou as bolas e os tacos, e o Sr. Peabody começou o seu passeio» (idem, ibidem, p. 13). No original está, nos dois casos, bats. Não me parece que seja caso para variar a forma como se traduz a palavra ao longo da obra.

 

[Texto 4104]

«Professores em direito penal»?

Doutores e professores 

     

      «A PGR lembra ainda as divergências entre posições assumidas por professores em direito penal e os tribunais superiores sobre a admissibilidade dos acordos de sentença. “A complexidade jurídica da questão sugere a necessidade de aprofundamento da reflexão sobre a mesma, designadamente quanto à posição a assumir pelo Ministério Público no âmbito das suas atribuições no exercício da acção penal”, lê-se na directiva» («Joana Marques Vidal proíbe procuradores de fazerem acordos em sentenças penais», Mariana Oliveira, Público, 22.02.2014, p. 13).

      Já tinha perguntado a mim próprio em que bases legais assentavam estes acordos de sentença: em nenhumas, vem agora a PGR lembrar. Mas voltando às nossas coisas: «professores em direito penal» ou «professores de direito penal»? Licenciado em, mas professor de. Doctor in utroque jure.

 

[Texto 4103] 

«Analisa a “Economist”»

Prémio João de Araújo Correia

 

   Embora se arrisque a ser sempre lembrada pela «impunidade parlamentar», Ana Gomes Ferreira também, naturalmente, é autora de acertos que merecem ser imitados: «Os erros de gestão económica e o elevadíssima corrupção danificaram irremediavelmente o projecto socialista de Hugo Chávez, analisa a Economist» («Nicolás Maduro anuncia uma grande operação para prender opositores», Ana Gomes Ferreira, Público, 22.02.2014, p. 22). Ora a jornalista há-de saber que o nome da revista é The Economist, mas omitiu, e muito bem, o artigo do título.

 

[Texto 4102]

«Impunidade parlamentar»!

Mais inimputabilidade

 

      «Corina Machado, a número dois do VP, é outro alvo: o processo para retirar a impunidade parlamentar a esta deputada já começou e o objectivo é acusá-la no processo contra López, acusado de actos de delinquência e associação delinquente» («Nicolás Maduro anuncia uma grande operação para prender opositores», Ana Gomes Ferreira, Público, 22.02.2014, p. 22).

      Ana Gomes Ferreira, então não é «imunidade parlamentar» que se diz? Aliás, esta é mais parecida com inimputabilidade parlamentar. Vá lá, e tenha cuidado.

 

[Texto 4101]

Tradução: «monitor»

Que admoesta, adverte ou dirige

 

      «A Comissão Internacional de Verificação do cessar-fogo da ETA deu conta dos últimos desenvolvimentos do processo para a entrega e inutilização do arsenal de armas da organização separatista basca, e reputou esses passos como “credíveis e significativos” para o fim do terrorismo e a conclusão do processo de paz no País Basco. [...] De acordo com Manikkalingam, a ETA desactivou 16,5 quilos de explosivos, dois revólveres, uma pistola e uma espingarda, 300 balas, uma granada, temporizadores e 180 metros de cordão detonante. A entrega desse material aos supervisores internacionais por membros do grupo terrorista foi documentada em vídeo, com o registo a ser divulgado à imprensa como prova da intenção do “abandono definitivo” das armas pela organização terrorista» («Monitores internacionais confirmam inutilização de parte do arsenal
 da ETA», Rita Siza, Público, 22.02.2014, p. 23).

      Desta vez, o erro não está no corpo da notícia, mas somente no título. Em inglês é que monitor é «a person who observes a process or activity to check that it is carried out fairly or correctly, especially in an official capacity». A jornalista usou o termo «supervisor», mas o mais comum é, nesta acepção, «observador».

 

[Texto 4100] 

Ortografia: «ciberactivismo»

Perderam a letra

 

      «“Sabemos que a pena de morte não foi abolida ainda na Guiné Equatorial e não sabemos se será abolida. Sabemos que, há duas semanas, foram executadas nove pessoas na Guiné Equatorial”, disse à agência Lusa a investigadora do Centro de Estudos Africanos do ISCTE, que já realizou um estudo sobre o ciberativismo na Guiné Equatorial, publicado em 2011. De acordo com a especialista, estas pessoas foram “sumariamente executadas sem direito a uma apelação”» («Investigadora denuncia nove execuções sumárias na Guiné Equatorial», Público, 22.02.2014, p. 25).

   Tão preocupados com os cc e os pp e depois deixam-nos escapar ineptamente. É curioso ver que «ciberactivismo» ainda não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, onde até já está registado «cibercondria». Não sofro.

 

[Texto 4099]

Tradução: «capacity»

Obama meets with Dalai Lama

 

      «O Governo de Pequim exigiu o cancelamento da reunião, mas o pedido não foi atendido. “O Presidente está neste momento a receber sua santidade o Dalai Lama na sua capacidade de líder religioso e cultural”, informava uma nota publicada no Twitter do Conselho Nacional de Segurança dos EUA» («Encontro de Obama com o Dalai Lama irrita a China», Rita Siza, Público, 22.02.2014, p. 25).

      Está mal traduzido, Rita Siza. No original lê-se: «The White House said Obama was meeting with the Dalai Lama in the visitor’s capacity as a cultural and religious leader.» Agora — já fiz isto antes, não volto a fazê-lo — consulte um dicionário bilingue e pense.

 

[Texto 4098]

Séculos. Números romanos

Porque sim

 

 

      «No século 21, o esforço de representação nacional oficial tem de ser feito de forma bem mais inteligente e seguramente
menos identitária. O que me parece mais importante neste momento é a necessidade de as instituições responsáveis pela representação assegurarem o carácter universalista da sua actuação, no sentido
em que são veículos privilegiados de valores partilhados entre diferentes países» («Representação nacional e hiperidentidade», Miguel Magalhães, Público, 22.02.2014, p. 51).

      Hiperidentidade... Enfim, e a identidade do português, não interessa? No Brasil é que os séculos são indicados por algarismos árabes, nós usamos a numeração romana. Tradições e convenções, querem deitar tudo abaixo. E o autor do texto é «gestor cultural».

 

[Texto 4097] 

Obstinada cruzada

Opinião de referência

 

 

      «O AO não se impõe a ninguém salvo nos exames oficiais de português. Cada um escreve como entender e se faça entender. Fernando Pessoa recusou a revisão ortográfica de 1911 e abominava que se escrevesse “Rei” sem “y”. Nenhum mal veio ao mundo, mas os opositores do AO, numa atitude fundamentalista, querem que este seja enterrado» («Obstinada oposição», M. Gaspar Martins, Público, 22.02.2014, p. 51).

      É o último parágrafo de um texto, sem pés nem cabeça, sobre o Acordo Ortográfico, parte da obstinada cruzada do Público. O autor é «bancário jubilado». Valha-me Deus...

 

[Texto 4096]