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Linguagista

Sobre «resultar em»

Isto interessa-nos

 

 

  «La expresión resultar en no es adecuada para introducir las consecuencias de una acción o situación, un sentido que se expresa adecuadamente con las formas dar como resultado y ocasionar.

      El giro resultar en aparece ocasionalmente en las noticias, como en “El endeudamiento creciente del país resulta en enormes inflaciones y devaluaciones” y “La excelente selección del programa resultó en una noche de brillante sinfonismo”. Las Academias de la Lengua señalan en la Gramática que la construcción una causa resulta en un efecto no es la apropiada para expresar que una cosa ocurre a causa de otra, pues la adecuada con este significado es de una causa resulta un efecto, tal como se indica en el Diccionario del estudiante, también de las Academias.

   Así, en los ejemplos anteriores habría sido más apropiado haber escrito “El endeudamiento creciente del país ocasiona enormes inflaciones y devaluaciones” y “De la excelente selección del programa resultó una noche de brillante sinfonismo”.

   Otras alternativas que pueden ser apropiadas en función del contexto son tener como resultado, dar lugar a, provocar, causar conllevar» (Fundéu, 25.03.2014).

 

[Texto 4291]

Sobre «desahucio»

Uma questão de confiança

 

 

      «Los desahucios de viviendas realizados por los juzgados de primera instancia y mixtos tras el impago de los préstamos hipotecarios alcanzaron la cifra de 67.189 en 2013, según el informe de la Sección de Estadística del Consejo General del Poder Judicial. Es decir, hubo una media de 184 desalojos diarios de pisos, locales, garajes, comercios...» (in El País).

      Completamente diferente de qualquer palavra nossa. Ou será que não? Equivale ao nosso despejo. Segundo Joan Coromines, no seu Breve Diccionario Etimológico de la Lengua Española, o termo começou a usar-se no século XIII. Vem do verbo arcaico afuciar, que significava «ter esperança, avalizar ou garantir». Com o prefixo des-, equivale, pois, a «tirar a confiança». E é, no fundo, disso mesmo que se trata: o senhorio deixa de ter confiança (e esperança) no inquilino. Aquele afuciar vem do latim fiduciare. Da família deste já temos alguns vocábulos: fidúcia, fiducial, fiduciário — e fiúza, nome comum e apelido. Alguns já desapareceram dos dicionários e do dia-a-dia, como afiuzado, afiuzadamente e o exacto equivalente ao verbo arcaico castelhano afuciar, o nosso afiuzar.

 

[Texto 4290] 

«Falésia/(ar)riba/encosta»

Procuramos, e há pior

 

 

      Repórter Ana Sofia Rodrigues, no Jornal da Tarde de ontem: «A fenda aberta na falésia de mais de dois metros era sinal claro de perigo de queda iminente, razão para que as máquinas avançassem já para a derrocada controlada na praia da Luz, concelho de Lagos.» Falésia, galicismo supérfluo. Contudo, tinha entrevistado Sebastião Teixeira, da Agência Portuguesa do Ambiente, que dissera: «As arribas mexem-se sobretudo durante o Inverno, e é um Inverno alargado que se prolonga por mais uns meses; portanto, na altura da Páscoa, as arribas ainda estão vivas, digamos assim. E portanto ainda podem ocorrer desmoronamentos, e, por isso, as pessoas quando vêm para a Páscoa, vêm com bom tempo, com sol, mas têm que ter um cuidado redobrado relativamente às arribas. Têm que se afastar o mais possível, sempre, das arribas.» E, na semana passada, li um texto em que o autor confundia repetidamente «arriba» – para ele, sempre «falésia» – com «encosta».

 

[Texto 4289]

Sobre «carolice»

Não estou a ver

 

 

      Nunca gostei da palavra «carolice». Agora, creio que ainda fico a gostar menos dela. A criminalidade em Portugal atingiu, em 2013, soube-se agora pelo relatório anual de segurança interna, o valor mais baixo dos últimos dez anos. Nas zonas urbanas, a criminalidade desceu 6,5 %. Boa oportunidade para o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia, Paulo Rodrigues, se vir gabar: «Temos a Polícia de Segurança Pública a trabalhar cada vez mais, temos uma maior capacidade de resposta, por isso não estranho, ou seja,  apesar de todas as dificuldades que os profissionais sentem, apesar da desmotivação que muitas das vezes é imposta pela falta de resposta aos vários problemas, a verdade é que tem havido por parte dos profissionais da PSP uma grande consciência contra o crime, e de facto, têm-no feito com muita carolice, porque de facto não temos tido por parte do Governo, em nenhuma situação, uma vontade de nos ajudar a ir ainda mais além.» Apesar dos apesares, carolice é a dedicação apaixonada a qualquer obra, causa ou ideia, e não qualquer frete, favor ou trabalho extra.

 

[Texto 4288]

Rascunhos definitivos

Três numa frase

 

 

    «Os governantes falam numa possível missão em território sírio a pretexto da protecção do mausolém [sic] fúnebre de Suleyman Shah, o avô do fundador do império otomano, cuja soberania é reclamada pelo Governo turco ao abrigo de um tratado assinado com a França, em 1921 (altura em que o governo da Síria estava mandatado à França)» («Depois do Twitter, Turquia corta acesso ao YouTube», Rita Siza, Público, 28.03.2014, p. 32).

     «Mausoléu fúnebre»? Um mausoléu é um monumento funerário. «Ao abrigo de» quê, de um caramanchão? Centremo-nos na última: dir-se-á «mandatado a» ou «sob mandato de»?

 

[Texto 4287]

«Gravação pirata» — sem hífen!

Mais uma doente com hifenite

 

 

    «Declarações atribuídas pelas agências ao Ministério dos Negócios Estrangeiros turco referem a divulgação através do YouTube de uma gravação-pirata de uma conversa entre dirigentes governamentais que discutem uma possível operação militar na Síria» («Depois do Twitter, Turquia corta acesso ao YouTube», Rita Siza, Público, 28.03.2014, p. 32).

 

[Texto 4286]

«De vária pinta»

Pelo menos parece

 

 

   «Isto bastou para que “eurófilos” de vária pinta viessem falar do fracasso de Putin, da “aproximação da Europa e da América” e do “isolamento” da Rússia; e a farsa, apoiada pela viagem de Obama a Bruxelas, convenceu quem se quis convencer» («Uma lição de coisas», Vasco Pulido Valente, Público, 28.03.2014, p. 60).

   É uma expressão, não muito usada, que tem pinta de ter vindo de onde não costuma vir nem bom vento nem bom casamento. Vasco Pulido Valente gosta de a usar: «Os conflitos entre militares abalavam essa autoridade, especialmente se uma das partes ou as duas recorressem a corpos de irregulares (guardas nacionais e voluntários de vária pinta) e ao “flagelo” das “guerrilhas”, “objecto de abominação” para todos os portugueses» (Os Militares e a Política (1820-1856), Vasco Pulido Valente. Lisboa: INCM, 1997, p. 47).

 

[Texto 4285]

Hong Kong

Escreve-se assim

 

 

    Outra coisa que é conveniente lembrar de vez em quando é que o topónimo Hong Kong (Xiang Gang, segundo o sistema hanyu pinyin) não leva hífen.

 

[Texto 4284]