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Linguagista

«Horror vacui»

Cerre-se a cortina

 

 

     «Horroris vacuum», disse? Sei o que é, mas está errado. Na Internet, vemo-lo escrito, sem surpresa, das mais desvairadas formas. Quem atentar na variedade, o que será inevitável, mas não souber, estará perante um dilema. Se não for um trilema ou... Basta. Não sabe e quer saber. Por exemplo, este artista assevera: «horroris vacuum» foi «o melhor termo encontrado para caracterizar o meu trabalho». Ele lá sabe. Sabe também que significa horror do vazio. Sem preâmbulos, e fazendo a retroversão, temos: «horror» é o nominativo, e por isso, horror; «do vazio» é o genitivo singular, logo, vacui. Recompondo, horror vacui. Não é, porém, apenas a pontuação, a sintaxe, a ortografia que temos de endireitar, também, como no caso, os raciocínios errados, por vezes os próprios factos. Mas disso não vou falar aqui nunca. Cerre-se a cortina. (Agora, uma aposta: em três meses, este post vai ser o mais visto pelos meus leitores brasileiros.)

 

[Texto 4321] 

«Cláxon/cláxones»

Coisas antigas, ou não

 

 

      Aqui, estava o Assim Mesmo nos últimos estertores (mas tem agora, relembro-o jubilosamente em especial aos meus queridos inimigos, mais de um milhão de visualizações), disse que tinha ouvido falar de uma senhora idosa (viúva de um general, recordo-me agora) que diz «cláxon» e não «buzina», e talvez até escreva klaxon. Agora, vejo num livro, e não é obra de ficção, «cláxon», duas vezes, e — segurem-se bem — «cláxons». Muito mais fácil do que o plural de «fénix», mas ainda assim... No futuro, a língua portuguesa não vai ter plurais — nem falantes, pelo menos em Portugal.

 

[Texto 4320]

«Canhão/canyon»

Grande ajuda

 

 

      Ainda a entrevista ao Prof. Mário Ruivo. Ouçamo-lo: «[…] permitia digamos uma visão do oceano que progressivamente deixava de ser um mundo exterior além da costa e que a gente via, ou que andava a pé a apanhar bichinhos, ou nas traineiras, para de repente começar a perceber que havia canyons submarinos ao longo da costa, isto é, canhões, como o nosso da Nazaré...» Jorge Afonso, sempre solícito, interrompe para ajudar: «Canyons, no fundo. Canhões de canyons.» Nunca ficam afónicos nestes momentos.

 

[Texto 4319]

«De primeira plana»

De premier plan

 

 

      Ontem à noite, no programa Quinta-Essência, da Antena 1, o Prof. Mário Ruivo estava a ser entrevistado. Ouçamo-lo: «Por exemplo, os professores que orientaram [na Sorbona, e sobretudo no Laboratório Arago, em Banyuls-sur-Mer, perto de Perpinhão] o meu trabalho eram gente de primeiro plano, e, portanto, nesse aspecto, passei de uma visão muito talvez mecanicista da gestão da pesca para uma visão ambiental e ecológica.»

      Agora João de Araújo Correia: «Não digas de primeiro plano se tiveres de dizer de primeira plana. Camilo foi escritor de primeira plana. Percebeste?» (A Língua Portuguesa, João de Araújo Correia. Lisboa: Verbo, 1976, p. 116).

 

[Texto 4318]