Da caça
«Apresentada a justificação da ausência, fiquei nestes dias a lamentar não ter podido participar, mais em cima do acontecimento, na muito discutida questão das declarações do secretário de Estado da Administração Pública, José Maria Teixeira Leite Martins, sobre a perenidade dos cortes nas pensões e que deu um halali governamental com exprobração do “ajudante” da ministra Maria Luís Albuquerque, a qual, numa corajosa, frontal e galharda atitude que tem sido regra do sangue de barata dos atuais governantes da nossa deprimência, tanto disse desconhecer a iniciativa do seu subordinado como reconheceu estar a par» («Existe grande confusão no modo como se lida com fonte confidencial», Oscar Mascarenhas, Diário de Notícias, 19.04.2014, p. 47).
Registo-a aqui porque raramente a vemos, excepto na poesia. Bem, e nas obras de Aquilino, onde estão todas. Halali (com a variante alalí) é o toque de trompa e o grito dos caçadores que anunciam que o veado foi acuado pelos cães. Deve ser dos tais hebraísmos entre aspas: vem do hebraico (הַלְלוּיָהּ, transcrito «halləluya», mas a nossa não tem h, «aleluia») através do francês. Ia dizer que neste caso ficámos a ganhar à língua inglesa, que não tem «halali», mas tem mort, que é o mesmo, anunciado pelo hunting horn. (Sem relação com a caça, temos o vocábulo «hornaveque», que é a obra avançada de fortificação. Também chamada obra corna. As primeiras trombetas de caça também eram cornos de animais.)
[Texto 4439]