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Linguagista

«Regular tetrameter couplets»

E já que falámos de Píndaro

 

 

  «– São simples estrofes tetrâmetras», verteu o tradutor. Jâmbicas, trocaicas ou anapésticas? Estou a brincar, o original não o diz. O que diz é que são «regular tetrameter couplets». Todo o dístico é uma estrofe, nem toda a estrofe é dístico. Mas, e sobretudo, «tetrâmetro» é somente substantivo — é o «verso grego ou latino composto de quatro pés» (na definição incorrecta, por equívoca, do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. E se forem versos de Andrew Marvell, por exemplo, já não podem ser tetrâmetros?). Logo, «dísticos de tetrâmetros regulares».

 

[Texto 4471]

E quanto a «mercenário»

Não seria a minha escolha

 

 

       «No entanto, para além destes reflexos na arte, o que mais se deverá salientar é a importância dada outrora – tal como veio a suceder quando, em tempos modernos, o Barão de Coubertin restaurou a prática dos Jogos Olímpicos –, é o carácter não mercenário destas competições. Por isso, entre os Gregos, quando começou a substituição de amadores por profissionais, no séc. IV a.C., logo diminuiu o prestígio dos Jogos, embora eles tivessem continuado a efectuar-se periodicamente até 393 d.C., data em que o imperador Teodósio I proibiu a realização destes festivais, por serem pagãos» (Sete Odes de Píndaro. Selecção, apresentação, tradução do grego e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Porto: Porto Editora, Colecção «Biblioteca Sudoeste», 2003, p. 19). E quanto a «mercenário», será, no contexto, a melhor palavra?

 

[Texto 4470]

«Tríade», uma acepção esquecida

Três coisas

 

 

      «Observámos, como é habitual, a separação em tríades e, dentro destas, distinguimos as partes constitutivas, estrofe, antístrofe e epodo» (Sete Odes de Píndaro. Selecção, apresentação, tradução do grego e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Porto: Porto Editora, Colecção «Biblioteca Sudoeste», 2003, p. 19).

   Eu não digo? Os dicionários têm vindo a alijar carga nos últimos anos, o que não deixa de ter reflexos na escrita, e talvez sobretudo nas traduções. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, por exempo, não regista esta acepção de «tríade».

 

[Texto 4469]

Ortografia: «pirolito»

O inimigo da ortografia

 

 

      «Há 40 anos, o pequenito Vítor Gaspar foi para a escola com o objectivo de fazer bullying fiscal no recreio sobre os colegas de personalidade contributiva mais débil. Depois de pedir a palavra à professora, Gaspar demorou meia-hora [sic] a perguntar “estão a ouvir-me, estão a ouvir-me? Então vou começar” e precisou de mais uma hora e meia para anunciar a revolução como “um brutal aumento de tropa na rua face ao período homólogo de ontem à tarde”. Concluiu ameaçando “gostaria ainda de opinar sobre a tributação do pirulito”» («No dia 25, Vítor Gaspar anunciou a revolução aos colegas da escola como ‘um brutal aumento de tropa na rua’», M. B., O Inimigo Público, 26.04.2014, p. 1).

      Podiam brincar sem errar na ortografia, se não desse muito trabalho. Já aqui falei da ortografia de «pirolito».

 

[Texto 4468]

«Um cálice de porto»

978-972-20-4805-7

 

 

      «Depois disso, passar mais meia hora em redor de um cálice de Porto [port] seria verdadeiramente insuportável.» Pois talvez, mas aqui é com minúscula — ocorre a chamada derivação imprópria, como sucedeu com largas dezenas de outros vocábulos. Tradutora e revisora nunca tinham pensado nisto. Nem visto.

 

[Texto 4467]

Léxico: «retrocomputação»

Arqueologia informática

 

 

      «As disquetes com três décadas faziam parte do espólio do Museu Andy Warhol, em Pittsburgh, desde 1994. Mas o que em 1985 era o ponto alto da tecnologia, nos nossos dias está totalmente desatualizado e o museu não tinha forma de conseguir ler o conteúdo das disquetes. [Cory] Arcangel resolveu então entrar em contacto com o Clube Informático da Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh, uma organização de alunos que é conhecida pela sua perícia em retrocomputação (o uso de hardware e software antigo) e em processos de restauro» («Disquetes com três décadas escondiam obras de Warhol», Susana Salvador, Diário de Notícias, 26.04.2014, p. 40).

 

[Texto 4466]