Talvez não seja isso
Finkler, em demanda de uma prostituta, encontra Alfredo, um dos filhos de Treslove, junto de um bar, e já com os copos. (Estaria a beber para arranjar coragem para procurar uma prostituta? «Se sim, tinha exagerado. Nenhuma prostituta iria querer aproximar-se de tanta coragem.») Alfredo pergunta-lhe, referindo-se ao pai, que se quer tornar judeu: «What’s all this Jew shit?» E, em contraponto, o narrador: «Slurred, Jew shit came out sounding more like Jesuit, a word which Alfredo would not have known even when sober.» Que foi assim traduzido: «Dito assim, de forma entaramelada, judeuzito soava mais a jesuíta, uma palavra que Alfredo nem sóbrio conheceria» (A Questão Finkler, Howard Jacobson. Tradução de Alcinda Marinho. Porto: Porto Editora, 2011, 2.ª ed., p. 267). Ainda se fosse «judiazita», a semelhança com «jesuíta» era crível. Ou talvez precisasse – o melhor argumento é dizer-se que a tradução tem outras mais inúteis – de uma nota de rodapé. O encadeamento fonético (aquele slurred pode ser também um termo da música, o nosso legato), fonte de muitos equívocos, nem todos cómicos, leva a perceber Jew shit como Jewshit, quase Jesuit.
[Texto 4609]