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Linguagista

Ele é que manda

Só rainha

 

 

      «Falta ainda decidir pelo Congresso a situação jurídica em que ficará, depois da sucessão, o Rei Juan Carlos, mas uma coisa parece certa: deixará de ser inimputável, um privilégio que apenas se aplica ao Chefe do Estado. […] Outra alteração diz respeito ao estatuto das filhas do atual Rei. As infantas Elena e Cristina deixarão de pertencer à família real. Esta apenas incluirá Felipe VI e Letizia, as infantas Leonor e Sofia, suas filhas, Juan Carlos e a rainha Sofia. Elena e Cristina terão o mesmo estatuto que já têm agora as irmãs de Juan Carlos. A alteração é particularmente importante, dados os problemas jurídicos que enfrentam a infanta Cristina e o marido, Iñaki Urdangarín» («Cortes espanholas aceleram processo de aclamação de Felipe», Albano Matos, Diário de Notícias, 4.05.2014, p. 6).

     De um lado, o Rei, do outro, em perspectiva, ao longe, e por isso muito mais pequena, a rainha. Porque é só rainha consorte? Com azar, será. Pobre Sofia Margarida Vitória Frederica Glucksburg da Grécia e Dinamarca. As infantas estão bem, têm o tamanho adequado.           

 

[Texto 4674] 

Ai os verbos...

Aqui del-rei!

 

 

      «El Rey [sic] foi durante décadas uma figura amada e respeitada pelo povo espanhol. A legitimidade desta monarquia não nasceu do atribulado processo da entronização, um Borbón deixando de lado os Bourbons carlistas e as suas amarguradas pretensões, e sim de uma conquista popular feita pelos momentos históricos. Juan Carlos foi o rei escolhido por Franco para o suceder. […] Constavam-se ainda as histórias de dinheiro do rei, obcecado por negócios que dessem à família uma solidez de fortuna que a livrasse de futuros apertos, que ele tinha conhecido na infância e adolescência» («Rei morto», Clara Ferreira Alves, Expresso Diário, 4.06.2014).

      Mas não é «para lhe suceder», porque o complemento é indirecto? É. O verbo «constar», no sentido de ser notório, passar por certo, que só se conjuga na terceira pessoa do singular e na terceira pessoa do plural,  não é reflexo.

 

[Texto 4673]

Ortografia: «googliano»

Muito gosto

 

 

      «O Google é tão gostável como um golfinho. Toda a gente gosta do Google, toda a gente usa o Google, toda a gente idolatra os produtos do Google, do serviço de mail até aos programas de livros grátis. Tanta gostosidade junta até enerva. Tanta unanimidade até é capaz de ser perigosa. Portanto, se não se importam, eu gostava de interromper o coro googleano para recordar dois atos imorais que o Google comete todos os dias» («Sou um escravo do Google», Henrique Raposo, Expresso Diário, 3.06.2014).

      «Gostável» está muito bem, «gostosidade» é invenção para utilidade da crónica e «googleano» está errado. O sufixo nominal que exprime relação é -iano; logo, googliano. É verdade que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista «booleano» e «booliano», e neste verbete remete para aquele, mas, como é evidente, não pode estar bem, ou teríamos igualmente, por exemplo, *«camoneano». (Também eu sou escravo da Google, mas a Google dá-nos mais do que nos tira.)

 

[Texto 4672]

«Pedido de aclaração»

Ou isso

 

 

  Vai-se ouvindo de tudo, como é habitual nestes casos: «pedido de aclaração»; «pedido de aclaramento»; «pedido de clarificação». O mais irónico é que esta figura jurídica, segundo o Prof. Menezes Leitão, foi suprimida na última revisão do Código de Processo Civil, levada a cabo por este Governo. Para que precisamos de telenovelas quando temos estes políticos? Mas sim, foi sempre «pedido de aclaração» que se disse.

 

[Texto 4671]

«Acompanhador/acompanhante»

É o fado

 

 

  «O músico e poeta Tó Moliças, de 77 anos, um dos últimos acompanhadores de Amália Rodrigues, morreu na terça-feira à noite no hospital de Cascais, avançou à Lusa fonte próxima da família. […] Tó Moliças tocou viola e viola-baixo, tendo acompanhado Amália Rodrigues a partir de meados da década de 1980 até à morte da fadista, em 1999» («Um dos últimos a acompanhar Amália Rodrigues no fado», Diário de Notícias, 4.06.2014, p. 37).

    Em «acompanhador», o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora remete para «acompanhante». «Viola-baixo» nenhum dicionário, que eu saiba, regista.

 

[Texto 4670]

Tungas!

Toma!

 

 

      «Estou em pânico. Aqui ao lado, Juan Carlos chamou Rajoy e entregou- lhe uma carta que dizia isto: “Para os efeitos constitucionais convenientes, junto o texto que leio, assino e entrego ao senhor Presidente do Governo neste ato, pelo qual comunico a minha decisão de abdicar da Coroa de Espanha.” E, tungas, depois destas palavras de encomendar meio quilo de alcatra, foi-se embora. O Rei vai-se embora porque a monarquia espanhola desfalece, o Rei novo é chamado para aguentar o regime moribundo, enquanto ainda há um Parlamento com maioria do PP e do PSOE, partidos razoáveis, e tudo com o horizonte próximo de Espanha a rebentar em nações várias...» («Portugal à beira da guerra civil!», Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 4.06.2014, p. 48).

 

[Texto 4669]