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Linguagista

Para os entendidos

Futebolês puro

 

 

   «Isto para dizer que acho injusto ser provavelmente o único português que não foi inquirido por repórteres a propósito da prestação da selecção portuguesa no Mundial. E que, aparentemente, nem toda a minha experiência na matéria me habilita a perceber coisa alguma sobre futebol. Pelo menos quando comparado com a elite de 450 especialistas que diariamente se pronuncia nas televisões a propósito» («Futebol: uma confissão de ignorância», Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 29.06.2014, p. 47).

 

[Texto 4783]

Léxico: «glamping»

Ficamos avisados

 

 

      «Acampar com luxo. Acampar com glamour. Acampar como se não estivéssemos numa tenda. Há muitas definições para o conceito de glamping. Há uma fina linha entre campismo e o conforto total, mas quando se cruza com equilíbrio ambos os conceitos temos o melhor de dois mundos: as valências do contacto com a natureza e os requintes de uma suite de hotel. E o glamping em Portugal chegou, viu e venceu» («Com glamour e tendas», R. P. T., «Notícias Magazine»/Diário de Notícias, 29.06.2014, p. 45).

 

[Texto 4782]

Sobre «sabático»

A torto e a direito

 

 

      Uma palavra que se usa agora mais a torto que a direito é «sabático». Qualquer bicho-careta tira umas «férias sabáticas» para ir estudar ou... para deixar de estudar. Sócrates não tem a culpa, mas, quando foi para Paris estudar, a imprensa começou a dizer que ele ia tirar um ano sabático. Dantes, ao que me parece, só se usava em relação aos professores catedráticos; mais tarde, qualquer professor; agora, os dicionários estenderam o conceito: «que diz respeito a um período de interrupção de actividade regular». Assim, os jornalistas até são capazes de escrever, sei lá, que um pirómano tirou um ano sabático para ir estudar para a Universidade do Hambúrguer, em Alphaville, e se fizer uma interrupção para vir atear mais umas «ignições», como dizem os bombeiros, também tira uma licença sabática.

 

[Texto 4781]

«Traqueotomia/traqueostomia»

Bem me parecia

 

 

   A autora usa a palavra «traqueostomia», e o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora desta remete para «traqueotomia», ou seja, considera-as sinónimas. Variantes não, porque a primeira tem mais uma boca, os, do que a segunda. A dúvida também chegou à Fundéu: «Tal como explica el Diccionario de términos médicos, de la Real Academia Nacional de Medicina, en rigor la traqueotomía es la incisión de la tráquea, mientras que la traqueostomía es la apertura de un orificio en la tráquea para permitir la respiración (que se hace mediante una traqueotomía). En la práctica no es raro que se llame traqueotomía a ambas intervenciones.»

 

[Texto 4780]

Como se fala na rádio

Mamarrar

 

 

      Na Antena 1, Júlio Machado Vaz estava agora mesmo a ler um poema de não sei quem, e exalçava um verso que dizia «aos teus pés ao pé da cama». No comentário que fez, à laia de homenagem, saiu-lhe esta horrível cacofonia: «Eu nunca fui muito de me amarrar».

 

[Texto 4779]

Abreviaturas

Afinal, mudou

 

 

      «Após António Costa ter subido ao “país real” e sido insultado com galhardia por algum povo, a PGR abriu um inquérito, Manuel Alegre considerou os incidentes “intoleráveis” e, com a originalidade que o define, o próprio Dr. Costa achou-os “inaceitáveis”. [...] Embora muitos cidadãos tivessem preferido que a Justiça fizesse justiça ao Eng. Sócrates, a história [sic] começa a colocar o cavalheiro no lugar que merece. Depois de, nas recentes europeias, a mera presença do cavalheiro num almoço de campanha afundar decisivamente as pretensões eleitorais do seu partido, o partido desatou a tratá-lo com a deferência normalmente dedicada à lepra. E se não se estranha muito que alguns apoiantes do Dr. Seguro usem as palavras “descalabro” e “desastre” para avaliar a governação do Eng. Sócrates, estranha-se um bocadinho que o Dr. Costa já se refira aos “erros” da mesma» («Futebol: uma confissão de ignorância», Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 29.06.2014, p. 47).

      Não coincide exactamente com o fim da revisão no Diário de Notícias, mas a verdade é que só há pouco o cronista passou a grafar as abreviaturas com maiúscula. Custa um pouco a engolir, mas só pode ter sido o próprio a aprender. Ainda em Março era o «sr. Marco António», o «eng. Sócrates», o «dr. Costa», etc. Talvez o Espírito Santo descesse em seu auxílio quando numa crónica teve de escrever «D. Afonso Henriques». É que «d. Afonso Henriques» ficava um bocado foleiro, não é? Uma epifania.

 

[Texto 4778] 

«Sob/sobre», de novo

Ironia ou parvoíce?

 

 

      «Na prática, só falta o próprio Eng. Sócrates admitir que duplicar a dívida pública em meia dúzia de anos e colocar Portugal na dependência desesperada do exterior durante as próximas duas dúzias não foi uma proeza admirável ou, como ele repetia sempre que espirrava, um “momento histórico”. Aí sim, será altura de colocar o homem sob o pedestal da posteridade» («Futebol: uma confissão de ignorância», Alberto Gonçalves, Diário de Notícias, 29.06.2014, p. 47).

 

[Texto 4777]

Montes Peninos

Artista das aspas

 

 

      «Geoff Wood não é ciclista. Tem, aliás, a bicicleta “encostada” há uns tempos. Mas é “artista”, vive no campo, e em conversa com um amigo – Andrew Wood (partilham o apelido mas não são familiares, diz-nos) – surgiu a ideia de aproveitar a passagem dos ciclistas para promover a região e os montes Peninos. “A paisagem à nossa volta é perfeita para o projeto, pois há encostas íngremes e vales estreitos. Podemos estar de um lado e ver as imagens na encosta oposta. É por isso que este projeto funciona. Em paisagem plana ou vales largos não iria funcionar tão bem”, diz Geoff, diretor artístico do Fields of Vision» («A arte feira de relva que os ‘helis’ do Tour vão mostrar ao mundo», Marina Almeida, Diário de Notícias, 29.06.2014, p. 39).

     Montes Peninos, muito bem. Fico espantado – as expectativas estão cá muito por baixo – que não optasse por Pennines. Em contrapartida, é hélis, com acento e sem aspas, cara Marina Almeida.

 

[Texto 4776]

«Descrição/discrição», de novo

Errar no básico

 

 

      «João Carlos tem 29 anos e foi militar, uma área onde a empresa que o contratou gosta de recrutar os funcionários. A empresa até se chama Mordomos, mas é mais como cartão-de-visita [sic] e “por status”. “Os militares são pessoas que sabem manter a confidencialidade, a descrição, têm conhecimentos de segurança e uma boa capacidade [sic] resistência ao stress. Estão preparados para cenários menos favoráveis”, justifica o recrutamento [sic] Miguel Soares, sócio da empresa, que tem capital português, angolano e espanhol» («Nem mordomo nem motorista... antes assistente pessoal», Céu Silva, Diário de Notícias, 29.06.2014, p. 14).

   Claro que nada piorou, e já o comprovámos, desde que não têm revisão: é rigorosamente igual.

 

[Texto 4775]