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Linguagista

Como se escreve por aí

Pobres criancinhas

 

 

      As crianças colocaram hipóteses, as crianças colocaram problemas, as crianças colocaram questões, as crianças colocaram perguntas... São educadoras de infância que assim escrevem, e decerto assim falam. Se isto é o pior? Não queriam mais nada. É só mais o mais irritante, pelo que revela de psitacismo e falta de cabeça.

 

[Texto 4874]

Como se fala na televisão

Dʒəʊnəs

 

 

      «O túmulo do profeta Jonas, em Mosul, foi destruído por extremistas do Estado Islâmico do Iraque. O profeta em causa é uma figura bíblica reconhecida por judeus e cristãos. A destruição faz parte de uma onda de ataques contra os cristãos no Iraque. Já foram incendiadas onze igrejas na região de Mosul. Pastores e missionários foram perseguidos» (Cristina Freitas, Manhã Informativa, RTP 1, 25.07.2014).

    A notícia continuava, no mesmo tom monocórdico e segmentado, mas o que interessa está logo ali nas primeiras palavras. Como é que acham que a jornalista pronunciou o nome Jonas? Ora, ora, não tem nada que saber: à inglesa! Dʒəʊnəs.

 

[Texto 4873] 

Como se escreve nos jornais

Se é estrangeiro, é bom

 

 

      «Vinte gendarmes e polícias franceses iam partir ontem à noite para o local da queda do voo da Air Algérie – perto de Gossi, a cem quilómetros de Gao, a maior cidade do norte do Mali –, onde ficarão à frente da investigação e da identificação das vítimas, avançou a AFP. Uma das caixas negras do MD-83 já foi recuperada pelos militares franceses que já estavam estacionados no país» («Famílias destruídas pela queda do voo AH5017», Ana Meireles, Diário de Notícias, 26.07.2014, p. 19).

    Gostam muito disto, os jornalistas: os gendarmes, os marines, a Guardia Civil. Se levassem um choque eléctrico na ponta dos dedos de cada vez que escrevem assim, já lhes tinha passado.

 

[Texto 4872]

A verdadeira Guiné Equatorial

Têm dias e horas

 

 

      «A entrada da Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) fraturou ontem a bancada do PS. No voto de condenação apresentado na Assembleia da República pelo BE devido à adesão do país africano, o líder parlamentar, Alberto Martins, teve 33 deputados ao seu lado, ao passo que outros 33 votaram em sentidos diferentes. Vieira da Silva, Pedro Marques, Laurentino Dias e Odete João optaram pela abstenção, juntamente com as bancadas do PCP e PEV, enquanto outros 29 socialistas decidiram votar a favor do documento apresentado pelos bloquistas, visivelmente incomodados com o “sim” dos países lusófonos ao regime liderado desde 1979 por Teodoro Obiang» («Guiné Equatorial divide bancada do PS», Octávio Lousada Oliveira, Diário de Notícias, 26.07.2014, p. 9).

     «Líder», «liderado» e no resto do artigo ainda há «líderes». Nada que se compare, é claro, com as 133 (!) ocorrências de palavras da mesma família que vi recentemente num livro... E, como podem ver, a Guiné Equatorial hoje já perdeu o hífen. Pelo menos neste artigo, porque no DN ainda há a liberdade de escrever bem e de escrever mal.

 

[Texto 4871]