Como pode ser?
É difícil de acreditar, mas aí está para quem o quiser comprovar: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o vocábulo «zelota». Nada de grave, dir-me-ão, pois acolhe a variante «zelote». Então, ainda pior: o dicionário não acolhe o sentido religioso mais usado do termo, dando-o apenas como adjectivo e com estes significados: «diz-se daquele que finge ter zelo»; «beato falso; tartufo». Em Fevereiro deste ano, Fr. Bento Domingues, a propósito de O Zelota, livro de Reza Aslan, escrevia: «Quem eram, afinal, os zelotas? O vocábulo significa “gente caracterizada pelo zelo pela Lei”. Assim, sabemos que existiram sempre zelotas na história de Israel, desde o Exílio até ao ano I. O conceito genérico correspondia a um movimento sócio-religioso de defesa de um património religioso, nacional ou internacional, que se sentia em perigo. Nesse sentido, podemos dizer que hoje
são zelotas os defensores fanáticos da sharia, ou lei islâmica, os fundamentalistas muçulmanos e também podem ser designados como zelotas, os membros de alguns grupos integristas católicos. Mais em concreto, entendemos por
zelotas os membros do movimento religioso
e político, de resistência anti-romana, começado por Judas, o Galileu, no ano VI d.C. Os seus seguidores estão ligados por uma doutrina de fundo, meramente farisaica, da escola de Samay, vivida de forma radical nos seus aspectos sociais e políticos. Esta ideologia concretizava-se no movimento nacionalista, militante e fanático, que Flávio Josefo chama a “quarta filosofia” (seita/partido) dos judeus. Os outros três movimentos são os saduceus, fariseus e essénios. Tinham um lema que os orientava nas suas acções: Israel não pode admitir nem honrar ninguém como rei ou senhor, além do Deus único» («Quem são os zelotas», Público, 23.02.2014, p. 53).
[Texto 5247]