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Linguagista

Pronúncia: «Saragoça»

Também interessa o caminho

 

   Uma leitora do Ciberdúvidas queria saber como se pronuncia o topónimo Saragoça. A consultora citou Rebelo Gonçalves, que no seu Vocabulário da Língua Portuguesa apresenta a palavra com a indicação de o fechado, ô. Afirmou também que «a rima na tradição popular (Poesia Popular dos Cortelhões e dos Pingalheiros, de Francisco Henriques e João Carlos Caninas) sugere que pronunciemos a palavra com “ô” fechado», isto porque faz rimar «Saragoça» com «moça». Sugere mesmo? Mas também há rima imperfeita, de vogal aberta com vogal fechada, sabe disso, não sabe? A resposta à consulta está certa, mas não o argumento.

 

[Texto 5323]

Léxico: «financês»

Para poucos perceberem

 

      «Com muitas cautelas — “Tenho de ter o cuidado, se está à procura de uma contradição, de não alimentar uma polémica” —, Bento conta uma história diferente. Na reunião com Maria Luís, no dia 30 de Julho, a liderança do BES pediu ao Governo uma “declaração” pública de que poderia vir a fornecer liquidez ao banco ou, nas palavras em “financês” usadas por Vítor Bento, “assumir publicamente que funcionaria como backstop de capital”. Saiu do encontro com a convicção de que “seria difícil”. “Fiquei convencido de que não seria uma das preferências.” Para Bento, a ministra recusou, “com receio de que isso afastasse os investidores privados”» («Vítor Bento contou ao Parlamento uma nova versão sobre o fim do BES», Cristina Ferreira e Paulo Pena, Público, 3.12.2014, p. 16).

 

[Texto 5322]

A aula de hoje

Chumbada (antes da PACC)

 

      Muitos filólogos, como sabem, defendem que não existem sinónimos, mas apenas palavras de sentido próximo. Seja. Hoje, o exercício na aula, com a directora presente, era sobre antónimos e sinónimos. Uma aluna perguntou então a outra qual o sinónimo de «bolso». «“Bolso” não tem sinónimo», afirmou, convictamente, a professora. A directora, porém, quis ouvir. «Algibeira.» «Ah, essa era difícil...» Há muitos outros pares de sinónimos assim, um românico e o outro árabe, como lembra Orlando Ribeiro nos seus Opúsculos Geográficos: algarismo/número; arrabalde/arredores; baldio/maninho; chafariz/fonte; façanha/feito; fulano/sujeito; macio/brando, etc.

 

[Texto 5321]

Uma gramática em chamas

Uma prenda para A. Lobo Antunes

 

      António Lobo Antunes, em Caminho como Uma Casa em Chamas: «...intriga-me que houvessem anos antes de eu nascer e pessoas a morarem nesses anos» (p. 61). Claro que corremos o risco de vir algum sábio eugenizar o erro crasso, mas nós cá estamos. O livro de Lobo Antunes foi submetido (salvo seja) a duas revisões: «revisão filológica» de António Bettencourt e «revisão» (depreende-se que «não filológica»...) de Eulália Pyrrait. E, no entanto...

[Texto 5320]

Ai os pronomes...

Uma prenda para Mário de Carvalho

 

    Vem mesmo a calhar. Um leitor mandou-me o excerto e a dúvida sobre esta frase do último livro de Mário de Carvalho, Quem Disser o Contrário É porque Tem Razão. «Roubem, mas ai de vós se fordes apanhados» (p. 203). «Aqui não há gato?», pergunta-me o leitor. «Eu sei que os grandes autores são intocáveis. Ou não serão?» Não são intocáveis, nem grandes nem pequenos. Está errado. Eu sei que as formas erradas são em muito maior número, mas, ainda assim, quem quiser acertar pode optar por uma de duas redacções: 1. «Roubem, mas ai de vós vocês se forem apanhados.» 2. «Roubai, mas ai de vós se fordes apanhados.»

 

[Texto 5319]