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Linguagista

«Zest de limão»!

Já nossa conhecida

 

      «Os preços começam nos cinco e seis euros, com gins feitos com Martin Millers, a “marca da casa” [Secret Bar, Beco do Alfaiate, 20, Estoril]: o primeiro servido com zest de limão e bagas de zimbro em copo aromatizado com casca de laranja (5€) e o segundo com frutos vermelhos (6€). Depois as opções sobem dos 7€ aos 10€ (os mais caros à base de Williams Chase Elegant, G’Vine e Mombasa). Para já, os 18 gins em carta levam água tónica Schweppes, mas em breve haverá também Fever Tree. E depois há as promoções: cada semana é dedicada a um gin, que durante esse período é mais barato (até domingo é a marca Bulldog), e as quintas-feiras são de gin tasting, com todos os gins vendidos a sete euros» («O novo segredo do Estoril está no gin», Mara Gonçalves, «Fugas»/Público, 6.12.2014, p. 31).

      Não se brinca com coisas sérias, Mara Gonçalves. «Zest de limão»? Acha que em português se diz dessa maneira?

 

[Texto 5332]

Léxico: «cisgola»

Fica lá muito bem

 

      «Sempre a par com Delmiro, Lélio notava o modo de Canuto — a cara avermelhada, em quadro na cisgola branca, de fino trançado, e enfeitada até com anéis — que de distância vigiava-os, como que sério de ciúme» (A Aventura nos Campos Gerais, João Guimarães Rosa. Lisboa: Edição «Livros do Brasil», 195[?], p. 22).

      Esta era outra ausente do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Agora, por sugestão minha, já lá a podemos encontrar. Não custa nada.

 

[Texto 5331]

De «peia», «peado»

Uma piada

 

      «A [lenda] que hoje nos conta fala de uma da princesa que gostava de um mouro, mas que o pai queria casar com o filho do alcaide e por isso prendeu-a ali. “Ela gritou lá de cima ao mouro: ‘Piada, piada’ — que significa presa em português antigo —, então ele fez um laço, ela conseguiu fugir e foram felizes para sempre”, conta Maria de Lurdes. “É por isso que a aldeia do outro lado do rio se chama Arrepiado”, conclui, atribuindo o masculino da palavra ao machismo existente na altura. Depois, continua, em 1129 “Afonso Henriques apanhou isto tudo aos mouros” e entregou-o à Ordem dos Templários, que o reconstruiu em 1171, data inscrita sobre o portão principal» («De comboio por um Tejo de castelos», Mara Gonçalves, «Fugas»/Público, 6.12.2014, p. 11).

   Claramente uma história mal contada, mas isso, por agora, pouco interessa. «Piada», Mara Gonçalves? Não estará, também, mal contado? Não tenho aqui à mão nenhum dicionário, mas é claro que só pode ser palavra com étimo no latino pedĭca, «peia» em português, e, daí, «peado». Preso com peia.

 

[Texto 5330]

Léxico: «vinho de roda»

Imaginária

 

      «Bastaram poucos anos para perceber que os chamados “vinhos de roda”, vinhos anteriormente despachados nos veleiros e que regressavam à ilha da Madeira sem ter logrado clientes, vinhos que em diversas ocasiões tinham ultrapassado a linha do Equador por duas vezes, estavam melhores e mais complexos tendo ganho características anteriormente desconhecidas numa notável aceleração da maturação» («Estufagem e canteiro, uma evolução singular dos vinhos da Madeira», Rui Falcão, «Fugas»/Público, 6.12.2014, p. 18).

      Será que uma linha imaginária merece maiúscula inicial? E com os auxiliares «ter» e «haver» não empregamos, habitualmente, a forma regular do partícipio?

 

[Texto 5329]