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Linguagista

Repitam, mas escrevam bem

Máxima inovação

 

      Esta tarde, fui ao Teatro Camões ver Quebra Nozes Quebra Nozes (sic) pela Companhia Nacional de Bailado. De vez em quando, sabe bem estar longe, bem longe das palavras, só movimento e música. Mas as palavras perseguem-me: por todo o lado, só se via escrito como está ali em cima, «Quebra Nozes Quebra Nozes». Está bem que a história foi recriada, actualizada (logo no início, tiram uma selfie), mas a ortografia não precisava de ser nem actualizada nem recriada, acho eu. Isso já foi feito por outros, e muito mal.

 

[Texto 5394]

«Tivessem descobrido»

Com voz cava e soturna

 

      Disseram-me (obrigado a Rui Almeida por ter aceitado partilhar o que se passa nesse mundo) que José Riço Direitinho publicou esta tarde, na sua página do Facebook, esta nota: «A quem me fez o reparo, também em alguns comentários da página do Público, pelo facto de num dos textos sobre o livro do Knaugård [sic] eu ter usado a expressão “TIVESSEM DESCOBRIDO”, informo que não é gralha e que está correcto; é uma das duas formas do pretérito mais que perfeito composto (subjuntivo) do verbo descobrir.»

   Estamos bem servidos de zoilos, estamos. O que esta forma tem contra si é meramente ter caído em desuso, não é nenhum erro crasso. Corrijam Camilo (ou mordam aqui), se forem capazes: «Afinal, como se tivesse descobrido assunto de capital interesse, disse com voz cava e soturna:

     — O sr. de Beauchêne morreu!» (Obras de Camilo Castelo Branco, vols. 65-67, Camilo Castelo Branco. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1970, p. 80).

 

[Texto 5393]

Léxico: «protodiácono»

Non habemus verbum

 

      «Foi a Tauran que coube a tarefa de pronunciar, a 13 de Março de 2013, na varanda da Basílica de S. Pedro, as célebres palavras Habemus Papam — o anúncio de que o Concílio tinha escolhido um novo Papa, depois da renúncia de Bento XVI. Por ser o mais antigo do Colégio dos Cardeais, Tauran era o chamado “protodiácono” e, portanto, responsável pelo anúncio da decisão. Agora, Tauran vai desempenhar o simbólico posto de camerlengo, o cardeal que substitui o Papa em caso de morte ou demissão» («Cardeal francês que anunciou Papa Francisco ao mundo é o novo camerlengo», Público, 21.12.2014, p. 29).

      Será o cargo de camerlengo assim tão simbólico? Não me parece. Mas vamos ao que mais nos interessa: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o vocábulo «protodiácono». (E claro que é Habemus papam.)

 

[Texto 5392]

Léxico: «participação crime»

E por algum motivo será

 

      «Luís Filipe Menezes vai apresentar uma participação-crime contra incertos por violação do segredo de justiça devido ao que considera ser “a devassa da sua vida” sob “os holofotes das televisões e da demais comunicação social”. Notícias publicadas ontem referem que a Polícia Judiciária realizou buscas numa propriedade em Baião, entre outras acções de investigação sobre o antigo autarca de Vila Nova de Gaia» («Luis [sic] Filipe Menezes anuncia participação-crime», Público, 21.12.2014, p. 17).

      Montexto tem, também nisto, razão: não precisamos de recuar mais de trinta anos para comprovar que nunca se usava hífen nestes casos.

 

[Texto 5391]

Léxico: «peeling»

Já sabemos como é

 

      «A LMA diversificou a sua oferta de produtos, começou a trabalhar para o calçado ou para a indústria automóvel. Apostou na certificação, investiu em equipamentos, montou laboratórios que analisam a resistência das fibras, a solidez à luz, a reacção à humidade, a estabilidade dimensional ou o peeling (propensão para gerar borboto) das malhas» («Um quarto de século depois, há um sector que volta a mostrar a sua fibra», Manuel Carvalho, Público, 21.12.2014, p. 8).

    Era tão fácil dizê-lo em português, mas a subserviência nacional desestima tudo o que é genuíno e nosso.

 

[Texto 5390]