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Linguagista

Léxico: «linquintina»

Algo de novo

 

      Linquintina. Desconhecia (e desconhecem todos os dicionários) a palavra e o riquíssimo património cultural e linguístico que designa. Ontem de madrugada, na Antena 1, ouvi dois elementos das Moças Nagragadas a dizerem linquintinas, isto é, lengalengas, trava-línguas, e adivinhas, como esta: «Tenho, tenho, sim senhor, tenho, entre o meio das pernas um engenho, daqui como, daqui bebo, daqui pago a quem devo, dou dinheiro a juros e pago dívidas atrasadas.» Sabem o que é?

 

[Texto 5491]

Sutiã, colãs, batom...

Com um jogo

 

   Sabiam que Framed, o melhor jogo de 2014 para iOS 7.0 (ou posterior), está temporariamente gratuito? Bem, mas não venho aqui, evidentemente, para isso, antes para dizer como estranho que quem usa os aportuguesamentos «sutiã» e «batom», por exemplo, não adopte também, no mesmo texto, a grafia «colãs».

 

[Texto 5490]

Tradução: «patinoire»

É assim que nos cansam

 

    «De modo que, para saírem pela porta que dava para o exterior, tiveram que [sic] passar por cima daquela armadilha de vidros, uma camada de cacos instável e escorregadia como uma pista de gelo» (O Último Ano em Luanda, Tiago Rebelo. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2008, p. 433).

   E não chega, pista de gelo? Mas estou aqui a ver que alguém, para traduzir patinoire, achou que tinha de escrever «pista de patinagem sobre o gelo». Uf!

 

[Texto 5489]

Tradução: «guirlande lumineuse»

De baixo ou de cima

 

      Já alguma vez pensaram na etimologia da palavra «gambiarra»? Parece que vem do italiano gamba, «perna». Ora, no teatro, as gambiarras iluminam (ou iluminavam, agora as luzes são diferentes) as pernas dos actores que estão no palco. Contudo, os dicionários dizem que é a fileira de luzes na parte superior do palco. Mais conhecida é a acepção de extensão eléctrica, de fio comprido, com uma lâmpada incorporada, que permite levar a luz a sítios afastados, definição que copiei em parte do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. E melhorei: o dicionário não refere nenhuma lâmpada, o que me parece fundamental no conceito. No Brasil, usa-se ainda outra acepção, de que não vamos falar. Tudo isto para lembrar que as guirlandes lumineuses, como se diz em francês, não são gambiarras, mas antes as conhecidas luzinhas de Natal, agora quase todas importadas da China.

 

[Texto 5488]

Tradução: «terre-plein central»

E sacudiu-se numa risada

 

      É de uma avenida que o autor fala, e mais concretamente de algo «sur le terre-plein central». «Divisória central», é o que disse? Não me parece. Habitualmente, falamos em «placa central». Numa das obras de Saramago, há uma «placa central da praça», mas não é caso único, evidentemente.

      «Não foi um choque espectacular, o tratado não caiu no chão, mas a rapariga, que, lembrou-se Pedro, seguira o rapaz desde a placa central da avenida — é tão aborrecido esperar o autocarro — essa tapou os lábios com a mão direita, apertou o nariz como se fosse espirrar, e sacudiu-se numa risada» (Avenida de Roma, Artur Portela Filho. Lisboa: Guimarães Editores, 1961, p. 71).

 

[Texto 5487]

Léxico: «Quarto Mundo»

Mais um mundo

 

      Pensamos logo (se tivermos a felicidade de ser pessimistas) que não estará nos dicionários, mas na verdade não é assim. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, por exemplo, está: «Quarto Mundo: 1. Conjunto de países menos desenvolvidos do Terceiro Mundo. 2. Conjunto dos indivíduos muito pobres ou excluídos da sociedade, num país desenvolvido».

 

[Texto 5485]

Tradução: «en veille»

Duplamente enganado

 

   É mais um desses casos em que o tradutor diz para si mesmo: «Não é assim, mas o revisor que se arranje, para alguma coisa lá está.» Caro amigo, se não compreende as suas próprias responsabilidades, como quer ensinar-me as minhas? Como nos computadores, diz o original, «le système se met en veille pour préserver la mémoire». Não, de certeza que não é «fica de sobreaviso». Então não é em [modo de] espera que se costuma dizer?

 

[Texto 5484]

«Uma palavrinha/duas palavras»

É o número

 

      «J’aimerais vous dire deux mots», disse uma personagem a outra. Traduzimos à letra? Bem, não faltam exemplos, como na Filha do Arcediago, de Camilo: «Queria-lhe dar duas palavras, minha senhora.» Mais comum, porém, é a expressão «dar uma palavrinha» (que também encontramos na prosa camiliana), que me parece até mais sugestiva, pois «palavrinha» é uma conversa curta. Em inglês, também não anda longe disto: to have a word with somebody.

 

[Texto 5483]