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Linguagista

«Portugalophis lignites»

Mas se querem

 

      «No artigo na Nature Communications, a equipa de Michael Caldwell, da Universidade de Alberta, no Canadá, classifica os fósseis da cobra da Guimarota como uma espécie e, mais ainda, um género novos para a ciência. O nome: Portugalophis lignites. O género Portugalophis significa “cobra de Portugal”, uma vez que ophis é “cobra” em grego, e lignites vem da palavra lignum em latim, remetendo para a mina de lenhite da Guimarota» («Fóssil de cobra portuguesa é dos mais antigos do mundo», Teresa Firmino, Público, 30.01.2015, p. 25).

      Significa «cobra de Portugal»... Enfim, é o conúbio improvável de duas palavras de natureza e origem completamente diferente, que se quer que signifique isso.

 

[Texto 5512]

Tradução: «material»

Nada disso

 

      «Na terceira pergunta em que os professores mais falharam, o dr. Crato agarrou nas considerações tristemente acéfalas de um cavalheiro americano [Douglas McMurtrie] sobre “impressão e fabrico” de livros. Esse cavalheiro pensa que há “livros em que a beleza é um desiderato” (ou seja, a beleza do objecto) e outros “em que 
o encanto não é factor de importância material” (em inglês, “material” não significa o que o autor da PACC manifestamente julga)» («A estupidez à solta», Vasco Pulido Valente, Público, 30.01.2015, p. 52).

      Temos de saber para onde atiramos. Na verdade, não se sabe o que o «autor da PACC» pensa ou deixa de pensar, porque aquele «material» ocorre numa citação da obra O Livro — Impressão e Fabrico, de Douglas McMurtrie, traduzida por Maria Luísa Saavedra Machado e editada pela Fundação Calouste Gulbenkian. Dito isto, a palavra está mal traduzida, sim.

 

[Texto 5511]

«Take or pay»

Pronto, já somos especialistas

 

      «Em Novembro, tanto a petrolífera como a REN falharam o prazo de liquidação da taxa referente a 2014, cujos pagamentos rondavam 35 e 25 milhões de euros, respectivamente. Mas agora o Governo reclama mais 150 milhões, alargando a CESE (que já incide sobre redes de distribuição, centrais eléctricas e activos de refinaria) aos chamados contratos take or pay (que obrigam a Galp a comprar quantidades preestabelecidas de gás, mesmo que não tenha consumo)» («Governo impõe taxa de 150 milhões à Galp para baixar tarifas do gás», Ana Brito, Público, 30.01.2015, p. 16).

 

[Texto 5510]

Os exageros de VPV

Nem metade

 

      «Dezenas de analfabetos que gostam de se dar ares fizeram um escândalo com o aparente excesso de erros de ortografia, pontuação e sintaxe dos 2490 professores que se apresentaram à Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC). Deus lhes dê juízo. Para começar, não há em Portugal uma ortografia estabelecida pelo uso ou pela autoridade. Antes do acordo com o Brasil — um inqualificável gesto de servilismo e de ganância — já era tudo uma confusão. Hoje, mesmo nos jornais, muita gente
se sente obrigada a declarar que espécie de ortografia escolheu. Pior ainda, as regras de pontuação e de sintaxe variam de tal maneira que se tornaram largamente arbitrárias. Já para não falar na redundância e na impropriedade da língua pública que por aí se usa, nas legendas da televisão,
 que transformaram o português numa caricatura de si próprio;
 ou na importação sistemática de anglicismos, derivados do “baixo” inglês da economia e de Bruxelas» («A estupidez à solta», Vasco Pulido Valente, Público, 30.01.2015, p. 52).

      Nem metade disto é verdade. É verdade, e verdade evidente, que o acordo é «um inqualificável gesto de servilismo e de ganância», ainda que ingénuo; é verdade a «impropriedade da língua pública» e a «importação sistemática de anglicismos, derivados do “baixo” inglês da economia e de Bruxelas», mas neste preciso ponto nem o próprio cronista está isento de culpa, muito pelo contrário, como já aqui temos visto e lamentado.

 

[Texto 5509]

Léxico: «desidentificação»

Fica a palavra

 

      «A forma como o procurador e o juiz se terão referido a Sócrates, apenas por “José Pinto de Sousa”, merece um pequeno capítulo do recurso intitulado “uma questão de nome”. Esta designação à revelia da abreviatura que o ex-primeiro-ministro escolheu e com a qual “ganhou duas eleições” é, segundo os seus advogados, uma “violação do direito de personalidade” ao “nome e à integridade moral”. Para a defesa, esta forma de tratamento resulta num [sic] “despersonalização”, “desidentificação” e “desmoralização” de Sócrates» («Silêncio “cirúrgico” do motorista terá justificado prisão de Sócrates», Pedro Sales Dias e Mariana Oliveira, Público, 30.01.2015, p. 8).

      Parece-me tão grave como o escritor Mário Cláudio, por exemplo, receber em casa uma multa por excesso de velocidade em nome de Rui Barbot Costa. Isto é palha para encher os recursos.

 

[Texto 5508]

Em português, se faz favor

Jamais

 

    «Primeiro, [o deputado] Paulo Sá teve de encontrar a unidade base da sua construção. Atribuiu o valor de 100 milhões de euros a cada peça de dois por quatro pins» («Como afrontar Maria Luís com um Lego», Vítor Matos, Sábado, 29.01-4.02.2014, p. 51).

      Pins! Nunca tal li ou ouvi. Bastava escrever «peça de dois por quatro» ou «peça de 2x4». Ou «peça de dois por quatro pinos».

 

[Texto 5507]