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Linguagista

Entre dois acordos

A Syriza em cima do bolo

 

  «E a instantânea coligação governamental do Syriza com uma agremiação xenófoba e antissemita prova que a dissonância é afinal imaginária. […] Quanto ao secretário-geral do PS, que em matéria de convicções adoptara um voto de silêncio beneditino, abriu o coração para nos informar que a vitória do Syriza “dá força para seguir a mesma linha”» («O berço da demagogia», Alberto Gonçalves, Sábado, 29.01-5.02.2015, p. 90).

    Com acordo ou sem acordo? Já não nos podemos fiar de ninguém. Deixam a ortografia moribunda, entre cá e lá.

 

[Texto 5520]

Sobre «azulejo»

É isso mesmo

 

   «Azulejo é palavra que entra no vocabulário de qualquer roteiro turístico do nosso país e é visto como uma das mais originais produções portuguesas. Está connosco há seis séculos e, apesar de breves períodos de aparente ausência, promete continuar. Embora a palavra “azulejo” pareça uma associação à pintura azul-cobalto, a origem do termo está no árabe, azzelij, que significa pequena pedra polida, usado para designar o mosaico bizantino. O azulejo é constituído por duas partes; pela sua massa de barro que lhe dá a forma, geralmente quadrada, e a superfície vidrada que lhe dá cor e brilho» («Portugal em quadradinhos», Isabel Gorjão Henriques, «2»/Público, 1.02.2015, p. 26).

     Apesar de os azulejos, em Portugal, nos séculos XVII e XVIII, serem de fundo branco com pinturas a azul, a etimologia nada tem que ver com cor, como já Orlando Neves lembra no seu Dicionário da Origem das Palavras. Estranho, estranho é ver muita gente, e sobretudo tradutores, a confundir azulejo com mosaico, tecto com telhado e o cu com as calças. Mil perdões.

 

[Texto 5519]

Como se escreve nos jornais

É como se vê

 

      «No dia 10 de Fevereiro, Manuel Baltazar, conhecido como “Palito”, começará a ser julgado pela morte da tia e mãe da sua ex-mulher, Angelina, e por ter disparado contra ela e contra 
a filha. Angelina vive no medo de que ele regresse. Só no ano passado morreram 40 mulheres vítimas de violência doméstica» («Crónica de um crime anunciado», João Bonifácio, «2»/Público, 1.02.2015, p. 16).

      Isto é inconcebível. Isto, estas relações, esta escrita... Com a opinião do professor na Universidade de Exeter, é capaz de nos estragar o domingo.

 

[Texto 5518]

«Alcorão/Corão»

E pronto, é a opinião possível

 

      Um leitor do Público queixou-se ao provedor por o jornal grafar «Corão» em vez de «Alcorão». Vai daí, o «Comentário do provedor: Não me parece expressão de acto impensado ou “inculto”. Consultei o “alfabeto” do Livro de Estilo
do PÚBLICO e, aí, os dois termos são referidos: Corão - “Há quem considere esta grafia desnecessariamente ultracorrigida. Refira-se, no entanto, que há um autor de um dicionário, professor de Civilização Árabe e Islâmica na Universidade inglesa de Exeter, que cita a palavra árabe original sem o artigo (Qur’an e não al-Qur’an). Cf. Dicionário Islâmico, Religiões, pp. 259.”» («Alcorão/Corão», José Manuel Paquete de Oliveira, Público, 1.02.2015, p. 53).

 

[Texto 5517]

Descontraia, homem

Isso passa

 

       «O dr. Ricardo Salgado resolveu envolver o Presidente da República, o primeiro-ministro e o vice-primeiro-ministro na suspeita e obscura falência do banco e do grupo Espírito Santo; e numa carta 
à comissão parlamentar de inquérito anunciou que tinha falado com os três muito antes do desastre se consumar» («Voto de não-confiança», Vasco Pulido Valente, Público, 1.02.2015, p. 56).

      Inspire, expire, conte até três, descontraia: «muito antes de o desastre se consumar». Bom domingo.

 

[Texto 5516]