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Linguagista

Transliteração: «Βαρουφάκης»

Ponha aspas nisso

 

      «O PS, ou, pelo menos, parte do PS, não se deixou levar pelo melodrama que Tsipras e Varoufakis decidiram representar para deleite do radicalismo e grande embaraço da “Europa”. Não ganharam nada com isso e voltaram para casa com declarações tonitruantes. Tsipras declarou que a Grécia não recebia “ordens” e Varoufakis que o nazismo puro e duro lhes podia muito bem suceder. Acabou assim o primeiro acto da peça. O segundo não vai ser tão fácil» («É estranho, não é?», Vasco Pulido Valente, Público, 7.02.2015, p. 48).

      Vasco Pulido Valente, preocupado com a falta da gravata, segue o rebanho, pois claro. Acha então que a melhor transliteração do nome grego Βαρουφάκης é «Varoufakis»? É — mas não para português!

 

[Texto 5536]

Léxico: «papalino»

Título papal

 

      Fala-se aqui no «papalino Marquês de Faria». Desconhecia este termo. Papalino porque o título foi concedido a António de Portugal de Faria (1868-1937) por breve de Leão XIII. Como adjectivo, papalino é sinónimo de papal; como substantivo, significa soldado da extinta Guarda Pontíficia. Ainda como adjectivo, alguns dicionários registam também o «barbarismo» bom para ser papa. O marquês de Faria talvez o fosse, pelo menos teria grande conhecimento do meio, camareiro secreto de capa e espada de Pio X (1835-1914), Bento XV (1854-1922) e Pio XI (1857-1939) como foi.

 

[Texto 5535]

Canal Inglês...

De tudo se vê

 

      E noutro artigo, mas não traduzido, leio: «Partimos no dia 27 de Dezembro de 2014 em direcção a Dôver, de onde deveríamos atravessar o canal Inglês para Calais.» Até podia ser de alguém que acha ridículo que o canal de la Manche dos Franceses se tenha tornado canal da Mancha. Mas é claro que não foi nada disso. Interessam é os nomes que estão consagrados entre nós, não precisamos de muletas estrangeiras. Mas já esta semana vi uma Padova...

 

[Texto 5534]

Ai os topónimos...

De qualquer maneira

 

      Num artigo traduzido, leio isto: «a polícia belga sequestrou um pacote suspeito contendo 6634 quilates que tinham sido enviados, através de Kinshasa e depois do Dubai, a uma sociedade com sede em Anversa chamada Kardiam». Já tinha tratado desta questão no Assim Mesmo, mas claro que o tradutor não o leu, pelo que deixo aqui um excerto: «Num mapa-múndi — “infografia Impala”, atenção! — publicado na revista Focus (n.º 335, 15 a 21 de Março de 2006, pp. 108-109), a ilustrar o artigo “Caça aos portos do Ocidente”, pode ler-se “Shangai” e “Amberes”. O primeiro, “Sanghai”, todos perceberão de que cidade se trata, embora em português se deva escrever Xangai. Sim, porque se nos querem impingir esta mexurufada meio inglesa meio portuguesa prefiro revistas em inglês, de longe melhores. Quanto a “Amberes”, o melhor é esquecer qualquer tentativa de desculpar a jornalista, Carla Jesus. Amberes em espanhol; Antwerp em inglês; Antwerpen em holandês, finlandês, alemão, norueguês e sueco; Anvers em francês; Anversa em italiano — mas Antuérpia em português!»

 

[Texto 5533]

Língua mutilada

Dantes latinas, hoje inglesas

 

    E por falar em mutilado, ali no texto sobre o fanado. Escreve Francisco Rodrigues Lobo na obra Corte na Aldeia: «Tenho raiva, sabendo que a língua portuguesa não é manca nem aleijada, ver que a fazem andar em muletas latinas os que a haviam de tratar melhor.»

 

[Texto 5532]

Regência verbal: «dignar-se»

Não há terceira

 

      Acabam de me perguntar qual a regência do verbo «dignar-se». É dupla (a terceira — e talvez mais usada —, com a preposição a, é errónea): dignar-se fazer algo e dignar-se de fazer algo. Lembra Botelho de Amaral nos Estudos Vernáculos: «Usa Castilho a regência de saibo clássico dignar-se de, que se vai olvidando injustamente.»

 

[Texto 5531]

Língua mamada

Lição hoje muito esquecida

 

    Samuel Usque (século XVI), na Comsolaçam às tribulaçoens de Israel: «Desconveniente era fugir da lingua que mamey e buscar outra prestada para falar aos meus naturais.»


 

[Texto 5530]