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Linguagista

Léxico: «Venatória»

Milhares, as esquecidas

 

      «E a coisa chegou a termos de pedirem à Venatória para organizar uma batida. A Venatória concordou e eles vão fazê-la para a semana que vem. Se o Júpiter fosse solteiro, ia lá buscá-lo e escondia-o até que passasse o perigo» (Contos e Novelas, vol. 5, Domingos Monteiro. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003, 4.ª ed., p. 259).

  Ora vejam: para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, venatória é apenas o feminino do adjectivo «venatório», «que diz respeito à caça, cinegético». Precisamos de melhores dicionários.

 

[Texto 5563]

Ortografia: «solidéu»

Nada de trovoada

 

      No noticiário das 11 da manhã na Antena 1, ouvi a repórter Rosário Lira, enviada especial ao Vaticano, dizer que D. Manuel Clemente estava a «receber o solideu, o barrete cardinalício e o anel». Errado: é solidéu. Está nos dicionários, toda a gente já ouviu. Ao contrário, por exemplo, do topónimo Trevões (terra do Palito, que enganou até que quis a «melhor polícia do mundo»), que se pronuncia «Trêvões», não requer um conhecimento próximo.

 

[Texto 5562]

Léxico: «manquelitar»

Temos escolha

 

      «A diferença entre ti e o Robles é que ele dá as caras para a História que o há-de condenar ou louvar e tu te vais esconder num cú [sic] de Posto de Socorros a fazer Psico como um agiota moral a garantir uns tantos por cento ao século de dignidade. E afastou-se manquelitando. Saiu dali e telefonou à Célia» (Henda Xala, Abílio Teixeira Mendes. Lisboa: Ulmeiro, 1984, p. 27).

    Mancar, manquitar, manquelitar (que eu não conhecia), e ainda gabam outras línguas pela sua riqueza... Os últimos dois são frequentativos do primeiro? Mais do que isso: «Os verbos cujo lexema é acrescido de um sufixo diminutivo, [sic] têm geralmente uma conotação afetiva: escrevinhar, cuspinhar, cuspilhar, tossicar, manquitar, espumitar, mordiscar, etc.» (Introdução à Estilística, Nilce Sant’Anna Martins. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008, 4.ª ed., p. 150).

 

[Texto 5561]

«Farinha centeia»

Já são três

 

      Falei de farinha triga e de farinha milha, mas esqueci-me de outra, e por isso um leitor escreveu-me: «Uns meses atrás ouvi uma vizinha na aldeia queixar-se que é difícil arranjar farinha centeia, mas ainda vai havendo.»

      «Ele era mau e tinha-os à jorna de sol-a-sol [sic] sem outra paga que uma pouca de farinha centeia para o pão, uns ovos, uma pinga de vinho e meia dúzia de pés de couve, que nem as batatas tinham ainda os navegadores trazido das Américas» (O Prenúncio das Águas, Rosa Lobato de Faria. Porto: Edições Asa, 1999, p. 129).

 

[Texto 5560]